Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Mulheres ainda são marginalizadas na mídia

Elas são 50% da população mundial, mas raramente são representadas na televisão, no rádio e na imprensa em todo o mundo, de acordo com o relatório ‘Who Makes the News?’ (Quem faz as notícias?), publicado em Londres na semana passada pelo Projeto Global de Monitoramento da Mídia, como noticia Stephen Pritchard [The Observer, 16/2/06].

O projeto dividiu equipes em 76 países para assistir à TV, ler jornais e ouvir a programas de rádio em um dia escolhido aleatoriamente – 16 de fevereiro do ano passado – a fim de mapear a representação de homens e mulheres na imprensa no mundo inteiro, na mais extensa pesquisa sobre gênero na mídia global. Foram analisadas 12.893 matérias, com 25.671 fontes diferentes e divulgadas ou apresentadas por 14.273 profissionais da mídia.

As equipes descobriram – levando em conta as diferenças culturais em todo o mundo – que os especialistas que aparecem nos noticiários são predominantemente do sexo masculino. Os homens representam 83% de todos os especialistas e 86% daqueles que aparecem nas notícias como porta-vozes. Já as mulheres aparecem mais como vozes que expressam experiências pessoais (31%) e representando a opinião popular (34%).

Para cada mulher que aparece nos noticiários, há quatro homens; ou seja, apenas 21% delas aparecem nas notícias. Em relação à política, a lacuna é ainda maior: apenas 14% das mulheres são tematizadas nestas pautas. Quando as mulheres estão nas páginas dos jornais ou na televisão, são principalmente em notícias ‘leves’, como sobre celebridades (42%), donas-de-casa (75%) ou estudantes (51%).

A mídia também aponta desproporcionalmente as mulheres como vítimas. Em matérias de acidentes, crimes e guerra, que na verdade afetam ambos os sexos, elas são representadas em dobro – 19% de mulheres em comparação a 8% de homens. As mulheres também tendem a aparecer mais em fotos do que os homens. Em artigos sobre crime, violência ou acidentes, fotos de mulheres aparecem mais para efeito dramático e para ‘decorar’ as páginas.

Mais na TV, menos no jornal

Em relação a repórteres e apresentadores, a situação não é muito diferente – exceto na televisão, onde 57% das notícias são apresentadas por mulheres. Na redação dos jornais, apenas 29% dos jornalistas são do sexo feminino. As mulheres jornalistas predominam em matérias sobre temas sociais, educação e relações familiares (40%). Metade das notícias sobre celebridades é escrita ou apresentada por mulheres e apenas 32% de notícias políticas são apresentadas por elas. Os homens ainda dominam o espaço das notícias consideradas ‘sérias’, como aquelas de política e economia.

Este é o terceiro relatório do gênero – os primeiros ocorreram em 1995 e 2000 – e desde então os números não mudaram muito. No primeiro, apenas 17% dos assuntos das notícias eram relacionados às mulheres. O estudo apresenta vários fatores para este resultado. Um deles seria a falha do movimento feminista em influenciar executivos de mídia em todo o mundo; outro seria o fraco papel dos sindicatos de profissionais da imprensa, que permitiram que as jornalistas fossem sub-representadas, marginalizadas ou exploradas.