Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Morte de Bergman
é o destaque do dia


Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


************


O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 31 de julho de 2007


MEMÓRIA / INGMAR BERGMAN
Luiz Carlos Merten


Adeus a Bergman


‘Há 25 anos, após concluir um dos monumentos da sua grande arte – Fanny e Alexander -, Ingmar Bergman anunciou que estava parando com o cinema. Iria recolher-se, em definitivo, à sua casa na Ilha de Faro para escrever, refletir. Cinema, nunca mais. Teatro, talvez. No quarto de século decorrido desde então, Bergman quebrou muitas vezes a própria escrita. Escreveu roteiros que foram filmados por outros diretores (Bille August, Liv Ullman, seu filho Daniel) e alguns ele próprio realizou, para TV. Agora, é definitivo. Bergman, nunca mais. Ele morreu ontem, na Ilha de Faro, aos 89 anos.


Conta a lenda que, no enterro de Ernst Lubitsch, o mestre do humor sofisticado, encontraram-se dois grandes cineastas, Billy Wilder e William Wyler. O segundo observou com tristeza – ‘Nunca mais, Lubitsch.’ O primeiro retrucou – ‘Pior; nunca mais novos filmes de Lubitsch.’ O sentimento é o mesmo diante da morte de Bergman. Talvez ele tenha deixado mais alguns roteiros que ainda poderão vir a ser filmados, mas não serão filmados pelo próprio Bergman. E isso faz toda a diferença. Três vezes vencedor do Oscar da academia de Hollywood, Bergman recebeu a estatueta destinada ao melhor filme estrangeiro por A Fonte da Donzela, em 1959; por Através de Um Espelho, em 1960; e por Fanny e Alexander, em 1983. Este último também recebeu os prêmios de fotografia, direção de arte e figurinos. Você pode dizer que Bergman foi suficientemente contemplado, até por Hollywood, que faz um cinema tão diferente do dele. Estará mentindo. Seus maiores filmes – Noites de Circo, de 1953; O Sétimo Selo, de 1956; Morangos Silvestres, de 1957; O Rosto, de 1958; O Silêncio, de 1962; Persona (Quando Duas Mulheres Pecam), de 1966; Gritos e Sussurros, de 1972; A Flauta Mágica, de 1975 – foram ignorados no Oscar. Bergman havia sido ignorado até por Cannes.


O maior festival de cinema do mundo dera, ao grande diretor, somente um prêmio menor, o de melhor filme de humor ‘poético’, para Sorrisos de Uma Noite de Amor, em 1956. Quase 40 anos mais tarde, exatamente em 1995, quando se comemorava o centenário do cinema, Cannes fez uma enquete entre todos os vencedores da Palma de Ouro e lhes perguntou quem, na opinião deles, havia sido injustiçado no prêmio? Deu Ingmar Bergman na cabeça e ele recebeu a Palma das Palmas, a maior honraria da história do festival. Bergman já vivia isolado em Faro. Não pisou no tapete vermelho de Cannes. Sua ex-mulher, atriz de grandes filmes e diretora de roteiros por ele escritos, Liv Ullman, vestiu-se de gala para a grande ocasião.’


***


‘Arte tem de ter relação com a ética’


‘Ingmar Bergman realizou seu primeiro filme em 1945, portanto, há 62 anos. Crise não obteve muita repercussão fora da Suécia e, para dizer a verdade, nem no país em que Bergman nasceu a recepção foi muito calorosa. Bergman foi internacionalmente descoberto no Uruguai, por um crítico chamado Homero Alsina Thevenet, no começo dos anos 50. O Brasil logo se associou ao culto e, em 1954, o Festival Internacional de Cinema de São Paulo, em comemoração ao quarto centenário da cidade, exibiu justamente Noites de Circo. O jovem Walter Hugo Khouri tornou-se um devoto do autor sueco, num momento em que o cinema brasileiro pré-Cinema Novo estava voltado para o neo-realismo italiano. Quando começou a fazer seus filmes, influenciado por Bergman, o próprio Khouri ganhou a etiqueta de ‘sueco’, o que em bom português daquela época queria dizer – alienado.


Seria o próprio Bergman alienado? Não, mas Ingmar tinha a Suécia para dar sustentação ao seu projeto de cinema autoral. Filho de um pastor luterano, ele recebeu uma educação severa. Desde garoto, amava as lanternas mágicas e os teatros de marionetes – que aparecem em Fanny e Alexander e a primeira dá título a seu livro autobiográfico (Lanterna Mágica), em que ele conta tudo. A rígida formação familiar, a paixão do teatro, do cinema e das mulheres. Bergman poderia ser definido como um homem que amava as mulheres, mas, no cinema, o título já pertence a François Truffaut. Amava-as tanto que se casou cinco vezes, além de todas as outras com quem simplesmente ficou. As mulheres sempre foram complicadas, na vida como na obra de Bergman. Mesmo depois de descasado, ele as mantinha – o caso mais notório é o da norueguesa Liv Ullman – integradas ao seu elenco. Não por acaso, foi um dos maiores criadores de personagens femininas da história do cinema.


Todo ano-novo, por mais de 70 anos, Bergman cumpriu o mesmo ritual. À revista francesa Positif, ele revelou que seu réveillon se repetia sempre da mesma maneira. Tomava uma taça de champanhe e sentava-se no seu cineminha particular, um luxo a que se permitiu, mantendo cópias em 35 mm de obras que considerava fundamentais, para assistir a seu filme favorito – A Carroça Fantasma, de Victor Sjostrom, de 1920. Sjostrom era supervisor artístico da Svensk Filmindustri, entidade mantenedora do cinema sueco, quando Bergman lá entrou, nos anos 40, como roteirista. Sjostrom deu força ao aprendiz e Bergman, mais tarde, retribuiu, fazendo dele o Professor Isak Borg de Morangos Silvestres (e o filme começava, na cena do sonho, por uma citação à Carroça Fantasma).


