Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Livraria virtual lança ‘iPod’ para livros

Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 20 de novembro de 2007


VENEZUELA
O Estado de S. Paulo


A resistência a Chávez


‘Quando mandou o ministro do Interior comunicar que o governo venezuelano não autorizará a realização de manifestações de rua – leia-se, de estudantes contrários à Constituição liberticida que a Assembléia acaba de aprovar, ad referendum do eleitorado venezuelano – que possam degenerar em violência, o caudilho Hugo Chávez nada mais fez que manipular grosseiramente os fatos, como é seu costume. Há cerca de um mês ele vinha tolerando passeatas de estudantes para pressionar o governo a adiar, por pelo menos dois meses, o referendo, marcado para 2 de dezembro, que decidirá o futuro constitucional do país.


Acontece que o movimento liderado pelos universitários assumiu proporções que assustaram Chávez. E assim os estudantes, que antes ele chamava de ‘filhinhos de papai’, passaram a ser ‘lacaios do império’, ‘fascistas’ e ‘traidores’. Pior que isso, as milícias bolivarianas – que são disciplinadas e obedientes – passaram a agredir os estudantes e a invadir campus universitários. Houve casos em que os milicianos atacaram os estudantes protegidos pelos escudos da tropa de choque que deveria manter a ordem. Em pelo menos três ocasiões manifestantes foram feridos a tiros – e um dos pistoleiros, fotografado com a arma na mão, era um deputado chavista.


Se Hugo Chávez estivesse preocupado com a ordem pública, refrearia os seus violentos seguidores. Mas o fato é que os ‘filhinhos de papai’ se organizaram e estão mobilizando a opinião pública contra a Constituição que ‘legitimará’ a ditadura perpétua do coronel golpista. O movimento surgiu espontaneamente na Universidade Central, a maior do país, e logo se espalhou pelas outras universidades de Caracas e das principais cidades da Venezuela. Não está vinculado aos partidos carcomidos que infelicitaram o país e, como diz um dirigente estudantil, ‘somos um movimento sem ideologia de esquerda ou direita; nos unimos pelos direitos humanos’.


Mas os estudantes não estão sós nem o chavismo é um bloco monolítico. Oito parlamentares do Partido pela Democracia Social (Podemos) tornaram-se, durante o processo de aprovação da Constituição, uma pedra no sapato de Chávez. Numericamente, eles quase nada são numa Assembléia formada por 179 parlamentares – todos integrantes do chavismo, já que as oposições não concorreram nas eleições de 2005. Mas eles se tornaram um símbolo da resistência aos golpes de Chávez desde que se recusaram a dissolver o Podemos para se integrar no Partido Socialista Unido da Venezuela, que o caudilho criou. A partir daí passaram a ser tratados como ‘traidores’. E, quando se colocaram contra a nova Constituição liberticida de Hugo Chávez, descobriram que, na Venezuela do caudilho, a dissidência é tratada como se delito fosse. Esse pequeno grupo enfrentou o rolo compressor ditatorial e usou a tribuna parlamentar para denunciar o abuso – e, com isso, conquistou o respeito de parcela ponderável da opinião pública.


Outra respeitada voz que se ergue contra o estupro constitucional é a do general Raúl Baduel, ministro da Defesa de Chávez até julho passado, que deixou o governo por não concordar com o novo golpe do coronel. Foi ele quem garantiu a volta ao poder de Chávez, em 2002, quando um golpe o apeou da presidência. Hoje, Baduel usa o mesmo argumento de cinco anos atrás: repúdio a qualquer tipo de golpe de Estado – e é assim que classifica a mudança constitucional ‘fraudulenta’ patrocinada por Chávez.


Baduel tem exortado publicamente o povo venezuelano a rejeitar, por meios democráticos, a imposição da ditadura constitucional de Chávez. Os eleitores, diz ele, não podem aprovar uma constituição que acaba com os direitos de livre escolha de seus governantes e de propriedade. Mas a resistência só será vitoriosa, adverte, se os líderes dos diferentes movimentos de oposição se unirem em torno do objetivo comum: rejeitar a Constituição no referendo.


Pesquisas de opinião mostram que 70% da população se opõe à nova constituição. Mas a parcela majoritária está dividida ao meio, entre os que querem votar não e os que querem se abster. Há dois anos, a tese da abstenção prevaleceu e Chávez passou a controlar uma Assembléia democraticamente eleita, com as conseqüências conhecidas. Se em dezembro os venezuelanos voltarem a se omitir, estarão abdicando expressamente de suas liberdades.’


 


TECNOLOGIA
Márcia De Chiara


De carona na TV digital, Semp Toshiba volta a fabricar celulares


‘A Semp Toshiba aproveita a chegada da TV digital e investe perto US$ 50 milhões numa fábrica de celulares na Zona Franca de Manaus (AM). Após quase 15 anos afastada da produção de celulares, a companhia, que é uma joint venture entre a brasileira Semp (60%) e a japonesa Toshiba (40%), decidiu voltar para o mercado.


