Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Marcelo Bartolomei

‘A temporada de estréias na TV paga começa amanhã com 19 novas séries (veja quadro ao lado), parte ancorada em fórmulas de sucesso que utilizam temas como o sobrenatural, investigações criminais e a Casa Branca.

As grandes apostas para os próximos meses são os seriados que retratam os mistérios entre a vida e a morte ou que remetem a fenômenos paranormais e ufológicos.

Com ‘Medium’, por exemplo, a atriz Patricia Arquette conquistou -como a médium Allison DuBois- o Emmy deste ano por melhor atriz em série dramática. Nos EUA, a série é sucesso de audiência e está na segunda temporada na rede NBC. ‘Ghost Whisperer’ segue a mesma linha, traz a volta de Jennifer Love Hewitt à TV, no papel de Melinda Gordon, e tem o roteiro baseado nas experiências do médium norte-americano James Van Praagh.

Já ‘Supernatural’ é uma aposta da norte-americana Warner sobre o inexplicável. Narra a história de dois irmãos afastados da mãe que buscam respostas para a vida, mas se deparam com acontecimentos paranormais que os seguem desde pequenos.

Já a bem-sucedida série ‘The 4400’, cuja segunda temporada é exibida às terças (23h), no Universal Channel, ganha uma cópia entre as novas séries: ‘Invasion’, em que extraterrestres se infiltram numa pequena cidade onde começam a ocorrer fenômenos sobrenaturais que assustam a comunidade.

A partir de amanhã, o canal Sony terá sua ‘West Wing’, sobre os bastidores da Casa Branca, com ‘Commander in Chief’, série que prevê uma mulher como presidente dos EUA e é estrelada por Geena Davis.

O canal Fox corre atrás do sucesso de ‘C.S.I. – Crime Scene Investigation’ e de suas ramificações (‘C.S.I. Miami’ e ‘C.S.I. NY’) e estréia no próximo dia 15 ‘The Inside’, drama policial nas mesmas bases.

A safra traz também a série em que o aclamado comediante Chris Rock narra sua odiada adolescência, em ‘Everybody Hates Chris’, e o novo trabalho de Marta Kaufman, a mesma de ‘Friends’ e outras de sucesso, ‘Related’, sobre quatro irmãs que vivem juntas, mas não se entendem.

Os canais aproveitam ainda a nova safra para mostrar as novas temporadas de 22 séries, das quais duas já anunciaram seus finais, ‘Will & Grace’ e ‘Everybody Loves Raymond’.’



Sérgio Dávila

‘‘Guerra’ finalmente chega às telinhas ‘, copyright Folha de S. Paulo, 6/11/05

‘‘Eu adoro o cheiro de napalm pela manhã.’ Nenhuma outra frase dita num filme de guerra suplantará esta, disparada pelo tenente-coronel Bill Kilgore (Robert Duvall), na obra-prima ‘Apocalypse Now’, sobre a Guerra do Vietnã, dirigida por Francis Ford Coppola em 1979.

A chave está na data. O diretor foi tocar no tema mais de uma década depois de o conflito ter começado e quatro anos depois de ter terminado, com a derrota até hoje não assumida pelos EUA.

Outro grande diretor havia feito algo semelhante: Robert Altman e seu ‘M*A*S*H’, de 1970, que daria origem a uma celebrada série televisiva, que foi ao ar pela CBS de 1972 a 1983 e reclama para si ainda hoje o maior número de telespectadores de um programa no capítulo final (125 milhões). Mas tratava da longínqua Guerra da Coréia (1950-1953), que, aliás, durou bem menos do que a série.

Guerras, principalmente as invasões duvidosas e recentes, de feridas ainda abertas e sangrando, não são o assunto predileto de Hollywood e suas subsidiárias.

Assim, foi com espanto que os executivos de TV viram um canal de coragem anunciar uma de suas novas séries para a temporada de verão deste ano. O nome era ‘Over There’ (que pode ser traduzido como ‘Lá Longe’, em inglês). O tema, oito soldados norte-americanos em luta no Iraque atual. O canal corajoso: FX.

Estreou no dia 27 de julho de 2005, para 4,1 milhões de telespectadores, um resultado ótimo para a TV norte-americana fechada não-premium (o pacote mais popular, que exclui canais como HBO e Showtime, mais caros).

A boa notícia é que dois episódios de uma hora cada um, o piloto e o seguinte, estréiam hoje, a partir das 21h, no Brasil. Nas semanas seguintes, episódios únicos serão exibidos sempre às 22h, com reprise nas quintas e nos domingos seguintes, às 21h, e uma versão dublada no Telecine Pipoca (segundas, 22h, e sextas, 21h).