O próprio fato de ele gostar tanto desse filme silencioso já é revelador – a carroça fantasma é aquela em que a Morte vem recolher as pessoas. A morte foi sempre uma obsessão de Bergman. Até como decorrência disso, Bergman, o filho do pastor, era obcecado pelo mistério – o que existe depois da vida? Deus existe? Essas questões metafísicas foram transformadas em temas e o cinema de Bergman trata da fome e o sexo, a fome de sexo, além do silêncio de Deus, que só é rompido, como manifestação divina, por aquela fonte que irrompe no local do sacrifício da donzela. Em 1976, ele deu uma declaração polêmica. Disse que Deus e ele se haviam afastado definitivamente. ‘Estamos na Terra e esta é nossa única vida.’ Manifestação radical de um autor que antes acreditava, como Eugene O’Neill, que toda obra dramática que não trata das relações dos seres humanos com Deus não tem valor. Bergman explicava que, desta maneira, queria dizer que toda a arte tem de manter uma relação com a ética. A esses temas, soma-se outro, muito forte – o horror que o grande artista sempre teve da burocracia e o da humilhação. Em seus filmes, há muitas vezes um personagem que sofre a humilhação como tragédia – e nenhum é tão trágico como o palhaço de Noites de Circo, ridicularizado pelos soldados cujos integrantes são todos amantes de sua insaciável mulher.


Nos anos 70, a humilhação atingiu Bergman de uma forma avassaladora. Em decorrência de um problema com o fisco sueco, ele foi preso. Solto, exilou-se por um breve período na Alemanha, só o tempo de ali realizar dois filmes – O Ovo da Serpente, em 1979, sobre a gênese do nazismo, e Da Vida das Marionetes, no ano seguinte. O filme é uma espécie de Cenas de Um Casamento 2, filmado em preto-e-branco e ainda mais cruel e rigoroso do que o telefilme de 1974, com Liv Ullman e Erland Josephsson. Cenas de Um Casamento tornou-se tão emblemático da obra de Bergman que o cineasta, nos anos 2000, fez uma belíssima seqüência – Saraband, mostrando o que ocorre quando Liv e Josephsson se reencontram, mais de 30 anos após a separação.


Seus primeiros filmes eram considerados muito teatrais e expressionistas. E, então, em 1956, o humor poético de Sorrisos de Uma Noite de Amor de alguma forma liberou Bergman para ousar, em termos de linguagem. O road movie existencial Morangos Silvestres mistura passado e presente nas mesmas imagens – uma lição que o grande diretor havia absorvido de seu compatriota Alf Sjoberg, quando fez Senhorita Júlia, baseado na peça de Strindberg, em 1951. Nos anos 60, a década que mudou tudo, Bergman incorporou a metalinguagem ao seu método. Em comparação com Jean-Luc Godard, o revolucionário do cinema francês, Paulo Francis gostava de dizer que Godard lera a orelha dos livros de teoria sobre estética e que Bergman lera e (absorvera) os livros completos. O que Persona anunciava prosseguiu com A Hora do Lobo, Vergonha e A Paixão de Ana. Na seqüência, Bergman realizou, em 1971, seu único filme em língua inglesa – O Toque do Amor, com Bibi Andersson e Elliott Gould. De volta à Suécia, fez o que talvez seja o mais belo de seus filmes, Gritos e Sussurros.


O problema que a obra de um artista tão grande como Bergman coloca é justamente este. De uma produção artística tão rica, o que destacar? Todo Bergman pode ser resumido em dois filmes – Morangos Silvestres e Gritos e Sussurros. O professor Isak Borg atravessa os planos da realidade, da memória e da imaginação para resolver o enigma de sua vida. No fim, seu sorriso ambíguo indica que ele adormece feliz por finalmente se haver decifrado (mas pode ser que esteja morrendo). As três irmãs e a aia passeiam naquele jardim, na cena final de Gritos e Sussurros. Face a tudo que sofreram antes, é como se Bergman estivesse querendo dizer que a vida vale a pena, sempre, nem que seja por um fugaz momento, num dia de verão. Stanley Kubrick, outro grande autor, dizia que cinema é montagem. Bergman preferia acreditar que cinema é teatro. Como Jean Tulard afirma, ao encerrar seu verbete sobre ele no Dicionário de Cinema, tudo é teatro, da sexualidade a nossas relações com Deus.


Bergman havia feito sua última aparição pública num evento em sua homenagem, realizado no começo do mês, na Ilha de Faro. Surgiu numa cadeira de rodas, abatido e cansado. A executiva do Swedish Film instituto (Instituto do Cinema sueco), Cissi Elwin, disse ontem – ‘É muito, muito estranho e irreal, porque Bergman é uma parte muito viva do cinema sueco.’ A TV sueca interrompeu sua programação para exibir especiais e filmes do grande diretor. O premier sueco Fredrik Reinfeldt disse, numa declaração, que é muito difícil avaliar a riqueza da contribuição da obra de Bergman para o teatro e o cinema do país. ‘Seus filmes são imortais.’ Qualquer cinéfilo assina embaixo desta declaração. Bergman realizou 54 filmes (e telefilmes), montou 126 peças e escreveu 39 obras para rádio. Jorn Donner, que o conheceu por mais de 50 anos e produziu Fanny e Alexander, disse que Bergman foi um dos maiores. Talvez fosse o último grande, já que da sua estatura (e idade) restam somente Michelangelo Antonioni e Manoel de Oliveira. Além dos Oscars e da Palma das Palmas, ganhou um prêmio honorário da academia de Hollywood (o Irving Thalberg Memorial, em 1971) e um Leão de Ouro especial, pelo conjunto da obra, no Festival de Veneza de 1983.


OBRA PRINCIPAL


CRISE (1946)


MÚSICA NA NOITE (1948)


PORTO (1948)


SEDE DE PAIXÕES (1949)


MONIKA E O DESEJO (1953)


SORRISOS DE UMA NOITE… (1955)


O SÉTIMO SELO (1957)


MORANGOS SILVESTRES (1957)


O ROSTO (1958)


A FONTE DA DONZELA (1960)


ATRAVÉS DO ESPELHO (1961)


LUZ DE INVERNO (1962)


O SILÊNCIO (1963)


PERSONA (1966)


A HORA DO LOBO (1967)


VERGONHA (1968)


A PAIXÃO DE ANA (1969)


A HORA DO AMOR (1971)


GRITOS E SUSSURROS (1972)


CENAS DE 1 CASAMENTO (1973)


A FLAUTA MÁGICA (1975)


FACE A FACE (1976)


O OVO DA SERPENTE (1977)


SONATA DE OUTONO (1968)


VIDA DAS MARIONETES (1980)


FANNY E ALEXANDER (1982)


DEPOIS DO ENSAIO (1984)


SARABAND (2003)


***


NOTAS DE UMA VIDA


‘Ernst Ingmar Bergman nasceu no dia 14 de julho de 1918 na cidade universitária sueca de Uppsala. Foi humilhado e apanhou de seu pai, um pastor luterano que se tornou capelão oficial do rei da Suécia.