‘Um dos subprodutos mais importantes da TV digital é a televisão no celular’, afirma o presidente do Grupo, Afonso Antônio Hennel. Ele observa que, como o padrão da TV digital brasileira é baseado no modelo japonês e essa tecnologia é dominada pela Toshiba, o caminho para atingir a mobilidade na TV digital está aberto.


Hennel conta que em 1993, a companhia desistiu de produzir celular porque optou por centrar esforços na área de entretenimento, isto é, na produção de aparelhos de áudio e vídeo. Agora, com a convergência tecnológica e o início das transmissões da TV digital no dia 2 de dezembro, na Grande São Paulo, a fabricação de celular ganha importância. ‘Somos líderes na produção de TVs e queremos ficar em pé de igualdade com os concorrentes’, diz Hennel.


Jairo Siwek, diretor da área de celulares da companhia, diz que entre seis e nove tipos diferentes de celulares estarão à venda no mercado no primeiro trimestre do ano que vem. Nesse grupo, estão incluídos desde os modelos mais simples até os sofisticados, como o celular que capta os sinais da TV digital e o smart fone, que desempenha funções de computador, isto é, permite acesso à caixa de e-mails e baixar programas da internet. ‘Vamos usar a tecnologia GSM e 3G e trabalhar com todas as operadoras de celular.’


Como já ocorre no segmento de computadores da companhia, os celulares, dependendo do modelo, sairão da fábrica com uma das duas marcas da empresa. A marca Toshiba será usada os celulares mais sofisticados e a a marca STI para os demais. Sem revelar expectativas de faturamento, Siwek diz que a meta da companhia é conquistar 10% do mercado interno de celulares em três anos e, numa segunda etapa, exportá-los para os vizinhos.


A empresa apresentou ontem dois modelos de conversores para TV digital que estarão disponíveis no varejo de São Paulo a partir da segunda-feira. Um dos modelos é recomendado para televisores de alta definição e custa R$ 1,1 mil. O outro modelo é básico e sai por R$ 800. Em ambos os casos o preço está muito acima do previsto pelo governo, que projetava R$ 200. ‘Nosso setor é competitivo e o preço reflete custos e tecnologia. O governo prometeu medidas de desoneração que não saíram’, diz Hennel. Inicialmente importados, os conversores serão fabricados em Manaus a partir de março.’


 


O Estado de S. Paulo


Varejista virtual Amazon lança ebook


‘O site de varejo Amazon.com, fundado por Jeff Bezos (foto), lançou um aparelho leitor de livros eletrônicos (ebooks) que permite o download de obras via celular. O dispositivo é a mais recente tentativa de atrair consumidores para aparelhos portáteis de leitura. O ebook custa US$ 399 e pode armazenar cerca de 200 livros, que custam US$ 10 na Amazon.’


 


Google pode ter rede de telefonia nos EUA


‘O Google estuda fazer, sozinho, uma oferta para comprar freqüências de comunicação e lançar uma rede sem fio nos Estados Unidos, segundo fontes.Conseguir uma freqüência colocaria o Google em disputa direta, nos Estados Unidos, com grandes operadoras de telefonia móvel, como a AT&T e a Verizon Wireless.’


 


CINEMA
Luiz Zanin Oricchio


Festival de Brasília, 40


‘Será um festival marcado por datas redondas – 40.ª edição e 30 anos da morte do seu fundador, o crítico Paulo Emilio Salles Gomes (1916-1977), até hoje considerado o maior pensador do cinema brasileiro. Por sorte, ou melhor, por competência e teimosia, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro poderá insistir este ano na linha de curadoria adotada há algum tempo – só aceita em concurso longas-metragens inéditos no País. Dois deles – Anabasys, de Joel Pizzini e Paloma Rocha, e Cleópatra, de Julio Bressane – foram apresentados em setembro no Festival de Veneza. No Brasil, são 0 km.


Já os outros quatro, nem no exterior foram vistos. São eles Falsa Loura, de Carlão Reichenbach (SP), Chega de Saudade, de Laís Bodansky (SP), Meu Mundo em Perigo, de José Eduardo Belmonte (DF), e Amigos de Risco, de Daniel Bandeira (PE).


Dos seis concorrentes, fazem suas estréias em longa o pernambucano e Paloma Rocha, filha de Glauber e de Helena Ignez. Já seu parceiro em Anabasys, Joel Pizzini, concorreu várias vezes com curtas-metragens e também com o longa documental 500 Almas. Belmonte apresenta seu terceiro longa, ele que já competiu em Brasília com o polêmico A Concepção. Laís concorre com seu segundo longa-metragem, e já tem um candango (o troféu do festival) de vencedora por Bicho de Sete Cabeças, com o qual ganhou o festival de 2000. Carlão é um veterano, e faturou o primeiro lugar em Brasília com Alma Corsária, em 1993. Já Bressane é chamado de ‘o senhor Brasília’ ou, como ele mesmo diz, O Amado, já que venceu o festival em três ocasiões – com Tabu (1982), Miramar (1997) e Filme de Amor (2004).


