Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

O poder do ‘baixo clero’

Jornais e revistas concentraram sua atenção, durante os últimos dias, no deputado Edmar Moreira (DEM-MG), que esteve corregedor e segundo vice-presidente da Câmara por uma semana e será imortalizado como o dono do castelo. Resultado: ele se viu obrigado a renunciar aos cargos para tentar salvar o mandato. Provavelmente esse será o desfecho do escândalo, se a imprensa afrouxar o rigor com que cobriu o efêmero momento de celebridade de Edmar Moreira.


O episódio é apenas mais uma amostra do que é o Congresso Nacional depois que o chamado ‘baixo clero’ deixou os bastidores e se atreveu a sair para a política à luz do dia.


‘Baixo clero’ é a expressão criada no tempo do deputado Ulysses Guimarães, um dos líderes do processo de redemocratização do país, para definir o poder dos deputados de pouca expressão movidos principalmente por interesses paroquiais ou pessoais.


Eles sempre foram uma força política expressiva, mas costumavam atuar nos porões do Legislativo, engordando com as migalhas das disputas entre as figuras mais renomadas que frequentam o noticiário.


A ascensão do senador José Sarney (PMDB-AP) e do deputado Michel Temer (PMDB-SP) ao comando das duas casas do Congresso acendeu os holofotes sobre personagens como Edmar Moreira.


Índices vergonhosos


Levado à Mesa Diretora por conveniência do ‘baixo clero’, que precisa ter um aliado na Corregedoria para seguir praticando seus pequenos negócios, Edmar se empolgou e andou anunciando que não pretendia correger, consertar, sanar coisa nenhuma. Os parlamentares sofrem, como ele declarou, do ‘vício da amizade’, razão pela qual tudo sempre segue como sempre foi.


Foi então que a imprensa descobriu seu castelo, e por trás dele uma sólida carreira de trambiqueiro com mandato legislativo.


Mas, apesar da marcação cerrada dos jornais e revistas brasileiros, não foi a imprensa nacional que fez o melhor retrato do que vem a ser o Senado e a Câmara nas mãos de Sarney e Temer. É a revista britânica The Economist, na edição que circula desde sexta-feira (6/2), que chama a atenção para o que significa a nova-velha direção do Congresso Nacional.


O título da reportagem da Econimist não poderia ser mais explícito: ‘Onde dinossauros ainda vagam’, anuncia o texto, que considera a eleição de Sarney para a presidência do Senado como a ‘vitória do semifeudalismo’.


A reportagem traça um perfil do veterano político e do poder de sua família no Maranhão, observando que, em quinze anos de domínio da família Sarney, o estado ainda tem uma taxa de mortalidade infantil 60% mais alta do que a média do Brasil.