A segunda boa notícia é que serão exibidos todos os 13 capítulos da primeira temporada da série. A ruim (que sempre as há) é que a FX anunciou o cancelamento da segunda temporada de ‘Over There’ na última quarta-feira, nos Estados Unidos. Se nenhuma outra emissora assumir o projeto, o que ainda não está descartado, o fato deve juntar brasileiros à legião de órfãos norte-americanos.

Tudo parecia estar certo. A série era do FX, o mesmo que põe no ar uma dos melhores programas policiais da atualidade, ‘The Shield’, que revelou o talentoso Michael Chiklis para o grande público e que, na última temporada, incorporou Glenn Close no seu elenco, e o cruel ‘Nip/Tuck’, sobre o (sub) mundo das plásticas.

Para produzi-lo, foi chamado um mito no meio: o roteirista e produtor nova-iorquino Steven Bochco, 62, o craque que colocou no ar ‘NYPD Blue’ (‘Nova York contra o Crime’, na versão risível brasileira), outra série longeva, que estreou em 1993, terminou em 2005 e gravou no léxico televisivo o nome do detetive Andy Sipowicz (interpretado com maestria pelo ator Dennis Franz).

A lógica era irretocável.

Em 1993, quando a política de ‘tolerância zero’ da polícia nova-iorquina ainda encaminhava, o maior medo do norte-americano era o crime. Em 2005, pós-11 de Setembro, pós-invasão do Iraque, uma das grandes angústias deste sujeito deve passar pelos 2 mil soldados mortos e os outros 150 mil na ativa em uma guerra sem sentido do outro lado do mundo.

Por que não juntar um grupo destes soldados e torná-los familiares aos telespectadores, mostrando seus dramas, anseios, falta de perspectiva e comando e, principalmente, ignorância quanto à guerra que estão lutando? Foi o que se tentou com ‘Over There’.

Para tanto, outra aposta aparentemente certeira foi agregada ao projeto: a estética ‘reality-show’. Assim, os combatentes aparecem gravando videomails para seus familiares, olhando para a câmera, como nas ‘salas de depoimento’ das séries tipo ‘Survivor’, ‘BBB’.

Não deu certo. A audiência caiu a cada episódio, até que o pouco mais de 1 milhão atual levou a pá de cal à série. ‘Too close to home’, arriscou-se Bochco em sites especializados, citando a expressão que pode ser traduzida como ‘Muito familiar’ (para os telespectadores) -ou seja, por que vou perder meu tempo com uma série de ficção cujo principal assunto ainda está nos telejornais da noite, na CNN e na Fox News?

Era o risco não-calculado da primeira série da história sobre um conflito ainda em andamento. Outra explicação pode ser mais prosaica. Steven Bochco, que não é bobo, concordou com que sua parceira e mulher colocasse no ar, em emissora maior e no mesmo horário, a série ‘Commander in Chief’, com Geena Davis como uma vice-presidente obrigada a assumir a Casa Branca.

‘Commander in Chief’ roubou espectadores de ‘Over There’. Ou seja: em suas horas de lazer, o americano prefere sonhar com Hillary Clinton na presidência do que com a tigrada no Iraque.’



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‘Já na estréia, o aviso: aqui não é ‘M*A*S*H’ ‘, copyright Folha de S. Paulo, 6/11/05

‘Começa com um casal procurando o melhor lugar da casa e a melhor posição de encaixe para uma última transa antes de partir. A partir da cena dos dois, outros soldados vão se despedindo aos poucos enquanto são apresentados pelo nome e apelido ao telespectador.

Formarão o esquadrão-base da série ‘Over There’, cujos membros, pelos próximos episódios, desenvolverão suas histórias, se envolverão, brigarão entre si, cometerão atrocidades, (alguns) se machucarão, (pelo menos um) morrerá etc.

Há o que briga com a namorada (e depois será traído), o negro musical, o jovem ingênuo, o sargento gritão. Têm apelidos como ‘Angel’, ‘Smoke’, ‘Mrs. B’ e… ‘Sargento Grito’.

Pelas primeiras cenas e já no primeiro combate de que participam, que eclode enquanto vigiam insurgentes que tomaram uma mesquita, mas ainda discutem a rendição, o aviso: isso aqui não será ‘Guerra, Sombra e Água Fresca’ (que estreou em 1965) nem mesmo o mais politizado ‘M*A*S*H’ (versão para TV de 1972).