Mas antes que a competição comece a rolar, hoje à noite, na tradicional abertura no Teatro Nacional Cláudio Santoro, deverá ocorrer uma sessão histórica, com apresentação do vencedor de 1967, Proezas de Satanás na Vila do Leva-e-Traz, de Paulo Gil Soares (1935-2000). Pouca gente conhece esse filme, que nunca mais foi programado pelos cinemas, não saiu em vídeo nem em DVD.


Paulo Gil teve brilhante começo de carreira no cinema, como co-roteirista e assistente de direção de Glauber Rocha no clássico Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964). É autor do brilhante média-metragem Memórias do Cangaço (1965), integrante do projeto Brasil Verdade, de Thomaz Farkas. Depois realizou Proezas de Satanás, comédia crítica, e alusivamente política, em época de ditadura militar. Mas logo trocou a carreira cinematográfica pela televisão, sendo fundador do Globo Repórter na Rede Globo. A noite inaugural de Brasília terá assim o caráter de resgate de uma obra esquecida.’


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


NBC investe na Web


‘Frutos da internet estão realmente invadindo a TV. O mais novo passo nessa linha se chama Quaterlife, série que nasceu na Web com base em um blog. Segundo a imprensa americana, a rede NBC acaba de comprar os direitos da série e quer produzir pelo menos uma temporada do produto em 2008.


Até então Quaterlife era distribuída apenas pela internet em episódios de oito minutos cada um, no site MySpace. Na TV estreará como série dramática, com episódios de uma hora de duração.


A história principal gira em torno de um grupo de seis amigos da geração digital, com seus 20 e poucos anos de idade e plugados em uma rede social e virtual. O que importa entre eles é ser criativo, perseguir uma paixão e fazer diferença no mundo. A vida dos personagens é exposta em blogs.


Quaterlife estreou no dia 11 na Web e virou hit rapidinho nos Estados Unidos, daí o interesse da NBC pelo produto. É começo de várias iniciativas do tipo.


Por aqui, a turma do canal pago FizTV garimpa vídeos bons na Web para exibir na telinha, mas ainda não encontrou um seriado de tamanho sucesso.’


 


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 20 de novembro de 2007


TECNOLOGIA
Saul Hansen


Amazon.com lança ‘iPod’ sem fio para baixar livro e jornal


‘DO ‘NEW YORK TIMES’ – A Amazon.com introduziu ontem em Nova York seu leitor eletrônico de livros, o Kindle. À venda no site por US$ 399, o aparelho foi projetado para ser usado sem necessitar de conexão com computadores. Em lugar disso, o aparelho tem uma conexão sem fio com a internet, com a qual ele pode baixar um livro em menos de um minuto.


A Amazon está tentando fazer pelos livros o que a Apple fez pela música. Seu aparelho está estreitamente vinculado à loja online de livros que o grupo opera, da mesma forma que o iPod está vinculado ao iTunes.


A Amazon tem 90 mil títulos à venda para o Kindle, no lançamento, incluindo livros de todas as grandes editoras americanas. Best-sellers e lançamentos serão vendidos por US$ 9,99.


Isso representa economia substancial diante dos preços já baixos que a empresa oferece na compra de livros. No momento, a Amazon vende best-sellers em formato capa dura por entre US$ 13 e US$ 20 dólares, e livros de bolso por entre US$ 8 e US$ 11.


Jornais


O Kindle também poderá baixar e exibir jornais, revistas e blogs. Mas em uma era na qual a maior parte do conteúdo disponível na internet é oferecida gratuitamente, bancada por publicidade, a Amazon decidiu cobrar taxas mensais pelo acesso a essas publicações. A empresa diz que as taxas cobrirão os custos de transmissão de informações pela rede sem fio.


Os usuários do Kindle não precisarão pagar em separado por um serviço sem fio de transmissão de dados. Entre os jornais disponíveis estão o ‘New York Times’, por US$ 13,99 ao mês, e o ‘Wall Street Journal’, por US$ 9,99.


Cerca de 300 blogs estão disponíveis por entre US$ 0,99 e US$ 1,99. A Amazon dividirá as receitas com as empresas que hospedam os blogs. Os jornais são baixados automaticamente pelo aparelho a cada noite, e os blogs são baixados ao longo do dia.


O Kindle pesa 285 gramas e foi projetado para ser mantido nas mãos e em uso por períodos prolongados. A tecnologia empregada é conhecida como e-ink e foi desenvolvida originalmente pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).


O objetivo do sistema é causar menos cansaço à vista do que outras telas. Porque o sistema de tela de tinta eletrônica não requer retroiluminação, o consumo de energia é mais baixo do que o das telas de laptops. A Amazon alega que o Kindle funciona por 30 horas sem necessidade de recarga.


