Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Investimentos agitam mercado editorial

A chegada de mais um jornal de economia e a perspectiva de novos investimentos em conteúdo do portal iG estão movimentando o mercado editorial brasileiro. O jornal batizado de Brasil Econômico deve começar a circular na segunda quinzena de outubro. Tem como investidor o grupo familiar português liderado pelo empresário Nuno Vasconcelos, presidente da holding Ongoing Strategy Investments, e será presidido pelo executivo José Mascarenhas. Já no iG, que pertence à empresa de telecomunicações Oi, há pouca disposição de se falar sobre o projeto. A empresa confirma apenas que está investindo e contratando vários profissionais do meio jornalístico.

O volume de recursos financeiros que envolvem os dois negócios ainda não é conhecido e sequer estimado por consultores e profissionais do meio. No caso do Brasil Econômico, Mascarenhas, um brasileiro com forte sotaque luso, informa apenas que há disposição e capacidade para bancar o novo jornal, que começa multiplataforma – terá, além das 48 páginas em papel de cor salmão e formato tabloide, versões online e adaptadas para celulares.

Na área de mídia, o Ongoing é dono do Diário Económico, principal jornal de economia de Portugal, que foi adquirido em junho de 2008 por 27,5 milhões de euros. Tem participação no semanário Expansão, que circula em Angola, e em emissoras de televisão em Portugal. Fora isso, o maior acionista, Nuno Vasconcelos, por meio de fundos de investimentos, mantém participações expressivas em outros negócios, como a Portugal Telecom e o Banco Espírito Santo.

Com a entrada no mercado editorial brasileiro, o grupo pretende ocupar o lugar do jornal especializado em economia Gazeta Mercantil, que deixou de circular em maio, e vai concorrer com o outro veículo da área, o Valor Econômico. Pelos dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC), o desaparecimento da Gazeta ainda não produziu migração de leitores. Em julho de 2008, o Valor tinha uma circulação média, de segunda a sexta, de 57,9 mil exemplares, enquanto a Gazeta detinha 78,9 mil exemplares. Em julho deste ano, o Valor, mesmo sem o maior concorrente, perdeu leitores, registrando uma média semanal 56,9 mil exemplares.

O diretor editorial do Brasil Econômico, jornalista Ricardo Galuppo, assim como o diretor comercial, o publicitário Heitor Pontes, que comandam uma equipe de 80 profissionais, dizem que têm encontrado entusiasmo e boa aceitação na apresentação da proposta. ‘Há espaço no mercado para mais um veículo especializado em assuntos econômicos’, diz Galuppo. ‘É um jornal que já estreia multiplataforma e que vai circular aos sábados, o que a concorrência não faz’, acrescenta Pontes.

A exigência da lei brasileira no segmento, que requer que 70% do capital de empresas de comunicação estejam nas mãos de brasileiros natos, foi atendida, segundo Galuppo, pelo fato de Nuno Vasconcellos ser casado com uma brasileira. Mesmo assim, ainda está em estudo um acordo editorial que envolveria sócios brasileiros na operação.

Reforço online

No universo de disputas pela audiência dos portais na internet, não há dúvidas entre os concorrentes que o jogo esquentou. Há especulações até de que a gigante Microsoft, cujo portal MSN mostra-se bastante rentável nos Estados Unidos, esteja de olho no mercado brasileiro. Por isso mesmo, segundo um executivo da área que preferiu não se identificar, a movimentação da Oi para dar um novo impulso ao iG – que passou a controlar depois da compra da Brasil Telecom –, faz todo o sentido.

‘É um mercado que fica cada vez mais competitivo e tem gigantes globais na disputa, além da Microsoft, há o Google, a Telefónica e no Brasil a Globo’, diz ele. ‘O iG não vinha fazendo nada já há algum tempo e precisava de uma investida para se posicionar melhor no fornecimento de conteúdo, caso contrário poderia perder a atual posição para outros competidores.’ Pelo ranking de audiência dos sites do instituto Ibope, referente ao mês de agosto, o UOL segue na liderança, com 27 milhões de usuários únicos, seguido pelo iG, com 24 milhões.

Procurada pela reportagem para falar sobre os investimentos em conteúdo no iG, a Oi enviou o seguinte comunicado: ‘O iG esclarece que, acompanhando a perspectiva de forte expansão do mercado de internet, o portal periodicamente reforça e oxigena sua equipe de geração de conteúdo. Neste contexto, o iG está sempre buscando atrair profissionais de prestígio e comprovada experiência de forma a garantir melhoria constante de seu conteúdo.’

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Jornalista