É sério, tem sangue e cenas gráficas, como a do soldado iraquiano que é atingido por um tipo de bazuca, perde a metade de cima do corpo, mas do tronco para baixo continua dando alguns passos. É sério e bom.

Over There Produção: Steven Bochco Quando: hoje, excepcionalmente às 21h, no Telecine Premium’



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‘De Stone a Benigni, todos querem um pedaço ‘, copyright Folha de S. Paulo, 6/11/05

‘Na melhor tradição ‘comportamento de manada’ que rege Hollywood e a indústria do entretenimento norte-americana em geral, ‘Over There’ parece ter aberto a comporta de obras que têm como tema ou citam a invasão do Iraque. Há telefilmes, filmes, peças, livros e até uma ‘graphic novel’ em diferentes etapas de produção. A seguir, a Folha destaca os mais significativos ou com nomes mais relevantes.

Os principais são um filme que a Universal desenvolve sobre a batalha de Fallujah, baseado no livro ‘No True Glory’, do ex-assessor de Bush e ex-fuzileiro naval Bing West, que terá Harrison Ford como um general, ainda sem data de estréia, e ‘Jarhead’ (‘cabeça de jarra’, em inglês), que estreou sexta-feira nos EUA.

Dirigido pelo mesmo Sam Mendes de ‘Beleza Americana’, é baseado no best-seller homônimo de outro fuzileiro naval, Anthony Swofford, de 2003, que conta a história do militar, que esteve em diversas empreitadas dos EUA no, digamos, setor bélico desde a Guerra do Golfo, em 1991.

É um tocante libelo antiguerra e, embora se passe principalmente na primeira batalha do Iraque, a comparação é evidente -como quando um soldado diz: ‘Nós nunca mais voltaremos para cá’.

Em espécie de ‘outro lado’, ou outra visão da mesma história, aparece o amaldiçoado filme baseado no best-seller ‘O Blog de Bagdá’, por sua vez baseado no diário virtual que o arquiteto iraquiano homossexual de 29 anos escrevia clandestinamente a partir da capital do Iraque sob Saddam, enquanto choviam bombas e mísseis naquele março de 2003.

O acordo foi assinado em 2004 com a Intermedia, o blogueiro foi personagem de ou dirigiu dois documentários desde então, chegou a ter uma coluna no jornal londrino ‘Guardian’ -e o filme de ficção não sai do papel. Talvez isso explique o título do atual blog que Salam Pax mantém: ‘Cale a boca, seu gordo chorão!’.

Outro que anunciou que deve começar seu filme ficcional focado no 11 de Setembro mas nele tratar da invasão do Iraque -como fez Michael Moore, só que em documentário- é Oliver Stone, uma espécie de cronista da história recente norte-americana, quase sempre sob o viés da teoria da conspiração (‘JFK’, ‘Nixon’, ‘Nascido em 4 de Julho’).

Pouco se sabe do filme, que já causa polêmica entre as famílias dos sobreviventes de ambos os eventos, a não ser que Nicolas Cage deve ser o protagonista e que seu diretor é também o autor da polêmica frase, dita em outubro de 2001, que reza que o 11 de Setembro foi uma ‘revolta’ contra as ‘corporações multinacionais’.

Por fim, o intenso ator italiano Roberto Benigni estreou em seu país ‘O Tigre e a Neve’, em outubro último, que vai na mesma linha de buscar a fábula por trás da desgraça que lhe valeu o Oscar em 1997 por ‘A Vida É Bela’. Daquela vez, era o nazismo; agora, é o caos pós-invasão iraquiana. ‘Não é um filme ideológico’, disse.’



Etienne Jacintho

‘A moda agora é falar com o além’, copyright O Estado de S. Paulo, 7/11/05

‘Depois de Arquivo X, as séries que falam de eventos sobrenaturais e extraterrestres estavam em baixa. Isso até o surgimento de The 4400, do Universal Channel, e do fenômeno Lost, em cartaz no AXN. Pois os fãs do gênero podem comemorar a chegada de quatro programas nos dois principais canais de séries da TV paga: Sony e Warner.