Como a tela é em branco e preto, a Amazon não venderá livros que requeiram ilustrações complexas para uso com o Kindle. O aparelho dispõe de um teclado que, por enquanto, serve essencialmente para fazer anotações sobre o que o usuário esteja lendo.


O aparelho tem memória suficiente para 200 livros -ou mais, com um cartão de memória opcional. A Amazon permitirá que os usuários voltem a baixar livros que já tenham comprado caso os apaguem da memória do Kindle ou percam o aparelho e o substituam.


Por outro lado, os livros adquiridos para o Kindle não podem ser dados ou emprestados a terceiros. Eles podem ser usados por diversas pessoas que compartilhem de uma mesma conta na Amazon.


A Amazon projetou o Kindle essencialmente para a leitura dos livros e periódicos que vende, mas acrescentou alguns recursos que exploram as capacidades do aparelho. Ele pode ler documentos criados em diversos formatos padronizados. É possível carregar documentos no Kindle, conectando-o a um computador ou enviando o documento por e-mail a um endereço especial que cada usuário do Kindle receberá.


O aparelho também executará arquivos de música em formato MP3, mas a Amazon não permitirá que compradores adquiram música diretamente em sua loja com o Kindle.


E o aparelho dispõe de um browser de internet rudimentar, que foi acrescentado inicialmente para oferecer acesso fácil à Wikipedia, mas que também permite acesso a qualquer outro site, exibindo basicamente arquivos em formato texto.


O Kindle está à venda a partir de hoje na Amazon.com. A empresa não quis informar quantas unidades pretende vender ou quaisquer outros dados financeiros sobre o produto.


Tradução de PAULO MIGLIACCI’


 


ABI – 100 ANOS
Carlos Heitor Cony


Escritores jornalistas


‘RIO DE JANEIRO – A Associação Brasileira de Imprensa iniciou as comemorações de seu centenário, e o Audálio Dantas, vice-presidente da entidade, realizou com sucesso o 1º Salão do Jornalista Escritor, no Memorial da América Latina, aí em São Paulo. De certa forma, todos os escritores se consideram jornalistas -eventualmente escrevem em jornais ou revistas, são membros de associações da classe e dos sindicatos.


O critério para estabelecer quem é escritor é fácil: basta ter um livro publicado. Para definir o jornalista é mais complicado. Delfim Netto escreve em jornais há mais de 50 anos, mas não se considera um jornalista, embora seja um colunista e articulista dos mais conhecidos e freqüentes.


Entende-se como jornalista aquele que teve vivência nas Redações, dando horário, exercendo funções que resultam no jornal do dia seguinte. Há escritores-jornalistas que colaboram na imprensa mas são incapazes de fazer a legenda de uma foto, o título em duas colunas da própria reportagem que escreveram.


Lembro o caso de um embaixador de carreira, bom romancista, excelente poeta. Em momento de vacas magras, foi ser redator de uma revista aqui no Rio. Recebeu o layout com uma foto para fazer a legenda. Num tempo pré-computador, o diagramador indicou o tamanho: 1, 42. O redator teria de fazer uma frase com uma linha de 70 batidas de máquina de escrever mais 42 batidas, num total de 112.


O escritor passou a manhã medindo com uma régua a frase que achava apropriada para servir de legenda àquela foto. No fim do dia, devolveu o layout ao diretor da redação, dizendo ser impossível fazer uma frase de um metro e 12 centímetros para identificar a foto do ex-presidente Café Filho tomando um coco pelo canudinho.’


 


CULTURA NEGRA
Marcos Nobre


A cor da consciência


‘A CONSCIÊNCIA negra é comemorada hoje em muitas cidades brasileiras. Seu significado é o de dizer que a raiz do preconceito e da discriminação está na imposição duradoura de uma cultura excludente e intolerante.


O anti-racismo tem diferentes respostas para o que deve ser a consciência negra. O fomento da cultura negra pode significar uma polarização política intransigente com a cultura dominante para se colocar em bloco como alternativa a ela. Como pode significar que a disputa é para transformar essa cultura dominante de tal maneira que ela seja obrigada a reconhecer e incluir negras e negros como protagonistas da história brasileira.


Os argumentos das duas posições são convincentes. Para combater uma cultura secular de exclusão pode ser que não haja outro caminho senão o confronto em bloco.


Como pode ser possível que haja espaço para impor o reconhecimento e a tolerância como critérios fundamentais de uma cultura compartilhada.


É uma decisão política estratégica optar por um caminho ou por outro. Em qualquer dos casos, o decisivo é a definição do que significa ser negro no Brasil. E cada posição propõe uma visão diferente do que seja a identidade negra.


O importante nessa discussão é que não se parta de definições prévias. Cabe aos próprios agentes desse processo encontrar as suas respostas e a maneira de fazê-las valer na discussão pública e na ação política.