Bergman iniciou sua carreira como roteirista e chegou a dirigir comerciais para escapar do desemprego.


Diretor saiu do anonimato em 1955 com Sorrisos de Uma Noite de Amor, uma comédia de costumes sofisticada. O filme rendeu ao diretor o prêmio de melhor comédia de 1956, no Festival de Cannes.


Ganhou reconhecimento internacional com o filme O Sétimo Selo (1957), que conta a história de um cavaleiro que procura pelo significado da vida jogando xadrez com a morte. Levou o prêmio do júri no Festival de Cannes de 1957.


Bergman anunciou sua aposentadoria no cinema quando terminou o longa Fanny e Alexander (1982). Produzido em duas versões – de 3 e 4 horas -, o filme ganhou quatro Oscars em 1984, incluindo melhor filme estrangeiro.


Ele dirigiu três filmes fora de seu país, entre eles, Sonata de Outono (1978), com Liv Ullmann e Ingrid Bergman.


Foi casado cinco vezes e teve nove filhos, entre eles a escritora Linn Ullmann, filha dele com Liv.’


Luiz Zanin Oricchio


Dez filmes para entender o mestre


‘Não deixa de ser um desafio fazer uma seleção de dez filmes em obra tão extensa e cheia de picos de qualidade como a de Ingmar Bergman. Se algumas escolhas devem convergir entre os apreciadores do cineasta, outras ficam por conta da subjetividade de quem prepara uma lista.


Bergman ainda vai dar muito o que falar (e escrever) aos críticos, especialistas e cinéfilos. Há muito sabemos da dimensão de sua obra e da sua importância como um dos grandes mestres do cinema, em toda a sua história. Porém, sempre é preciso que uma carreira tenha realmente fim com o ponto final assinalado pelo desaparecimento físico para que os balanços ganhem concretude.


Mesmo porque Bergman era pródigo em reaparecimentos. Em 1982 anunciou a despedida do cinema com Fanny e Alexander. Mas continuou a escrever roteiros que foram filmados. E, em 2003, ele próprio dirigiu Saraband, que passa a ser seu testamento. O momento é de rever Bergman. Reavaliar e revalorizar Bergman, um antídoto em momento tão medíocre do cinema.


MÔNICA E O DESEJO (1952)


Uma síntese entre a sensualidade lírica e a fotografia maravilhosa de Gunnar Fischer. Com o filme, tido como obra simples na filmografia do sueco, começa o seu trabalho com a atriz Harriet Andersson. É um divisor de águas, marcando o início do Bergman tal como o conhecemos, denso, senhor de uma dramaturgia sólida, amparada na experiência do teatro, de Strindberg, sobretudo, mas consciente da linguagem do cinema. Aqui é a história do jovem Harry (Lars Ekborg) que cai de amores pela superficial e sensualíssima Mônica (Harriet).


O SÉTIMO SELO (1956)


Bergman ambienta uma história no século 14 para obviamente falar do temor nuclear do após-guerra. O mundo visto pelo cavaleiro interpretado por Max von Sydow é uma terra devastada pela peste, pela intolerância religiosa. Um mundo obscuro, no qual a luz vem apenas de uma humilde família de saltimbancos, como a dizer que a redenção (se alguma é possível) só virá através da arte. Mas a morte é o limite implacável e ela joga seu xadrez com o cavaleiro, que luta numa partida perdida de antemão. Política e metafísica, aqui, comparecem e interagem.


MORANGOS SILVESTRES (1957)


É o que se poderia chamar de um road movie existencial, com o frio dr. Isak Borg (Victor Sjõstrõm) percorrendo o país, em companhia da cunhada (Ingrid Thulin) para receber uma honraria por sua carreira médica. Está velho e é um poço de amargura, mas a viagem é também um reencontro com seu passado e consigo mesmo. Bergman mescla os planos da realidade, da fantasia e do sonho para explorar essa reconstrução da vida do velho médico.


O SILÊNCIO (1962)


O filme faz parte de uma trilogia, também integrada por Luz de Inverno e Através do Espelho. Ingrid Thulin interpreta Ester, uma tradutora que viaja de volta à Suécia em companhia da irmã (Gunnel Lindblom). As rivalidades sexuais entre irmãs, a presença da morte (Ester sofre de uma doença terminal), a busca da redenção, o questionamento da fé, colocam este filme em nível de densidade ímpar.


PERSONA (1966)


Naquele que é, talvez, seu filme mais ‘psicanalítico’, Bergman encena essa relação entre duas mulheres (Bibi Andersson e Liv Ullmann) que se identificam a ponto de se confundirem uma com a outra. Alma (Bibi) é a enfermeira que cuida de uma atriz, Elisabet Vogler (Liv), que perdeu a voz em razão de algum tipo de trauma. O trabalho de câmera e fotografia de Sven Nykvist é talvez o mais radical entre todos os que fez com Bergman. A relação fusional das duas mulheres se expressa na imagem.


GRITOS E SUSSURROS (1973)


Na origem deste que talvez seja seu filme mais profundo, está um sonho. Bergman diz que sonhou com uma imagem enigmática – quatro mulheres vestidas de branco estão num aposento com papel de parede vermelho. Ele quis decifrar a imagem e não pôde. Quis esquecê-la e não conseguiu. Resolveu filmar para livrar-se dela. E então a compreendeu: eram três mulheres esperando a morte de uma quarta. O branco da morte e da inocência. O vermelho uterino, porque vida e morte se interligam. Nunca o cinema tocou de tão perto o enigma da finitude.


CENAS DE UM CASAMENTO (1974)


A longa história do relacionamento entre Johan (Erland Josephson) e Marianne (Liv Ullmann), tido primeiro como casal perfeito, até que as fissuras se apresentam e vem o rompimento. Produzido para a TV sueca, é um dos mais intensos trabalhos jamais feitos pelo cinema sobre o casal moderno. Pode-se dizer que é uma das suas obras mais influentes, com repercussões nos trabalhos de cineastas como Woody Allen e Domingos Oliveira, por exemplo.


