Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornalistas se demitem ante pressões do governo

Oito jornalistas pediram demissão da agência de notícias Russian News Service (RNS) em protesto contra a decisão da direção pró-Kremlin de estipular que metade da cobertura jornalística deve ser ‘positiva’ ao governo. A nova política da agência, que fornece material para a mais popular estação de rádio do país, assusta analistas de mídia, que vêem mais uma vitória nos esforços do presidente Vladimir Putin em controlar os veículos de comunicação nacionais.

A Rússia tem eleições parlamentares marcadas para dezembro, eleições presidenciais para março de 2008, e nunca a influência do governo sobre a mídia parece ter sido tão significativa desde o fim da era soviética. Programas nos principais canais de TV russos são cada vez mais escassos e menos críticos ao Kremlin. O Estado dirige uma das três maiores emissoras televisivas e tem participação acionária em outra, além de ser proprietário de duas das maiores estações de rádio. A NTV, terceira maior rede de TV do país e conhecida pela cobertura independente sobre a guerra na Chechênia e pelo tom crítico ao governo russo, foi comprada pelo grupo de gás natural Gazprom, por sua vez controlado pelo Estado. O grupo comprou também o jornal Izvestia.

Política pró-Rússia

Artyom Khan está entre os oito jornalistas que entregaram seus pedidos de demissão desde que a nova administração chegou à Russian News Service. A agência possui sua própria estação de rádio e fornece conteúdo para várias outras – incluindo a Russian Radio, que conta com audiência diária de 7,4 milhões de ouvintes.

Khan contou à Associated Press que seus editores reclamaram da cobertura feita por ele sobre protestos pró-Kremlin do lado de fora da embaixada da Estônia em Moscou. Eles disseram que a matéria entregue pelo jornalista tinha um ‘tom pró-Estônia’ e não era profissional. O protesto ocorreu após a decisão da Estônia de transferir um memorial de guerra soviético do centro da capital para um cemitério. ‘Eu não posso dizer que a nova política [da agência] é anti-Ocidente ou anti-EUA, mas ela é claramente pró-Rússia’, afirmou o jornalista, lembrando que outras reportagens suas foram vetadas pela direção da RNS no último mês.

‘As pessoas estão saindo [da agência] porque não há chance de se trabalhar profissionalmente lá’, afirmou Mikhail Baklanov, editor-chefe da Russian News Service demitido em abril pela nova administração. ‘[Os repórteres] não estão conseguindo fazer o que jornalistas fazem. […] Notícias negativas não devem ultrapassar 50% da cobertura’.

Medida desesperada

Elsa Vidal, diretora da organização Repórteres Sem Fronteiras especialista em Rússia, afirmou que os pedidos de demissão são um sinal positivo de que jornalistas locais estão dispostos a se unir para resistir às pressões governamentais. ‘É uma medida desesperada, mas uma boa medida porque os jornalistas poderiam ter apenas aceitado a nova regra’, lembra.

A Russian Media Group, companhia proprietária da RNS, não comentou as demissões. Segundo o jornal Kommersant, o diretor-geral da agência, Vsevolod Neroznak, teria dito que a saída dos repórteres era algo normal, já que a empresa está sendo reestruturada. Informações de Jim Heintz [AP, 19/5/07].

Sindicato recebe ordem de despejo

O Sindicato dos Jornalistas Russos recebeu ordem de despejo de seus escritórios em um edifício controlado pelo Estado. O objetivo é colocar no lugar um canal de TV por satélite em língua inglesa considerado uma espécie de ferramenta de propaganda do governo. Segundo o Sindicato, a ordem, datada de 18/4, foi recebida apenas na semana passada.

Em declaração, o Sindicato protestou da decisão. A agência do governo ‘está jogando na rua uma organização com 90 anos de história, com mais de 100 mil jornalistas e que faz uma contribuição definitiva para a construção de uma sociedade democrática’.

Em protesto contra a ação de despejo, o diretor-executivo da organização Comitê para a Proteção dos Jornalistas, Joel Simon, pediu que o governo russo pare de incomodar os jornalistas do país e permita que eles façam seu trabalho livremente. Informações de Jim Heintz [AP, 19/5/07].