Um instrumento importante para isso é o direito. Traduzir a consciência negra em direitos reconhecidos faz das normas jurídicas plataformas para transformações sociais. Mas, se a aprovação de novas leis é um importante começo, fazê-las valer é um processo longo e complexo. Também os tribunais são um espaço de disputa pelo sentido da lei. A aplicação de uma norma não é evidente por si mesma.


Como também não são óbvias e previsíveis as interpretações que surgirão do debate público e da disputa política.


Por isso mesmo é desejável que as leis atualmente em debate, principalmente o Estatuto da Igualdade Racial, procurem deixar o máximo possível aberta a definição da identidade negra. Quanto mais limitados os parâmetros legais, tanto mais estreitas as opções para as disputas políticas que se iniciam com a aprovação de uma lei. E tanto mais estreito o espaço para que essa identidade seja construída pelos agentes, tanto mais estreito o espaço para interpretações inovadoras e imprevistas.


Porque não apenas a consciência negra são muitas. Também o racismo a ser combatido tem sempre muitas e novas caras.’


 


TV PÚBLICA
Antônio Achilis Alves da Silva


Uma televisão da sociedade


‘NASCE A TV Pública federal no Brasil. É extremamente relevante constatar que todos os documentos legais relativos à Empresa Brasil de Comunicação refletem a Carta de Brasília, que encerra princípios debatidos durante os meses que precederam o Fórum Nacional das TVs Públicas. As discussões em grupos foram exaustivas e reuniram os protagonistas da televisão pública brasileira, acadêmicos, autoridades e especialistas.


Ali foram consolidados os parâmetros que convocam o sistema público de comunicação ao papel de política pública de inclusão informacional do cidadão, contribuindo para a sua formação crítica, para a divulgação de padrões e valores de tolerância, para o diálogo e o entretenimento, além de cooperar com os processos educacionais da sociedade brasileira.


Diversos instrumentos montam guarda para garantir que a emissora possa rejeitar as tentações e as pressões dos agentes do poder em qualquer nível, inclusive do presidente da República. O controle mais implacável se dará pela sociedade, uma vez que televisão é exposição pública.


Todos os setores poderão fiscalizar e questionar o uso que se fará da televisão pública federal e a transparência, nesse plano, é inevitável. Daí a nossa convicção de que a EBC será, de fato, uma rede da sociedade, e não do governo federal, que já dispõe de outros instrumentos (como a NBR -TV do Executivo), a exemplo dos Poderes Legislativo e Judiciário.


Ora, se a emissora será da sociedade, e não governamental, se trará impactos positivos para as demais emissoras públicas, é inconcebível levá-la ao chão da barganha política na tramitação da medida provisória de sua criação no Congresso Nacional. O xadrez político, onde se jogam trocas e pressões, precisa poupar essa idéia para que o Brasil entre no primeiro mundo da televisão pública.


É evidente que as contribuições para o aperfeiçoamento da EBC serão necessárias e nós mesmos, da Abepec, que participamos de várias etapas do processo, vamos prosseguir examinando e propondo modificações e acréscimos que julgarmos capazes de contribuir para o surgimento de uma rede independente, autônoma, plural e cidadã. Nessa fase, a nossa preocupação é a preservação da essência do projeto, para que não nasça um monstrengo descaracterizado e sem lógica.


Tive diversas oportunidades de participar das discussões sobre a elaboração do conceito da TV pública no Brasil e faço uma avaliação extremamente favorável da qualidade da arquitetura montada por meio da medida provisória que cria a EBC quando comparada com as melhores práticas do mundo. A equipe altamente qualificada que engenhou a empresa federal soube criar um modelo que haverá de ser inspirador para as TVs dos Estados e até para outros países.


O campo público de comunicação deve se situar eqüidistantemente do governos e do sistema privado, de modo a permitir que a produção cultural flua de todo e para todo o território nacional.


No caso da EBC, a garantia de que tais elevados objetivos serão atingidos é a atuação do Conselho Curador, com ampla maioria de representantes da sociedade. Seus titulares possuem garantia do exercício de seu mandato com a menor interferência possível, do qual somente serão demitidos nas hipóteses de renúncia, de decisão administrativa ou judicial transitada em julgado, de ausência injustificada a três sessões no período de um ano ou, ainda, mediante proposta de três quintos dos seus pares ao presidente da República. Como se vê, são garantias para que suas deliberações se dêem sob o pálio dos princípios e objetivos previstos para o sistema público de comunicação.


O Conselho Curador terá enormes responsabilidades e poder de fato: seus integrantes deterão o poder de sufragar votos de desconfiança aos integrantes da diretoria da empresa e poderá demiti-los.


A Empresa Brasil de Comunicação nasce com inúmeros desafios, desde justificar a substituição da Radiobrás, empresa com mais de 30 anos, criada ainda sob a perspectiva de propagação da doutrina de segurança nacional, até a consolidação de um modelo de democratização do acesso à comunicação, da pluralidade da produção cultural e da diversidade na divulgação de conteúdo. Merece a nossa confiança e o apoio do Parlamento, onde, pela significação para as TVs dos Estados, está em jogo o caráter da televisão pública brasileira.


