Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Liberdade de dissidente político dura pouco

Autoridades judiciais do Irã intimaram o dissidente político Akbar Ganji, principal jornalista investigativo do país, a voltar para a prisão de Evin, em Teerã, onde ficou por seis anos. Ganji recebeu liberdade condicional para o ano novo iraniano no dia 18/3 e, segundo seus advogados, sua sentença terminaria oficialmente no dia 30/3. Para eles, Ganji não voltaria à prisão.


O vice-promotor-geral de assuntos penitenciários Mahmoud Salarkia afirmou, entretanto, que o jornalista deveria ter retornado à prisão no dia 25/3. Segundo ele, Ganji foi liberado por apenas uma semana, para celebrar o ano novo iraniano. O jornalista se recusou a obedecer à intimação dos procuradores que o condenaram à prisão.


Ganji ainda não foi condenado por crimes adicionais contra o Estado e, como o tempo que falta para cumprir sua sentença é insignificante, o regime ameaçou apresentar novas acusações contra ele perante a corte.


Conferência e livro


O jornalista foi preso em abril de 2000 por participar de uma conferência em Berlim sobre o movimento reformista no Irã e por ter publicado um livro onde acusava autoridades do primeiro escalão do regime de estarem relacionadas com assassinatos de escritores e intelectuais dissidentes, em 1998. Sua prisão estaria relacionada ao desejo destas autoridades em minar o movimento liberal de oposição do qual o jornalista se tornou um líder.


Leal ao aiatolá Khomeinei no passado, Ganji corajosamente rompeu laços com seus antigos colegas e, em uma série de cartas públicas enviadas da prisão, em 2005, pediu ao líder supremo do Irã para renunciar ou então se candidatar para ser eleito através de uma votação democrática.


Símbolo de resistência


No Irã, sua causa reuniu apoio de movimentos estudantis e minorias étnicas, como os curdos iranianos, que divulgaram declarações de solidariedade à greve de fome feita em julho e agosto do ano passado. No exterior, Ganji teve o apoio do presidente americano George W. Bush, de líderes da União Européia, do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e de intelectuais de direita e esquerda.


Embora tenha ficado em prisão solitária, tenha sido violentado e não tenha tido contato com sua família, Ganji não se deixou abater. ‘Minhas opiniões não mudaram. A prisão e a pressão sofrida por mim nunca me forçaram a mudá-las. Hoje, estou ainda mais determinado a dizer o que disse há seis anos’, contou o jornalista a repórteres ocidentais e iranianos em uma festa um dia após sua libertação.


Novas acusações


Pessoas que apóiam Ganji afirmaram nesta terça-feira (4/4) que ele provavelmente enfrentaria novas acusações e que certamente não deveria deixar o país. ‘Ele é um herói e tem muitas pessoas o apoiando. Baseado no meu conhecimento da personalidade de Ganji e na sua posição política transparente, eu duvido que ele deixe o Irã’, opinou Ali Afshari, ex-membro do comitê executivo Tahkim Vahdat, a maior organização estudantil do país.


O ativista de direitos humanos Ramin Ahmedi acredita que a atitude de Ganji de não obedecer à intimação para voltar à prisão pode fortalecer o movimento dos ativistas em defesa dos direitos civis no Irã. ‘Isto é parte de sua desobediência civil. Mas ele mostrou que quer pagar o preço. Acredito que, ao se recusar a ir, ele transmite uma mensagem ao povo’, disse. ‘Ele se tornou um líder muito popular entre os ativistas’. Informações de Eli Lake [The New York Sun, 5/4/06].