Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O ‘pouso de emergência’ do Q!

No segundo semestre de 2005, este Observatório registrou o aquecimento do mercado de jornais econômicos que se observava no Rio de Janeiro. Os professores Paulo Oliveira e Wedencley Alves são autores de alguns dos textos, publicados entre junho e novembro, dedicados ao fenômeno, traduzido no lançamento de dois tablóides [ver remissões abaixo].

Econômicos em preço e conteúdo, consagrados ao segmento jovem e à leitura rápida, vieram a público o Meia Hora e o Q!, gestados em modelos europeus, na concorrência com os meios eletrônicos e nos movimentos dos herdeiros da família O Dia num mercado de leitores e anunciantes escassos.

Lançado em setembro, o Meia Hora continua circulando, fiel a sua proposta de enfrentar o Extra global em sua seara de crimes, futebol, televisão e futilidades. Já o vespertino Q! circulou de 6/11 até há um mês, período em que alimentou expectativas e que se encerrou com frustração para leitores que começavam a cultivar o hábito e para os profissionais envolvidos. Divulgação em outdoor, jornaleiros na rua, convênio com ONG, tiragem recorde, tudo foi reduzido a um cantinho no site da FM da família, que aponta para textos remanescentes do esforço de produção do Q!.

Fiasco previsível

Os blogs Coleguinhas, Uni-vos! e DizVentura e o site Comunique-se abrigaram debates sobre possíveis causas e conseqüências. Discutiu-se a viabilidade de um vespertino em tempos de internet, o caminho sem volta de uma retirada de circulação e, finalmente, o destino dos profissionais que participaram do projeto e perderam seus empregos (junto com mais de 100 jornaleiros). Rescisões de contratos com menos de 90 dias não são homologadas pelo Sindicato dos Jornalistas.

Reproduzido nesses espaços, o editorial que fez o anúncio oficial do fim ‘temporário’ do Q! pretendeu justificar a decisão que busca ‘preservar uma marca’ e o ‘investimento em pesquisa e desenvolvimento’. Como observou certo comentarista num dos blogs, ‘nenhuma palavra sobre os jornalistas que ralaram loucamente no projeto, nenhum agradecimento (…) Jornalista era um mero detalhe’.

Noutro espaço, um dos jornalistas da equipe demitida lamenta alguns dos problemas do Q!: a falta de planejamento, a distribuição insatisfatória, a desproporção entre repórteres e editores e as capas frias de um projeto que ‘tinha tudo para dar certo, tirando quase tudo’. Outro debatedor viu no fim do projeto ao cabo de 60 dias algo mais do que previsível. ‘Marqueteiros encontrando nichos de mercado que eles juram inexplorados (…) podem testar todas as teorias para fazer um porco voar, mas porcos não voam porque não têm asas’.

Portanto, não teriam sido apenas capas frias, falta de furos ou de foco editorial, nem excesso de ousadia do projeto o que impediu o Q! de voar mais alto. Da rapidamente evanescente memória dos fiascos anunciados, fica seu pouso de emergência devidamente anotado aqui.

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Jornalista