ANTÔNIO ACHILIS ALVES DA SILVA , 58, jornalista com especialização em gestão estratégica da informação, é presidente da Abepec (Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais) e da Fundação TV Minas Cultural e Educativa.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Gisele, Jay-Z, a China


‘O dólar ‘é atingido por nova fraqueza’ e a China ‘expressa alarme’, se juntando ao ‘coro crescente contra a fraqueza da maior moeda de reservas do mundo’. Era o destaque do site do ‘Financial Times’. Um outro foi que a reunião das 20 maiores economias ‘silenciou’ sobre o assunto e o novo diretor do FMI explicou que ‘é melhor ser discreto’. No ‘Wall Street Journal’, um dos destaques dizia que a Arábia Saudita entrou agora abertamente para ‘a lista crescente de preocupação, que já inclui Gisele Bündchen e Jay-Z’.


A modelo brasileira e o rapper americano são dados como símbolos da fraqueza da moeda pelo ‘WSJ’ em coluna, mais Bloomberg, ‘Independent’ e dezenas de outros. O rapper, por causa do vídeo de ‘Blue Magic’, já no YouTube, em que celebra estar ‘conseguindo, conseguindo’ dinheiro. E é euro, gritam as imagens.


IRMÃ GÊMEA!


Um entre dezenas de posts sobre Gisele Bündchen, o blog da ‘Economist’ ironizou por ‘mais importante’ o seguinte: ‘Os novos contratos são mais atraentes em euros porque não sabemos o que vai ocorrer com o dólar’, diz a irmã gêmea da modelo.’ E o blog: ‘Isso mesmo: ela tem irmã gêmea!’.


POR AQUI, SOBE


Em destaque na Reuters Brasil e outros, ‘dólar sobe, em sessão enfraquecida’. É resultado do ‘clima tenso nos mercados internacionais’ -que por lá derruba o dólar e aqui, curiosamente, faz subir.


Talvez porque ‘no final da sessão o Banco Central voltou ao mercado, a comprar dólar’.


LULA & CRISTINA


Nos sites argentinos, fotos exuberantes de Cristina Kirchner e as declarações genéricas. No ‘Jornal Nacional’, só energia. Nada sobre a eliminação do dólar no Mercosul, em meses


‘SUPERPOTÊNCIA’


Alexei Barrionuevo, que o ‘New York Times’ transferiu da cobertura de commodities em Chicago para o Brasil, escreveu na página A3 sobre o campo Tupi. Destacou que ‘pode ser ferramenta política’ do Brasil frente a Bolívia e Venezuela, dando ‘mais peso ao esquerdismo moderado’. A ‘BusinessWeek’ deu longa reportagem na mesma linha, com o título ‘Brasil, a nova superpotência do petróleo’.


‘BLACK PRIDE’


Um dia antes do aniversário da morte de Zumbi, o ‘JN’ destacou uma chapa que concorre ao DCE da UFRS, contra as cotas para minorias na universidade, e depois deu cenas turístico-culturais de Palmares.


Já o coletivo Global Voices Online fez um apanhado da discussão sobre ‘black pride’ e o racismo no Brasil, com links para sites e blogs daqui, independentes todos. O debate é franco, inclusive quanto às cotas e a versão global de que o preconceito por aqui é somente ‘social’. Destaque para o recém-lançado Valeu Zumbi e as fotos de Iberê Thenório, postadas em grande número.’


 


TROPA DE ELITE
Folha de S. Paulo


Oficiais americanos defendem o Bope e dizem que ‘Tropa’ é filme de ficção


‘Oficiais da SWAT atribuem as cenas de tortura e de execução no longa ‘Tropa de Elite’ a ‘filmes de ficção’ e defendem policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) do Rio.


‘Atribuo isso a filmes, a Hollywood. É como cineastas muitas vezes nos retratam. Garanto que encontrará filmes americanos em que policiais torturam, não são honestos. E isso não é necessariamente verdade. Esses caras [do Bope] enfrentam uma realidade dura, são profissionais e usam técnicas que funcionam muito bem na situação deles’, afirmou Patrick O’Quinn, ex-chefe da SWAT de Beaumont, Estado americano do Texas, que afirma nunca ter estado ‘em guerra’ para avaliar a ação do Bope.


Ao ser questionado sobre uma possível analogia entre a SWAT e o Bope -feita em entrevista à Folha pelo comandante carioca, tenente-coronel Pinheiro Neto-, Christian D’Alessandro, policial da SWAT há 13 anos, respondeu que é difícil comparar, porque são atividades e regras de engajamento diferentes.


‘São procedimentos totalmente diferentes do que estamos acostumados. É como comparar jogadores de futebol com os do futebol americano. Quem são os melhores atletas?’, indagou.