SONATA DE OUTONO (1978)


Aqui a questão é o relacionamento entre mãe (Ingrid Bergman) e filha (Liv Ullmann). Ingrid é a pianista de sucesso que nunca teve tempo para a família. O filme é um longo e intenso acerto de contas entre duas gerações. A cena a reter é aquela em que Ingrid interpreta uma peça ao piano, para frustração de Liv, cujo rosto expressa a consciência de que nunca poderá chegar àquela altura. A expressão da beleza musical é, naquele momento, testemunha também de sua humilhação diante da mãe, uma ambigüidade que fazia parte do universo de Ingmar Bergman.


FANNY E ALEXANDER (1982)


Filme de vocação autobiográfica, anunciado, à época, como a despedida do cinema (não seria assim). Os personagens são órfãos de pai e a mãe torna a se casar, desta vez com um religioso rígido. Estão aqui colocadas as questões da família, do amadurecimento e da transgressão que significa o crescimento em ambiente hostil. É um filme de profunda beleza pictórica e expressa um sentido de humor nem sempre presente em outras obras do diretor. Anuncia, também, o seu retorno ao teatro. Quando tudo falha no final, é no palco que aquela família de artistas encontra abrigo. Como se vê, Bergman pode ter vacilado em todas as certezas ao longo da vida. Mas nunca perdeu a fé no caráter redentor da arte. Mesmo que essa redenção seja sempre parcial.


SARABAND (2003)


Seqüência, 30 anos depois de Cenas de um Casamento, cuja versão integral tem cinco horas de duração. Johan e Marianne continuam divorciados e ele se tornou um milionário, com uma relação de desprezo em relação ao filho. O sopro de vida, nessa relação fechada é a neta, Karin (Julia Dufvenius), violoncelista como o pai. A questão aqui será quebrar o vínculo edipiano entre pai e filha para que esta possa se libertar e viver sua própria vida. E sua própria arte. Neste, que é seu testamento, Bergman mais uma vez examina a dificuldade dos relacionamentos humanos e o impasse fundamental – não se vive sem os outros e nem com os outros. O ser humano é impasse. E, mais uma vez, a arte é o que pode ligá-los de alguma forma, e por alguns momentos, ao sublime. No fundo, é o que o justifica. Um detalhe importante sobre este, que é o último filme de Ingmar Bergman – ele não foi lançado no circuito cinematográfico e saiu diretamente em DVD (aliás, com o maravilhoso extra de uma entrevista com o diretor). Distribuidores e exibidores devem ter entendido que não haveria público para ele.’


INTERNET
O Estado de S. Paulo


Google não é ameaça em celulares, diz Gates


‘O fundador da Microsoft, Bill Gates, não vê o Google tornando-se um competidor bem sucedido no mercado de software para celulares, de acordo com o New York Times. ‘Quantos produtos, de todos os que o Google lançou, são lucrativos?’, perguntou Gates. ‘Eles lançaram cerca de 30 produtos diferentes e têm um produto lucrativo.’’


JORNALISMO CIENTÍFICO
O Estado de S. Paulo


‘Science’ se retrata de artigo manipulado


‘AP – A revista Science se retratou de um artigo publicado em 2006 que continha fotos manipuladas por um ex-pesquisador. A publicação se corrigiu logo depois de a Universidade de Missouri-Columbia anunciar que uma investigação descobriu que o estudante de pós-doutorado Kaushik Deb adulterou imagens de embriões de ratos.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Sob nova direção


‘A Band tem um novo diretor de teledramaturgia. Del Rangel assumiu de vez o posto de Ignácio Coqueiro, que anda insatisfeito com os rumos tomados pelo canal.


Contratado para fazer Paixões Proibidas, Coqueiro pediu licença da Band assim que terminaram as gravações da novela. Sua ruptura com o canal seria por conta dos rumos tomados pela dramaturgia: a produção da novelinha teen Dance Dance, Dance, menina dos olhos da nova diretora de Programação da rede, Elisabetta Zenatti.


Coqueiro, que tem contrato até 2008 com a Band, deve acertar os ponteiros com a emissora até sexta-feira, mas já é notório na emissora que ele não deve voltar.


A Band, que não quer se pronunciar sobre o caso, faz questão que o contrato do diretor seja cumprido até o fim. Coqueiro, por sua vez, já estaria negociando seu passe com a Record, que confirma as conversas com o diretor e o interesse em contratá-lo ainda este ano.


Na emissora da Barra Funda, comenta-se que Coqueiro deverá dirigir a primeira minissérie da Record, uma história de Lauro César Muniz sobre Castro Alves, com estréia prevista para 2008.


Entre- linhas


O Pan acabou, ufa, mas os clipes e mais clipes musicais com os melhores momentos da competição ainda pululam na programação.


E por falar em repetição, fãs do Pânico não entenderam a edição de ontem do programa, com 200 maiores bizarrices da atração. Era edição para tapar breves férias da trupe.


A Band foi a única emissora aberta a transmitir a cerimônia de encerramento do Pan (na faixa das 18 h e 19 h, anteontem) e conquistou ótima média de audiência com o feito: 7 pontos e 9,2 de pico.


A TV Gazeta inicia agora a instalação e os testes com equipamentos em sistema digital da Linear, a fim de inaugurar as transmissões em dezembro.


O Hi-Five, programa que prima pela repetição para seduzir a platéia infantil, ganha temporada de edições inéditas no Discovery Kids.


Canal que chegou ao ar ontem, apenas via TVA e NeoTV, o FizTV tem esperança de chegar logo à Net, maior operadora do País. Isso, ‘se a GloboSat deixar…’, ressalta o chefão André Mantovani. Braço da MTV, a programação do FizTV é toda feita de vídeos independentes.


A Globo já foi melhor em evitar a coincidência de nomes de personagens entre novelas que estão no ar. Agora a superfaxineira de Paraíso Tropical, vivida por Yaçanã Martins, encontra um homônimo para Otília em Sete Pecados, na pele de Rosamaria Murtinho.’


************


Folha de S. Paulo


Terça-feira, 31 de julho de 2007


MEMÓRIA / INGMAR BERGMAN
Folha de S. Paulo


Cineasta Ingmar Bergman, um dos maiores do século 20, morre aos 89 anos


‘O cineasta sueco Ingmar Bergman teve uma morte ‘calma e suave’, aos 89 anos, em sua casa na ilha de Farö, no mar Báltico, onde vivia sozinho, desde a morte de sua quinta e última mulher, Ingrid Karlebo von Rosen, em 1995.


O anúncio da morte do diretor foi feito ontem por sua filha Eva Bergman. Ela não mencionou nem a causa, nem a data precisa da morte de Bergman, que tinha outros oito filhos.


