Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Isso é jornalismo?

A dúvida sobre a atividade da Mídia Ninja ser ou não jornalismo chamou minha atenção no programa Roda Viva (5/8, ver aqui), em um dos debates mais importantes sobre a imprensa brasileira dos últimos anos. A mesma desconfiança aconteceu com o WikiLeaks quando este grupo surgiu no cenário midiático mundial. Jornalistas daqui e de fora tediosamente debruçavam-se sobre a questão: “WikiLeaks é jornalismo ou não?” “Isso é ou não é jornalismo?” A pergunta é reveladora da posição conservadora da mídia e da reação refratária de grande parte da imprensa histórica diante da inovação radical dentro do universo do jornalismo contemporâneo. Dentro e fora do Brasil.

A Mídia Ninja, com todos os vínculos que tem com a contracultura, pode ser entendida como uma start-up alternativa da imprensa independente pós-industrial. A expressão “jornalismo pós-industrial” foi criada em 2001 pelo jornalista, blogueiro e acadêmico David “Doc” Searls para definir o jornalismo que não mais orbita “ao redor de normas de proximidade com o maquinário de produção da indústria da imprensa”. A definição é bem apropriada para o trabalho dos ninjas, que fazem jornalismo a despeito do descrédito de alguns e da indisfarçável má vontade de outros jornalistas. E agem como vigilantes na entrada que dá acesso à produção e difusão da informação.

Profissionais atônitos

O jornalismo tradicional contemporâneo tem tido dificuldade em aceitar qualquer inovação que possa perturbar a posição estabelecida na sociedade pelos profissionais da imprensa. Alguns profissionais parecem agora engessados na moldura rígida de uma atividade que tem revelado problemas em lidar com qualquer tipo de disrupção da prática tradicional estabelecida através da História.

A crise do jornalismo industrial que conhecemos é também a crise do ser jornalista. Porque ficou difícil em nossos tempos definir com precisão o que são as novas formas de produzir notícias, que parecem vir do futuro a um presente pleno de profissionais atônitos e mal preparados para interpretar, com a exatidão necessária, o que é o jornalismo desta nova era das notícias e identificar quem são os novos atores e os novos jornalistas do século 21.

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Sergio da Motta e Albuquerque é mestre em Planejamento urbano, consultor e tradutor