Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Nomes, pronomes e leitores atentos

O tema da coluna de domingo [14/9/08] do ombudsman do New York Times, Clark Hoyt, foi a cobertura do diário sobre os candidatos à presidência americana. Hoyt questiona algumas atitudes, como o uso do sobrenome de Barack Obama, Hussein, em algumas matérias. Este nome do meio foi usado, recentemente, quando o candidato aceitou a nomeação Democrata na convenção do partido em Denver. ‘Teria sido uma sabotagem, como alguns leitores suspeitaram, ao colocar uma sugestão não tão sutil de que ele seria muçulmano ou ainda, de alguma forma, relacionado ao ex-ditador do Iraque?’, escreveu o ombudsman.

As mesmas dúvidas pairam sobre o uso do pronome de tratamento usado para se referir à candidata republicana à vice-presidência, Sarah Palin. ‘Por que o NYTimes usa Ms. [para senhoras, sem especificar se é casada] em vez de Mrs. [para casadas]? O diário está classificando-a como uma liberal feminista ao chamá-la assim?’, indaga Hoyt. Sarah é casada e tem cinco filhos.

Regras

Apesar das reclamações de leitores, ambas as decisões editoriais foram baseadas em normas de redação e, segundo jornalistas do NYTimes, não têm nada de inclinação política. Ainda assim, muitos leitores suspeitam dos motivos do diário e estão sempre alertas para qualquer sinal de parcialidade. A leitora Susan Branigan, de Chicago, ficou intrigada ao ler ‘Ms. Palin’ em referência à republicana Sarah, e Mrs. Clinton em referência à democrata Hillary. A resposta é simples: é assim que cada uma prefere ser chamada. O NYTimes é um dos últimos jornais do país a ainda utilizar este pronome de tratamento e, portanto, tem como prática perguntar às mulheres com elas gostariam de ser chamadas.

Logo após a indicação de Sarah à chapa republicana, o repórter que cobre a campanha de John McCain para o diário, Michael Cooper, enviou uma mensagem à porta-voz da candidata, Maria Comella, para saber que pronome seria apropriado. No sítio do diário, Sarah já foi chamada de governadora Palin, Mrs. Palin e Ms. Palin. Desde que Maria especificou o termo preferido por ela, estabeleceu-se o padrão Ms. ou governadora.

Em relação ao sobrenome de Obama, o diário tem três normas diferentes para o uso do nome do meio – o candidato chama-se Barack Hussein Obama. Uma destas normas diz que personalidades devem ser chamadas da maneira que preferirem – não se escreve, por exemplo, William J. Clinton, para se referir a Bill Clinton. Obama prefere simplesmente Barack Obama e é assim que seu nome vem escrito na maior parte das vezes.

Tradição

No dia 28/8, no entanto, foram publicados três vezes o nome ‘Barack Hussein Obama’ na capa do NYTimes. Jodi Kantor, repórter que escreveu o artigo, explicou que, em sua rubrica – que traça perfis de pessoas em destaque na mídia –, costuma usar o nome do meio nas manchetes e na primeira referência que faz à pessoa. Trata-se de uma tradição: desde 1960, todos os candidatos à presidência que figuraram nesta rubrica tiveram seus nomes do meio publicados.

Já nas matérias principais, o editor Chuck Strum explica que o diário costuma usar os nomes completos de pessoas importantes – como presidentes ou candidatos – nos primeiros parágrafos. ‘Chame isto de ornamentação, ou de um detalhe a mais’, diz. No entanto, esta regra não é sempre aplicada: em 2000, o jornal escrevia George Walker Bush e, em 2004, passou a chamar o presidente dos EUA apenas de George W. Bush.