O escritor sueco Henning Mankell, genro do cineasta, disse haver percebido que ele ‘estava de partida’ quando o visitou na semana passada. ‘Era um homem velho, que morreu em sua cama. Um velho coração que deixou de bater.’


Sem dirigir filmes desde 2003, quando lançou ‘Saraband’, releitura de seu clássico ‘Cenas de um Casamento’ (1973), Bergman era ‘o último dos maiores’, na definição do crítico e presidente do Festival de Cannes, Gilles Jacob.


Bergman tratou sempre das questões da infância, do amor e da morte em sua obra, iniciada em 1945, e foi considerado genial pela capacidade de subverter regras e incorporar novos elementos à linguagem do cinema vigente no século 20.


É traço de Bergman transformar o rosto dos atores num elemento dramático de seus filmes, ao aproximar a câmera dos personagens muito além do que se costumava fazer.


A liberdade de narrar histórias fragmentadas é outra característica sua. Ele influenciou gerações de diretores, entre os quais o mais famoso é Woody Allen, cujo ‘Desconstruindo Harry’ homenageia ‘Morangos Silvestres’. ‘Ele é provavelmente o maior diretor, desde a invenção da câmera’, disse Allen sobre Bergman.


O sueco desistira (temporariamente) do cinema em 1982, quando anunciou que passaria a dedicar-se exclusivamente ao teatro, após o longa-metragem ‘Fanny e Alexandre’, que marcou seu retorno à Suécia, e foi consagrado internacionalmente -teve seis indicações ao Oscar e venceu quatro estatuetas.


Memórias


O diretor se instalara na Alemanha, em 1976, depois de enfrentar uma escandalosa acusação de evasão fiscal em seu país. Chegou a ser detido para depor. Antes de ser absolvido, Bergman teve uma crise nervosa que o levou à internação.


Em suas memórias, ele conta que, nessa época, suas finanças eram geridas por um advogado e que assinou papéis sem ler.


‘Fanny e Alexandre’ faz um acerto de contas com a Suécia e a tumultuada infância do diretor. Bergman nasceu em Uppsala, a 70 km de Estocolmo, e foi criado segundo as rígidas regras de seu pai, um pastor protestante do qual ele se recordava como ‘um monstro frio’.


No livro autobiográfico ‘A Lanterna Mágica’, ele descreve as memórias da infância e o impacto delas em sua vida adulta.


O título se refere ao objeto que seu irmão ganhou, certa vez, de presente de Natal. A traquitana, espécie de precursor do projetor de slides, deixou Bergman consumido de inveja, até que conseguiu trocá-la com o irmão, por uma coleção de soldadinhos de chumbo.


Para a documentarista Marie Nyreröd, diretora de ‘Ingmar Bergman Completo’, o diretor relembra esse episódio como inaugural de seu interesse pelo cinema, mas conta que o fascínio pelo teatro era anterior.


Com a irmã, costumava encenar espetáculos de bonecos.


Em 1940, Bergman formou-se na Universidade de Estocolmo e, dois anos mais tarde, tornou-se diretor-assistente do Teatro Dramaten. De 1963 a 1966, ele dirigiu o Royal Dramatic Theater, em Estocolmo, conduzindo paralelamente a carreira de cineasta, iniciada com ‘Kris’ (crise), de 1945.


O primeiro sucesso internacional veio dez anos mais tarde, com ‘Sorrisos de uma Noite de Amor’, premiado como melhor comédia em Cannes.


Produzindo ininterruptamente até 1982 -com freqüência, dois títulos por ano-, Bergman dirigiu, em toda a sua carreira, 54 filmes, entre títulos para cinema e TV. No teatro, foram 126 montagens.


Autor de clássicos como ‘A Fonte da Donzela’, ‘O Sétimo Selo’, ‘Morangos Silvestres’ e ‘Sonata de Outono’, Bergman tinha ‘Persona’ e ‘Gritos e Sussurros’ como suas obras preferidas, segundo declarou a Nyreröd. ‘Foi o mais longe a que cheguei’, disse.


Embora tenha sido casado cinco vezes, a mais notória relação amorosa de Bergman foi a que manteve nos anos 60 com a atriz Liv Ullmann, com quem teve uma filha, Linn.


Bergman e Ullmann fizeram dez filmes juntos. Em 2003, ela dirigiu ‘Infiel’, cujo roteiro (dele) baseia-se na relação dos dois. Quando interrompeu seu jejum da direção de cinema para filmar ‘Sarabanda’, originalmente uma produção para TV, Bergman usou uma metáfora bíblica para descrever como se sentia. Disse que se descobriu ‘grávido de um filme’, assim como Sara, que, segundo a Bíblia, engravida na velhice.


Ilha de Farö


Desde que decidiu morar em Farö, a ilha que foi cenário para diversos de seus filmes, Bergman ganhou fama de misantropo. Contudo, o diretor continuava atento à produção artística de seu país, como demonstrou no documentário ‘Ingmar Bergman: Intermezzo’ (2002).


Entrevistado pelo jornalista sueco Gunnar Bergdahl, Bergman, vestido informalmente e calçando tênis, comenta os filmes da nova geração de diretores suecos, como os de Lukas Moodysson (‘Amigas de Colégio’), e conta que, na velhice, tornou-se insone.


A família de Bergman anunciou que o enterro do corpo do diretor ocorreria em cerimônia privada, para amigos íntimos. Com agências internacionais’


Inácio Araujo


Bergman filmava alma de personagens


‘A morte que ontem chegou para Ingmar Bergman acompanhou-o por toda a obra como uma de suas obsessões recorrentes. Tem presença até mesmo física em ‘O Sétimo Selo’ (1957), um de seus filmes mais célebres, onde um homem disputa com ela uma partida de xadrez (não é difícil imaginar o resultado).


A morte não era, no entanto, figura isolada em suas preocupações. Era parte de um mundo em que o homem é atirado por Deus para viver a aventura de ser único, uma solidão apenas mitigada, nos bons momentos, ao menos, por essa instituição periclitante que é o amor.


Em obra iniciada no pós-guerra e ao longo da qual realizou cerca de 60 filmes, entre produções para cinema e TV (sem falar do teatro), Bergman quase sempre indagou-se a respeito de Deus, deste Deus austero e silencioso que deixou os homens à própria sorte, o Deus cultuado pelo protestantismo dos países nórdicos, e em particular por seu pai, um pastor.


