Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornais vivem bom momento apesar de guerra com governo

A campanha do governo argentino contra a imprensa opositora, sobretudo os jornais Clarín e La Nación, ainda não surtiu o efeito desejado por parte dos integrantes da Casa Rosada. A guerra declarada pela administração de Cristina Kirchner não impediu a expansão dos dois maiores veículos do país: um teve circulação recorde, o outro aumentou o faturamento. Ou, ironicamente, a atitude de confrontação do governo teve um efeito contrário, contribuindo para o crescimento dos diários, como disse à Folha um colunista do Clarín que pediu para não ser identificado.

No último domingo (13/11), La Nación, o segundo em circulação na Argentina, bateu recorde de vendas: 348 mil exemplares, feito inédito em 141 anos de história. Jornal de direita e histórico aliado da oligarquia argentina, La Nación foi o primeiro veículo a se posicionar contra o kirchnerismo, logo em 2003, quando Néstor Kirchner foi eleito. Desde então a linha editorial se mantém.

A situação foi diferente com o Grupo Clarín, o maior conglomerado de mídia da Argentina. Aliado do kirchnerismo até 2008, hoje é o principal inimigo. Apesar de o diário Clarín, jornal mais vendido do país, com média de 580 mil exemplares aos domingos, ter perdido leitores nos últimos dois anos, o grupo – que controla também jornais no interior, TVs, gráficas, serviços de internet e TV a cabo e até livraria – aumentou o faturamento em 27%, comparando o primeiro semestre de 2011 com o mesmo período de 2010. “A disputa com o governo teve impacto e é um dos fatores para explicar esses resultados, mas não é só isso. La Nación tem uma estratégia de fidelização dos leitores, com promoções em restaurantes, que têm dado certo. O Clarín, que diminuiu sua circulação, foi beneficiado pelo bom momento publicitário”, disse à Folha Daniel Dessein, presidente da Adepa (Associação de Entidades Jornalísticas Argentinas).

Pluralidade de opiniões

Iniciado em 2008 após a crise do governo de Cristina Kirchner com os produtores do campo, o conflito com a imprensa atingiu seu auge no ano seguinte, quando o Executivo aprovou no Congresso uma lei que regula o setor de rádio e TV, limitando a participação de empresas privadas nesses mercados.

O principal afetado pela legislação é o Grupo Clarín, que teria que se desfazer de parte de suas empresas. O governo argentino nega a perseguição e diz que a mudança na legislação tem o objetivo de desconcentrar o mercado e incentivar a pluralidade de opiniões.

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[Lucas Ferraz é correspondente da Folha de S.Paulo em Buenos Aires]