D’Alessandro, porém, vê semelhanças entre as duas unidades. ‘Ambos estamos sempre treinando para nos aperfeiçoarmos, e nunca estamos satisfeitos’, disse.


Confrontado com a realidade de 961 autos de resistência (mortos em confronto com a polícia) no Rio até setembro deste ano, D’Alessandro comenta que o Rio parece ser ‘uma cidade perigosa’, mas evitou criticar as forças de segurança. ‘Quantos policiais morrem? Garanto que isso não vai para a primeira página dos jornais. É um trabalho muito difícil’, avalia Patrick O’Quinn.


O’Quinn comentou, demonstrando preocupação, a operação do Complexo do Alemão, em que morreram 19 suspeitos e um policial. ‘Seria uma ocorrência assustadora nos Estados Unidos’, disse.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Fernanda Torres terá série no ‘Fantástico’


‘Fernanda Torres é a mais nova aposta da Globo para levantar a audiência do ‘Fantástico’. Em dezembro, ela começa a gravar com Evandro Mesquita o quadro ‘Sexo Oposto’, previsto para estrear em janeiro.


A atriz está afastada da Globo desde a série ‘Os Normais’, exibida entre 2001 e 2003, sem contar uma breve participação na novela ‘Belíssima’ (2005). Nos anos 90, participou de ‘A Vida como Ela É’, produção de sucesso no ‘Fantástico’.


Segundo a Globo, ‘Sexo Oposto’ vai misturar humor com informação para discutir as diferenças entre o homem e a mulher, entre elas as hormonais, neurológicas e históricas.


Fernanda e Mesquita serão apresentadores e atores. A cada episódio, eles mostrarão o tema e viverão situações ilustrativas. Por exemplo, o tema ‘será que a mulher consegue fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo e o homem não?’ terá esquetes e pitadas de documentário.


Antes de ‘Sexo Oposto’, o ‘Fantástico’ estréia, no próximo dia 2, a série ‘Mundos Invisíveis’, a primeira do programa produzida em alta definição. A estréia coincide com o início das transmissões oficiais da TV digital em São Paulo.


Apresentada pelo físico Marcelo Gleiser e com recursos de animação, ‘Mundos Invisíveis’ promete contar a história do entendimento do que somos feitos. Serão dez capítulos sobre a origem da matéria, dos alquimistas à mecânica quântica.


DERRUBADA Com 29 pontos na Grande SP, Peru x Brasil foi, provavelmente, a menor audiência de um jogo da seleção brasileira de futebol na Globo, pelo menos nesta década. A ‘culpa’ foi do feriado prolongado. No horário, só 57% dos televisores estavam ligados. O ibope foi menor do que a estréia do Brasil na Copa América (32).


STRIPTEASE Também por ‘culpa’ do feriadão, não deu efeito no Ibope a apresentação de Flávia Alessandra, quase nua, em ‘Duas Caras’. Na sexta, a novela das oito marcou 38 pontos. No sábado, não passou de 29.


BARRACO Já o programa de Márcia Goldschmidt na Band registrou seu recorde de audiência na sexta: sete pontos.


CONSCIÊNCIA 1 O rapper MV Bill é o convidado especial do ‘Som Brasil’ que a Globo exibe em dezembro. Ele dividiu o palco com o ministro Gilberto Gil, o homenageado, para cantar ‘Haiti’.


CONSCIÊNCIA 2 No ar como Mãe Setembrina em ‘Duas Caras’, a atriz Chica Xavier esteve com a agenda lotada nos últimos dias. Recebeu uma série de homenagens pelo Dia da Consciência Negra. Passou por Salvador, Maceió, Porto Velho e São Paulo.


DISTORÇÃO A assessoria de Xuxa nega os rumores de que a apresentadora ficará careca. Esclarece que ela afirmou, ao visitar um hospital que trata crianças com câncer, que, ‘numa próxima oportunidade’, deixará que raspem seus cabelos.’


 


Lucas Neves


A casa caiu


‘Ás do diagnóstico, o infectologista Gregory House, protagonista da série que leva seu nome, desta vez falhou: não soube ler os sintomas de insatisfação de sua equipe. Agora, no início da quarta temporada (que estréia nesta quinta, às 23h, no Universal Channel), sente os efeitos colaterais: deixado a sós com sua ranhetice por Foreman, Cameron e cia., não tem a quem esculachar ou exibir seu intelecto.


Mas não há de ser por muito tempo, segundo contou David Shore, criador do programa, na entrevista telefônica a jornalistas latinos da qual a Folha participou, na semana passada.


‘Estamos fazendo uma espécie de ‘Survivor’ [reality show americano que inspirou a gincana eliminatória global ‘No Limite’] neste ano. House não é do tipo que abre um concurso, faz 40 entrevistas e contrata três pessoas. Sua linha é mais contratar 40 e demitir 37. Suas decisões a respeito de quem fica e quem sai darão dicas interessantes sobre quem ele é.’


