Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O contrapé de um dilema ético

Só existe um dilema ético quando existem conflitos de interesses justificáveis. A corrupção a que estamos acostumados a ler nos jornais, ou o desvio de verbas públicas, não constituem dilemas éticos. São atos desonestos e ponto. Não há dúvidas quanto ao que é correto. Mesmo aqueles que praticam o delito, se descobertos, não invocam uma causa, uma justificativa. O mais comum é simplesmente a negativa, mesmo diante de vídeos e gravações que provam o contrário. Outra atitude comum é a simples defesa do ‘todo mundo faz…’, como quando o presidente Lula se referiu ao caixa 2 do PT e dos demais partidos. Como se isso o exonerasse de alguma responsabilidade. É o mesmo raciocínio de quem dá uma pequena propina para o guarda de trânsito ou aceita pequenos delitos. Ainda assim, não se tratam de dilemas éticos. Nestes exemplos, é claro para todos o que é certo e o que é errado.

Indo a uma situação extrema para exemplificar um dilema ético, uma mãe diante de salvar o seu filho ou várias crianças. Um tipo de ética, o de princípios, poderia apontar que a vida, mesmo a de um filho, não pode valer mais do que a de algumas crianças. Um outro tipo de ética, a da responsabilidade, poderia evocar que a mãe tem a responsabilidade ética de proteger a vida de seu filho, sendo correta esta escolha. Não sei o que você, leitor, pensa, faria ou defenderia, mas seja como for estaria estabelecido um dilema ético, onde ambas as escolhas podem ser justificadas.

A defesa da transparência, da verdade e da liberdade de expressão são inquestionáveis. Em todas as circunstâncias? Mesmo quando poderiam provocar consequências desastrosas, inclusive de conflitos de âmbito mundial, colocando vidas em risco? Há um sim, assim tão absoluto? Em todas as circunstâncias e momentos? O imperativo de Kant: ‘Aja de modo que tu também possas querer que a sua máxima se torne lei geral’, pode ser aplicado em casos assim?

‘Cadê a defesa de liberdade de expressão?’

A mim, pareceu que boa parte da imprensa mundial se viu em um dilema. A liberdade de expressão é uma bandeira inquestionável, mas vale também para o mundo diplomático real, cuja falta de transparência, mantém o mundo político em equilíbrio?

A tecnologia não para de provocar dilemas éticos (uso de embriões para pesquisa, alimentos transgênicos, riscos da energia atômica, clonagem de seres vivos, desenvolvimento econômico x recursos ambientais… e tantos outros). Estamos diante de um dilema ético? Lula, que tantas vezes deu sinais de querer ameaçar a liberdade de expressão no país, sendo devidamente criticado por isto, foi um dos que primeiro gritou: ‘Cadê a defesa de liberdade de expressão? Eu não estou vendo ninguém defendendo o WilkiLeaks’, falou de forma irônica. Será que a imprensa mundial (ou boa parte dela) foi pega num contrapé diante de um dilema ético?

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Sócio da Resultado Consultoria de Marketing e Vendas e vice-presidente da ADVB-PR