Bergman foi, no cinema moderno, o grande continuador da escola nórdica, de diretores como Carl Th. Dreyer, dinamarquês, ou Victor Sjostrom, sueco como Bergman e que pode ser visto como ator em ‘Morangos Silvestres’ (1957), grande momento da produção bergmaniana, em que um velho senhor, no ocaso da vida, pergunta-se sobre o que foi sua existência.


Se as questões, ora metafísicas, ora existenciais, pululam no cinema de Bergman, não é correto dizer que era um cinema exclusivamente da angústia. Assim como podia pensar na morte de forma obsessiva, era capaz de produzir um dos mais belos e vitais filmes sobre a juventude, como ‘Monika e o Desejo’ (1952), que o fez descobrir mundialmente no Festival de Cannes e, então, ser reconhecido como um dos grandes cineastas de seu tempo, ou enveredar pela política, como em ‘O Ovo da Serpente’ (1979).


Imagens únicas


Bergman foi menos original na temática do que na abordagem de seus temas. Sabia como ninguém filmar um primeiro plano. Aproximava a câmera de atores e atrizes e extraía imagens únicas, que não por acaso promoveram ao estrelato uma longa lista deles, de Harriet Anderson a Liv Ullman, passando por Ingrid Thulin, Bibi Anderson, Gunnel Lindblom -para ficar em algumas do lado feminino-, que contracenaram com Max von Sydow ou Erland Josephson, do masculino.


Talvez Bergman tenha sido mesmo ‘o cineasta do instante’, como definiu Godard em 1958: era o pensamento que ocorria mesmo que longinquamente a um determinado rosto que sua câmera levava ao espectador. Não penetrava na psiquê dos personagens. Penetrava na alma, de certa forma, mas sabia que só poderia fazê-lo por meio de seus corpos.


Qual o melhor Bergman? Haverá quem prefira o do início, o de, por exemplo, ‘Noites de Circo’ (1953), que o fez descobrir no Brasil (sim, Walter Hugo Khouri era grande fã desse filme notável), o dos anos 60, de ‘Persona’ (que no Brasil recebeu o nome infame de ‘Quando Duas Mulheres Pecam’), ou aquele já desiludido de Deus que se insinua nos anos 70 em, digamos, ‘Gritos e Sussurros’.


Bergman por vezes cansava, é verdade, já que seus filmes, feitos um atrás do outro pareciam por vezes repetir-se. Bastava dar-lhe uns anos de folga, no entanto, para que voltasse original. Como em seu último trabalho, ‘Saraband’, nunca exibido comercialmente entre nós, o que é apenas uma vergonha a mais de nosso sistema distribuidor. Bergman foi um dos grandes do cinema moderno: ver seu trabalho, uma última vez, é um direito que devia ser dado a todo espectador.’


Sérgio Rizzo


Diretor formou ‘santíssima trindade’


‘Ao lado do diretor japonês Akira Kurosawa (1910-1998) e do italiano Federico Fellini (1920-1993), Ingmar Bergman formou uma espécie de ‘santíssima trindade’ do cinema de autor no pós-guerra.


A imprensa e a crítica internacional os instalou nesse Olimpo com base na capacidade que seus filmes demonstravam de conciliar uma perspectiva singular do mundo com o trânsito em uma faixa de mercado mais ampla do que a oferecida por festivais e salas alternativas.


Não parece acidental que os três tenham sido generosamente agraciados com o Oscar de filme estrangeiro e com indicações nas categorias de direção e roteiro.


A indústria norte-americana, em sua maneira peculiar de hierarquizar obras e profissionais, reconhecia dessa forma um grau de excelência a ser homenageado.


Cinema de qualidade


Era o tal ‘cinema de qualidade’, nomenclatura que se refere, nesse contexto, a estruturas narrativas originais (ou que parecessem originais a parcela do público) empregadas para explorar temas ‘nobres’ em filmes ao alcance de platéias adultas que não fizessem parte da categoria de ratos de cineclubes e cinematecas.


Revelador desse prestígio, em relação a Bergman e a Fellini, é o comportamento do cineasta norte-americano Woody Allen ao mimetizá-los em alguns de seus filmes que já vão se tornando ‘clássicos’, como ‘Interiores’ (1978) e ‘Memórias’ (1980), entre outros.


E, em relação a Kurosawa, os esforços de George Lucas, Martin Scorsese e Francis Coppola para que seus derradeiros longas fossem produzidos e distribuídos.


Certa vez, Allen admitiu que gostaria mesmo era de fazer filmes como os de Bergman – que, em resposta que talvez significasse mais do que apenas retribuição bem-humorada à gentileza do colega, disse que adoraria ser capaz de fazer filmes como os de Allen.


Dois livros autobiográficos permitem que se investigue a trajetória e o pensamento de Bergman em busca de respostas para esse suposto desconforto entre artista e sua obra: ‘Lanterna Mágica’ (1987) e ‘Imagens’ (1990).


‘Toda a educação que eu e meus irmãos recebemos baseava-se praticamente em conceitos relacionados com pecado, confissão, castigo, perdão, indulgência, conceitos comuns nas relações entre pais e filhos, e que incluíam a idéia de Deus’, lembra o cineasta, no primeiro livro, em sua franca reconstituição da infância.


‘Imagens’


No final, depois de recapitular os principais momentos da carreira no teatro, no cinema e na televisão, menciona a descoberta de notas escritas pela sua mãe na conturbada semana em que nasceu, e empresta uma frase dela para encerrar as memórias: ‘A vida é assim mesmo: cada um tem de se arranjar o melhor que puder’.


Em ‘Imagens’, que reúne comentários sobre seus principais filmes, há uma epígrafe devastadora, retirada de uma anotação de agenda de trabalho de 1964:


‘Minha peça começa com o ator que desce à platéia, estrangula um crítico e, de um livrinho preto, lê todas as humilhações que sofreu e de que tomou nota. Depois vomita sobre o público. Em seguida, afasta-se e dá um tiro na cabeça.’


Imagine isso como um filme de Woody Allen.’


João Batista Natali


No teatro, dirigiu 126 peças e teve a ópera ‘A Flauta Mágica’ registrada por TV


‘É claro que Ingmar Bergman foi um fabuloso, um imenso cineasta. Mas ele apenas assumiu o controle da linguagem do cinema e conseguiu uma precisão absoluta na transposição em imagens de suas intenções porque também foi, antes de tudo, um homem de teatro.