O ‘processo seletivo’ deve se estender por oito ou nove episódios. Mas o entourage antigo do médico no hospital Princeton-Plainsboro ainda não aposentou os jalecos. ‘Eles voltarão. A surpresa para o público será a forma como se dará esse retorno’, adianta Shore.


O ‘enxugamento’ súbito de elenco não fez mal à audiência da série. Os sete primeiros episódios da nova safra registraram média de 19,1 milhões de espectadores, garantindo a ‘House’ o sexto lugar no ranking da televisão americana.


No Brasil, em sua terceira temporada, foi o terceiro seriado mais visto nos canais pagos. A Record, que exibe o segundo ano da atração na TV aberta, tem obtido sete pontos (cada ponto equivale a 54,5 mil domicílios na Grande São Paulo), bom índice para uma produção estrangeira.


Perfil contra-indicado


Arrogância, egolatria e rispidez são traços contra-indicados a qualquer protagonista que aspire à admiração do público. Dr. House não dá a mínima para isso -e, ao que parece, nem os fãs da série. ‘Ele faz sucesso, em primeiro lugar, porque está salvando vidas. Se fosse manobrista e continuasse tão grosseiro, não sairia incólume. Além de ser brilhante no que faz, é capaz de dizer coisas que todos nós gostaríamos de dizer’, diz Shore.


Por sua atuação como o médico genioso, o inglês Hugh Laurie já recebeu dois Globos de Ouro e duas indicações ao Emmy (o prêmio máximo da TV dos EUA). ‘Ele trouxe ao personagem uma carga grande de sarcasmo e grosseria, sem torná-lo hostil’, elogia o criador da série, advogado de formação que foi buscar na medicina o pano de fundo para seu primeiro hit televisivo.


‘Sei que não faz o menor sentido. É que não vejo ‘House’ como um programa médico. O coração da série é a relação do médico com as pessoas e o posicionamento dele diante de dilemas éticos. Não se trata tanto de diagnóstico ou procedimento médico quanto das decisões morais que ele tem de tomar.’


Diga à TV que fico


Com o nome em alta em Hollywood, Shore diz que não pensa em fazer a transição para o cinema. ‘A televisão é o meio em que você quer estar hoje, nos EUA, se você é um roteirista. Se estivesse fazendo um filme, o diretor reescreveria o meu script. Na TV, sou eu que digo ao diretor o que estamos buscando. O que importa hoje nos filmes é o espetáculo, o que você pode explodir. Por isso é que a televisão começou a atrair roteiristas. Além disso, esse veículo permite explorar um personagem por muitos anos, o que não acontece no cinema, onde você divide duas horas com efeitos especiais.’


A greve dos roteiristas, que há 15 dias paralisa boa parte da produção de conteúdo televisivo nos EUA (a classe pede participação nos lucros com down-load na internet e vendas de DVDs), já tem consulta marcada com House. ‘Estamos rodando o 12º episódio. É o último para o qual há script. Não irei reescrevê-lo para que sirva como encerramento da temporada, caso a greve se estenda. Por isso, espero que os produtores ofereçam logo um contrato justo’, afirma Shore.’


 


Leonardo Cruz


House é o canalha que todos amamos


‘Lá pelas tantas na quarta temporada de ‘House’, uma futura paciente explica por que decidiu procurar o médico que protagoniza a série: ‘Você é o melhor. Quebra regras. E não se importa com ninguém, exceto consigo mesmo’. A fala da personagem sintetiza não só as razões que levam doentes ao hospital de Gregory House mas também os motivos que nos fazem acompanhar este programa médico.


Esquartejemos a fala em três. ‘Você é o melhor’ resume a excelência que esperamos do protagonista -uma série totalmente centrada em um personagem, caso de ‘House’, precisa gravitar em torno de alguém único, extremamente capaz em sua área de especialização.


‘Quebra regras.’ O flerte com o crime, com a ilegalidade, sempre foi um bom elemento para atrair platéias na história do cinema e das séries de TV. House invade casas de pacientes e desrespeita o regulamento hospitalar e os códigos da medicina para provar que está certo, confirmar suas teorias e, se possível, salvar vidas.


‘Não se importa com ninguém, exceto consigo mesmo.’ A House só interessa descobrir a causa da doença de seus pacientes. A obsessão leva o médico a tratar enfermos como cobaias e assistentes como mero estímulo para solucionar problemas. Tal egoísmo latente seria repulsivo se não fosse temperado com muito sarcasmo.


House humilha colegas de trabalho, ironiza pacientes, ignora o sofrimento típico do cotidiano hospitalar -e nos faz rir com tudo isso. Um humor corrosivo, quase sádico e cheio de referências da cultura pop. Hugh Laurie entendeu desde o início que seu médico manco era o oposto dos doutores bonitões e assépticos de novelinhas como ‘Grey’s Anatomy’. Em resposta, o ator britânico construiu um protagonista que se tornou maior que a série, o canalha que todos amamos.


Avaliação: ótimo’


 


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