Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornalistas africanos cobrem julgamento em Haia

Em um continente onde a impunidade reinou por gerações de ditadores, Charles Taylor, ex-líder da Libéria que, em troca de diamantes, teria financiado e controlado os rebeldes da Frente Unida Revolucionária em Serra Leoa, é o primeiro chefe de Estado africano levado a tribunal por seus crimes. Como Taylor tem muitos seguidores, especialmente na Libéria, houve preocupações de que, se o julgamento fosse realizado em Serra Leoa, a região poderia ficar desestabilizada. Por esta razão, o tribunal foi transferido para Haia, na Holanda, noticia Jon Silverman [The Guardian, 13/8/07].


Quando um problema foi resolvido, outro foi criado. A experiência com o processo do ex-líder da Iugoslávia Slobodan Milosevic, também em Haia, mostrou que a desvantagem de se realizar um julgamento longe da região onde os crimes foram cometidos é que seu impacto é diluído pela distância. A solução, no caso de Taylor, seria levar a África para Haia.


A Fundação do Serviço Mundial da BBC lançou então um projeto para recrutar e treinar seis radiojornalistas – três de Serra Leoa e três da Libéria –, enviados à Holanda especialmente para cobrir o caso. ‘A mídia internacional tem recursos para cobrir o julgamento, mas não irá oferecer a cobertura profunda que deve ser fornecida à África Ocidental’, opina Jennifer Bakody, representante da Fundação. ‘Em Serra Leoa, não há estrutura para reportar regularmente para todo o mundo. Ao lançar este projeto, esperamos contribuir para a paz, o cumprimento da lei e a percepção de justiça na região’.


Cobertura delicada


É extremamente difícil cobrir um julgamento onde cada uma das 150 testemunhas não quer se identificar por medo de represália. Desmond de Silva, promotor do tribunal da ONU responsável pela prisão de Taylor, reforça a importância de uma cobertura precisa. Taylor alegou inocência, na Corte Especial de Serra Leoa, por 11 acusações de crimes de guerra e crimes contra a humanidade – entre elas assassinato, mutilações, escravidão, violência sexual e uso de crianças como soldados durante a guerra civil no país, de 1991 a 2002.


A BBC tem como parceira neste projeto a ONG americana-belga Search for Common Ground. Algumas matérias serão traduzidas em dialetos africanos e distribuídas para rádios da Libéria e Serra Leoa. Depois da primeira audiência, no começo de junho, o processo foi suspenso por três semanas, sendo retomado no final daquele mês, com o depoimento dos primeiros especialistas.