Um de seus biógrafos contabiliza a direção cênica de 126 espetáculos teatrais. Fez Shakespeare, Ibsen, Tchekov, Schiller, Molière, Brecht, Tennessee Williams e, sobretudo, o dramaturgo sueco August Strindberg, por quem sentia uma particular afinidade.


Há também sua relação com a ópera. Foi seu primeiro emprego, o de assistente na Ópera Real de Estocolmo.


Nesse campo temos um único testemunho, ‘A Flauta Mágica’, de Mozart, filmada no Teatro Drottningholm, de Estocolmo. A ópera só foi gravada porque a televisão sueca se interessou pelo espetáculo. E foi assim que os mozartianos souberam como Bergman concebia o histriônico Papageno, cantado por Hakan Hagegard, ou a ambígua Rainha da Noite, papel de Birgit Nordin.


Infelizmente, no entanto, o Bergman diretor de ópera foi um artista desconhecido para os que não presenciaram seus espetáculos. Nos anos 40 e 50, a única maneira de eternizar uma produção era filmá-la, com custos elevadíssimos.


Há também uma outra contingência. A Suécia -ao contrário do Reino Unido, da Itália ou da Alemanha- nunca esteve no circuito lírico de primeira linha na Europa. As pessoas não se deslocavam de outros países para assistir suas montagens. Bergman foi, por isso, um diretor quase doméstico. Como teria sido seu ‘Ring’, de Richard Wagner? Ou sua ‘Elektra’, de Richard Strauss?


Seu trabalho é relatado por críticos que notavam em sua direção cênica duas características também presentes no cinema: a utilização da iluminação e da beleza, não como um recurso estético que se esgotava em si mesmo, mas como ferramenta a serviço da dramaturgia. Em seguida Bergman foi absolutamente fiel aos textos que interpretava. Se fosse maestro, teria sido um Arturo Toscanini.’


DOW À VENDA
Folha de S. Paulo


News Corp. diz que negócio pode não sair


‘Com apoio garantido de apenas parte dos Bancroft, principais acionistas da Dow Jones (dona do ‘Wall Street Journal’), um porta-voz da News Corp. disse que, caso mais integrantes da família não aceitem a oferta de US$ 5 bilhões, é ‘altamente improvável’ que o negócio prossiga. A declaração foi feita antes da votação em que os Bancroft decidiram se aceitam a proposta de Rupert Murdoch. O resultado deve ser anunciado hoje.’


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
John Markoff


Um ano antes de sair, Gates mantém rédeas da Microsoft


‘DO ‘NEW YORK TIMES’ – A Microsoft vem enfrentando recentemente a concorrência mais forte que encontrou em décadas, e Bill Gates, que co-fundou a empresa 32 anos atrás, ainda assim não abandonou seus planos de renunciar ao comando da companhia no ano que vem.


Mas a influência de Gates, 51, presidente do conselho da empresa, até agora não exibiu sinais de declínio. O primeiro ano do período de transição de 24 meses acabou sem indicações visíveis de que ele esteja pronto para deixar o cenário da tecnologia mundial, dedicando suas energias primordialmente a sua fundação filantrópica.


De fato, na reunião anual da empresa com analistas financeiros, uma semana atrás, Gates foi o primeiro palestrante, delineando a agenda para os próximos dez anos, e não uma simples perspectiva anual.


Em entrevista concedida na semana passada, Gates insistiu que ele realmente começou a reduzir a sua participação. É certo, porém, que existe ceticismo generalizado sobre a possibilidade de que ele de fato se afaste da empresa. O domínio da Microsoft está enfrentando seu maior desafio, especialmente do Google. E Wall Street não parece acreditar que a empresa seja capaz de preservar sua liderança. As ações do grupo estão mais ou menos paradas desde a explosão da bolha da internet, no início da década.


Na conversa em seu escritório, Gates tinha a companhia de dois executivos da Microsoft, veteranos da tecnologia que são encarregados de sucedê-lo: Craig Mundie, vice-presidente de pesquisa e estratégia, e Ray Ozzie, vice-presidente de arquitetura de software.


O maior perigo, segundo os três executivos, seria que Gates continuasse tomando decisões sem que esteja profundamente envolvido. Ele manterá seu posto como presidente do conselho da empresa. ‘Não pode existir uma situação em que esperemos que ele, em um passe de mágica, surja informado sobre tudo’, disse Ozzie.


De sua parte, Gates afirma que planeja se manter profundamente envolvido em algumas áreas, por prazo indefinido. ‘Além das reuniões do conselho, não pretendo ter uma grande agenda regular de reuniões’, afirmou. ‘Mas vou conversar com Craig duas horas por mês, conversar com Ray duas horas por mês.’


Mas ao transferir o comando da tecnologia da Microsoft a Mundie e Ozzie, ele deixa a empresa em meio a uma radical transição no setor de computação. O setor está correndo a adotar um modelo de ‘software como serviço’. Trata-se de uma visão que a Microsoft adotou, ao menos parcialmente. A empresa decidiu designar sua estratégia como ‘software mais serviços’, uma abordagem cujo objetivo é proteger a base de software instalada do grupo.


Para ele, o centro de gravidade no setor de computação mudou dramaticamente em favor do software. ‘Por que você gosta do seu iPod, do seu iPhone, do seu Xbox 360?’, disse Gates. ‘O ingrediente mágico não são os componentes que compramos para o Xbox, ou que a Apple compra para o iPhone, mas o software que os aciona.’ Tradução de PAULO MIGLIACCI’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Contra Madri, Chicago


‘No título do ‘New York Times’, ‘Brasil tem nota de aprovação’. No texto, ‘Rio estava preparado para os Jogos Pan-Americanos, afinal’. Cita alguns ‘problemas’ e só. No site do ‘Washington Post’, com despacho da Reuters, ‘Rio de olho em coisas maiores’.


No ‘El País’, o título foi ‘Brasil encerra os melhores Pan-Americanos da história’, mais o subtítulo ‘O país sul-americano espera poder organizar os Jogos Olímpicos de 2016, em que Madri também será candidata’.


No ‘Chicago Tribune’, com reprodução no ‘Los Angeles Times’, o título foi ‘Rio passa no teste, mas os Jogos querem o melhor’, mais o subtítulo ‘Cidade sai à frente para 2016’. No texto, o diretor do Comitê Olímpico dos EUA avalia que o Pan ‘certamente será visto como positivo, mostrando que eles são capazes de se aprimorar para sediar Jogos Olímpicos’. E ‘isso certamente vai fazer Chicago e o Comitê americano trabalharem mais para apresentar proposta melhor’.


