Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornal sobre rodas

Um projeto diferente vai mostrar forma inusitada de jornalismo. A Rede Globo aposta suas fichas no Priscillão – ônibus que será usado pela caravana do Jornal Nacional durante uma viagem de dois meses pelo interior do país. As notícias sobre rodas serão ancoradas por Fátima Bernardes, William Bonner e Pedro Bial.

O propósito da aventura é acompanhar a repercussão das eleições 2006, de 31 de julho a 30 de setembro. O casal que já virou símbolo do noticiário vai revezar a apresentação do telejornal a cada quinze dias, toda segunda-feira. Já Pedro Bial terá as reportagens da série ‘Desejos do Brasil’ como prioridade.

A motorhome apelidada de Priscillão, em referência ao ônibus que estrela o filme ‘Priscila, a Rainha do Deserto’, vai percorrer as cinco regiões do país, embora o roteiro ainda não tenha sido divulgado. Mas, já se garantiu que as cidades escolhidas terão alguma importância para o Brasil, embora não sejam capitais.

O objetivo da cobertura – o de mostrar um Brasil que se esconde, ou que é retratado somente de maneira irregular – é louvável. Mas será que as reportagens conseguirão manter a isenção de intenções eleitorais? Até que ponto o público entrevistado não estará sujeito a influências deste ou daquele candidato?

Imagem e juízo

Em declaração durante o lançamento do Priscillão, Bonner disse que não se pretendia divulgar municípios – para que não houvesse nenhum tipo de oportunismo eleitoral ou maquiagem da cidade. Ainda assim, em que critérios se basearão as escolhas de lugares e entrevistados? Como delimitar quais os lugares que podem representar os anseios da população? O JN parece tomar para si o dever de mostrar ao Brasil o que ele próprio deseja e espera de seu próximo presidente.

Por outro lado, não é difícil entender porque o Jornal Nacional arca com tamanha responsabilidade. Com um alcance de 99,9% no país, reina absoluto no que diz respeito à abrangência de lares informados pelo programa no horário nobre. Mesmo com a diluição dos jornalistas globais em emissoras concorrentes, ainda não há um jornal que se iguale ou chegue perto do JN como um dos mais assistidos.

Os aspectos que poderiam favorecer a Globo acabam por incitar uma cobrança ainda maior dos conteúdos jornalísticos vinculados na emissora. Agravante que aumenta com a chegada das eleições.

Todo veículo de comunicação pertence a uma empresa, cujos rumos e interesses variam de acordo com seu dono. Não é diferente com a Rede Globo, conseqüentemente, com o Jornal Nacional.

As matérias trabalhadas durante a série de Pedro Bial irão refletir o que pensa e espera o povo brasileiro dos presidenciáveis. Ora, as entrevistas podem favorecer ou prejudicar um candidato, dependendo do enfoque.

Por exemplo, ao se insistir que determinada região possui um maior número de insatisfações relacionadas à área de saúde, ou qualquer outra especificação, pode-se sugerir que a administração daquele setor não foi realizada corretamente. E, se isso for competência de algum pretendente a governante brasileiro, a associação é imediata. O mesmo pode ocorrer em uma situação em que sejam feitos elogios demasiados.

Portanto, embora não se utilize de acusações diretas, a opinião está inserida, não há como fugir. Resta saber como o Jornal Nacional vai se valer da imagem e juízo da população brasileira para cobrir as eleições 2006. Tomara que seja uma viagem agradável.

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Estudante do 7º semestre de jornalismo da Universidade de Brasília