Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O nome do terrorista

Está na edição de sexta-feira (27/8) de O Globo um belo exemplo da investigação em jornalismo. Em pleno período eleitoral, quando o Brasil celebra o amadurecimento de sua democracia, o repórter Chico Otavio desvenda um dos episódios mais obscuros do período da ditadura militar – a formação de um grupo terrorista dentro do aparato estatal, cujo objetivo era interromper o processo de redemocratização.


Sua ação mais ruidosa foi o atentado ao Riocentro, fracassado pela inabilidade de um especialista em bombas, o sargento Guilherme Pereira do Rosário. O sargento Rosário morreu na ocasião, quando explodiu em seu colo a bomba que deveria provocar uma tragédia durante um show de música popular na noite de 30 de abril de 1981, em comemoração ao Dia do Trabalho.


Meses antes, às 13h40 do dia 27 de agosto de 1980, uma carta-bomba enviada à sede da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro havia provocado a morte da secretária da entidade, Lyda Monteiro. O governo da época, dirigido pelo general Ernesto Geisel, obstruiu as investigações e a autoria dos atentados continuou restrita ao cadáver do sargento Rosário no Riocentro.


Hora da justiça


O Globo revela o nome do provável parceiro de Guilherme Pereira do Rosário nos atentados terroristas que se sucederam entre 1970 e 1980: segundo a reportagem, ele se chama Magno Cantarino Motta, tem hoje 65 anos de idade e vive na reserva como segundo-tenente.


Procurado pelo repórter, ele se negou a falar, mas certamente não deverá permanecer mudo por muito tempo. Os oficiais superiores que o protegiam e de quem ele recebia ordens são bastante conhecidos como os integrantes da chamada ‘linha dura’, que queriam manter o Brasil sob o regime ditatorial.


Os siderados de plantão vão alegar que a anistia perdoou a todos e que o criminoso deve ser deixado em seu sossego. Mas não se deve esquecer que ele, seus companheiros e líderes usavam o aparato do Estado para cometer atentados, com a intenção de aterrorizar a população.


O Brasil mudou, as Forças Armadas se afastaram de aventuras políticas e a sociedade não está disposta a tolerar o autoritarismo.


Agora é hora de todo o resto da imprensa seguir O Globo, aprofundar a investigação, revelar o passado do terrorista e de seus apoiadores, e exigir que se faça justiça, enfim, a dona Lyda Monteiro.