Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Mídia ignora novo massacre africano…

Genocídios em terras longínquas nunca foram bem cobertos pela mídia. Vide o massacre que ocorreu há 10 anos na Ruanda, entre as tribos Tutsi e Hutu, em que em apenas 100 dias 500 mil pessoas morreram. Na época, a mídia deu de ombros. Hoje, homenageia os 10 anos do massacre com um infeliz atraso. E parece que está fadada a repetir o erro.

Um recente conflito no Sudão está passando despercebido pelo público porque a mídia parece preferir cobrir aniversários de genocídios passados a enviar correspondentes para cobrir massacres presentes. Quase um milhão de pessoas tiveram de deixar suas casas no oeste do país – muitas delas fugindo para o vizinho Chad. A milícia do governo sudanês, segundo testemunhos locais, tem atacado vilas, saqueado e queimado casas, e matado e estuprado civis. Essas forças armadas deveriam reprimir grupos rebeldes da região de Darfur, mas têm, na verdade, alvejado a população.

E onde estão os jornalistas para dar essas notícias? Segundo Carroll Bogert, diretora-associada do Human Rights Watch, em artigo ao Los Angeles Times [28/4/04], disse que não é exatamente fácil chegar a Darfur e que, logicamente, a capital Cartum não dará vistos para equipes de TV internacionais. Apesar disso, cobrir o conflito não é impossível. Uma pesquisadora do Human Rights Watch acaba de voltar de uma temporada de três semanas indo e voltando do Sudão para Chad, trazendo consigo evidências do que está acontecendo na região. ‘Se o Human Rights Watch pode fazer isso, com os poucos recursos de uma organização sem fins lucrativos, então por que o New York Times, o Washington Post e o Los Angeles Times não o fazem?’, pergunta Carroll.

Parte da resposta é o Iraque. O chefe de redação da sucursal da Chicago Tribune no Cairo, por exemplo, que poderia estar cobrindo norte da África, foi encaminhado para outro ‘passeio’ em Bagdá. ‘A guerra envolve americanos e estes estão compreensivelmente preocupados com ela’, diz Carroll. ‘Mas com ou sem guerra no Iraque, a mídia americana não costuma dar atenção a assuntos como morte em massa de vítimas que não são brancas. O genocídio de Ruanda é um exemplo’.

Precisa-se de mais informações, mais repórteres na região de conflito, tornando o desastre real para a audiência ao contar histórias individuais de vítimas. ‘O papel da mídia é nos informar’, diz Carroll. ‘Deveria fazê-lo, e rápido – porque daqui a 10 anos não haverá desculpas para a repetição do erro cometido na Ruanda’.

‘Falsas informações’

Apesar do apelo de Carroll ser totalmente fundado, a situação dos jornalistas que estão cobrindo o conflito no Sudão não é das mais atraentes. A Federação Internacional dos Jornalistas (IFJ, sigla em inglês), pediu em comunicado no dia 28/4 que o governo sudanês suspenda as medidas repressivas e restritivas contra a mídia estrangeira na cobertura do conflito. Segundo jornalistas que estão na região, a obtenção de vistos tem sido cada vez mais difícil e a região de Darfur só pode ser adentrada com outra permissão especial.

Segundo a IFJ, o número de jornais fechados e de jornalistas detidos no ano passado continua crescendo. Em 2003, o Khartoum Monitor, único diário sudanês de língua inglesa, foi suspenso por um total de mais de seis meses em sete ocasiões diferentes. De setembro a dezembro de 2003, o governo fechou temporariamente os jornais Alwan, al-Azminah e al-Ayyam. Em abril deste ano, Islam Salih, chefe de redação da sucursal em Cartum da emissora árabe al-Jazira, foi considerado culpado por ‘disseminar falsas informações’ e sentenciado a um mês na prisão e multa de US$ 3.800.