QUER MAIS


O ‘Café com o Presidente’ e as emissoras de televisão também trataram de uma eventual Olimpíada no Rio.


No exterior, as declarações do presidente ecoaram sobretudo na Argentina, como no ‘Clarín’, sublinhando a passagem ‘nos deram uma credencial para organizar uma Copa ou uma Olimpíada’, e no ‘Diário Hoy’, sob o título ‘Agora Lula quer Mundial e Jogos Olímpicos’. Num título curioso de site esportivo, sobre Lula, ‘Quero mais!’.


COPA OU OLIMPÍADA


Nos sites de busca de notícias do Brasil, um despacho da France Presse liderou ao longo da tarde, ‘A candidatura do Brasil para sediar a Copa do Mundo de 2014’. É que o país encaminha hoje, ‘oficialmente’, a postulação. O texto registra a reação da Fifa de que, ‘mesmo se o Brasil for o único candidato, ainda não’ levou.


E um ‘europeu’ do Comitê Olímpico Internacional avisa que ‘o COI não gosta de ser sobremesa, vir depois de outro grande evento esportivo’.


‘BOOM’ À BRASILEIRA


‘O mercado de ações do Brasil vive um boom’, começou a longa reportagem do ‘Wall Street Journal’, ‘mas regras antiquadas levam investidores a denunciar que o campo é minado contra minoritários’. O ‘WSJ’ toma por exemplo a venda da Ipiranga, que beneficiou ‘famílias que fundaram’ a empresa bem mais que ‘outros investidores’. Nos EUA, em contraste, negócios assim seriam ‘incomuns’, hoje.


Já o ‘Financial Times’ voltou a falar da ‘transformação’ nos emergentes, em destaque os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), que não seriam mais só para os investidores com ‘estômago forte para o risco e pernas longas para correr’.


RICOS E A EMBRAER


Agências como Thomson Financial noticiaram que os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, os ‘ricos’, ‘e o Brasil chegaram a um acordo sobre o financiamento à exportação de aeronaves’.


Surgiu antes nos sites do Departamento do Tesouro dos EUA e da própria OCDE, com a avaliação de que foi ‘um avanço em diplomacia comercial internacional’, até ‘um marco’. E que o Brasil ‘tomou parte de um acordo da OCDE pela primeira vez’.


DOHA, DE NOVO


No encontro do presidente dos EUA com o primeiro- ministro britânico, segundo ‘WSJ’ e agências, voltaram as promessas de um acordo na Rodada Doha, sobre comércio internacional -e eventual queda de subsídios. Partiram sobretudo de Gordon Brown, dizendo que ‘concordamos que o contato entre os líderes será acelerado’ para fechar o acordo ‘no futuro próximo’.


Já George W. Bush disse que ‘Brown trouxe algumas sugestões interessantes, ele está otimista, e eu também’.


O BLOG DE LUÍS FAVRE


Começou com o registro das ‘leituras’ do dirigente petista, como no caso da pesquisa Vox Populi (Alckmin 31%, Marta 28%). Agora já partiu para ‘opiniões’, como no post de ontem sobre os ‘oportunistas e aproveitadores’ que usam familiares dos mortos com fim político. Mas ele propõe não ‘esconder nossos erros na denúncia fácil da ‘elite branca’.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Anatel faz pesquisa sobre TV paga


‘A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) vai fazer uma pesquisa nacional para aferir a satisfação do usuário de TV paga em relação aos serviços prestados pelas operadoras.


Segundo Ara Apkar Minassian, superintendente de serviços de massa da agência, a pesquisa ficará pronta até o final do ano e poderá influir na regulamentação do setor, que deixou de ser apenas distribuidor de sinais de televisão e incorporou internet rápida e telefonia, o que aumentou as queixas dos consumidores. Esse mercado deve crescer 15% neste ano.


O número de reclamações contra a TV paga na Anatel explodiu neste ano. Em dezembro de 2006, a agência recebeu 657 queixas. Em abril de 2007, foram 1.800. Segundo a Anatel, a grande maioria das queixas são de telespectadores insatisfeitos com o processo de digitalização da Net, que deixou fora do line-up digital os canais básicos (TV Câmara, TV Senado). Esse problema, no entanto, será resolvido até o final do ano.


Será a segunda pesquisa de satisfação na TV paga. ‘Há três anos, 68% dos usuários estavam satisfeitos com o cabo, 75% com o DTH (TV paga via satélite) e 70% com o MMDS (TV paga via microondas)’, lembra Minassian.


A pesquisa balizou a Anatel a implantar, no ano passado, o PGQM (Plano Geral de Metas Qualidade) para a TV paga, com indicadores de reclamações e erros em contas, entre outros.


SEM PRESSAO Clube dos 13, entidade que negocia os direitos de TV dos principais times brasileiros, pediu até o final do ano para a analisar a proposta da Record para transmitir o Campeonato Brasileiro a partir de 2009.


SEM FOMEA Record ofereceu R$ 600 milhões por ano pelo futebol. Mas há rumores de que o C13 renovará com a Globo por bem menos: R$ 480 milhões. Mas já é mais do que recebe atualmente: R$ 300 milhões.


BOLA MURCHAO futebol na Globo não é mais o mesmo. Anteontem, Juventude x Palmeiras deu 20 pontos. O ‘Domingão do Faustão’ rendeu mais: 21. Normalmente, é o contrário. E o ‘Fantástico’ marcou só 26 pontos _já deu dez a mais.


CARIMBO 1Com duas semanas de atraso, a Record começou ontem a gravar ‘Caminhos do Coração’, sua próxima novela, em Miami. A emissora teve dificuldades para conseguir visto especial para gravação nos EUA, principalmente para os técnicos.


CARIMBO 2A Record levou 25 profissionais para os EUA. Participam das gravações Leonardo Vieira, Alexandre Barillari e o americano Lance Henriksen.


PRATO DO DIAA Globo teve que engolir a ‘dança do siri’, criação do ‘Pânico na TV’, em comemorações no Pan. Primeiro, foi no handebol. Anteontem, foi a vez dos atletas do basquete. E Galvão Bueno não pôde disfarçar. Informou que os jogadores faziam a ‘dança do siri’.’


************