Hoje, a Sony estréia Medium, às 20 horas, e Ghost Whisperer, às 19 horas. O primeiro, protagonizado por Patricia Arquette – dos filmes Stigmata e A Estrada Perdida -, é o melhor da safra. Ela vive Allisson Dubois, uma estagiária de Direito que tem sua vida transformada ao admitir que possui o dom de falar com os mortos. Usando seu, digamos, talento, ela passa a auxiliar a polícia na resolução de crimes. Patricia ganhou o Emmy por sua atuação na série. Outra atriz que falará com o além é a diva adolescente Jennifer Love-Hewitt (Party of Five e Time of Your Life). Em Ghost Whisperer, ela ajuda pessoas mortas a resolverem questões pendentes.

Na Warner, as novidades são Supernatural, que estréia amanhã, às 22 horas, e Invasion, que vai ao ar no dia 13, no mesmo horário. No estilo Buffy – A Caça-Vampiros misturado com Lenda Urbana, Supernatural conta a saga de dois irmãos que correm atrás de fenômenos sobrenaturais e assassinatos misteriosos para desvendar a morte de sua mãe. Invasion relata estranhos fatos em uma cidade da Flórida após a passagem de um furacão.

Além dessas séries, Sony e Warner estréiam esta semana diversas atrações e novas temporadas. Apesar dessas novidades, a melhor opção é Commander in Chief, na Sony, às 21 horas. O canal coloca no ar, amanhã, outra boa série, a divertida Everybody Hates Chris, comédia inspirada na adolescência nada glamourosa do astro Chris Rock. A série é narrada por ele no estilo Anos Incríveis.’



PÂNICO NA TV
Fábio Couto

‘Até o Pânico na TV ensina como se faz jornalismo’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 31/10/05

‘Um dos programas mais nonsense da televisão brasileira, desde o surgimento do Perdidos na Noite, lá pelos idos dos anos 80, o Pânico na TV tem colecionado uma série de fãs, desafetos, críticas, gargalhadas e reflexões sobre o que se fazer – ou não – na telinha. Dizem que o nível de audiência é reflexo do desejo dos telespectadores. Sem a intenção de discutir essa teoria, pude constatar que no domingo retrasado, dia 23 de outubro, o programa também ensina, ao mesmo tempo que tira sarro dos seus alvos, como se faz jornalismo.

Quem viu o programa em questão lembra que eles colocaram no ar uma paródia do programa TV Fama, da casa. Com um inacreditável Vesgo imitando Nélson Rubens e um tresloucado ‘Silvio Santos’ travestido de Luisa Mell, a paródia apontava uma série de notas veiculadas pela imprensa especializada em… amenidades, como um jantar da sobrinha da Denise Fraga. Na verdade, a proposta deles era a mesma: brincar com tudo e com todos, mesmo que entre esses todos estivessem incluídos nomes da casa. As paródias revezavam com Vesgo e Silvio, ‘a caráter’, em seus personagens, ‘dentro da redação’, ligando para quem achassem viável. Uma das vítimas foi Silvia Poppovic, que teria comprado óculos de sol de grife, motivo da ligação.

Muito bem. Eis que lá pelas tantas, uma nota dessas de Internet dizia que As Paquitas estavam com a agenda cheia, que tinham muitos compromissos. Fazendo-se passar por interessados em contratá-las, os dois gozadores ligaram para a empresária delas – cujo nome não me recordo, mas não é o mais importante – e constataram que as Paquitas tinham datas disponíveis para show entre os dias 7 e 13 de novembro. Ou seja, não é nada do que havia sido veiculado.

Com isso, eles ligaram para uma delas, perguntando se era verdade que o grupo estava com a data fechada etc e tal. Ela, cujo nome também foge de minha congestionada memória, disse que sim, que a agenda estava lotada a ponto delas precisarem reprogramar todos os compromissos. Daí para a gozação, foi um estalar de dedos. Resumindo: eles, Vesgo e Sílvio deixaram a Paquita falando sozinha no telefone.

Não é nada demais, mas os meninos, com essa brincadeira, mostraram a importância de checar as informações. Claro que alguém vai alegar que o feito deles – passar por um interessado pelos shows – é antiético e fraudulento. Mas nenhum repórter, nem mesmo os comediantes, teria a informação caso decidisse revelar a condição. Independente da relevância do tema, eles mostram que além de superficial, os sites de amenidades estão falhando na mais simples das tarefas – por sinal a mais importante: apurar.

Por isso, lembremo-nos todos, inclusive este que vos escreve, do conselho dos nossos professores, chefes de reportagem, colegas e editores: desconfiem de toda e qualquer informação, seja ela oriunda de release, assessoria de imprensa, fonte oficial ou oficiosa. A precisão não custa caro e, como o Pânico na TV mostrou, nem demanda tanto tempo assim.’