Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O risco de se tornar um presidente rabugento

O presidente Lula continua desorientado em matéria de imprensa. O ‘fenômeno midiático’ continua cometendo erros primários que desmentem o seu proverbial faro para chegar às primeiras páginas. Alguém o aconselhou a bater forte na imprensa e ele obedeceu. Primeiro em Quixadá (sexta, 26/8), em seguida em Uberlândia (30/8).


Os novos gurus imaginaram que ao abrir o berreiro contra a mídia, o presidente produziria grandes manchetes. Produziu – contra ele.


O chanceler Celso Amorim foi na mesma linha. Ao depor na Comissão de Relações Exteriores desancou a imprensa por não acreditar e, mais do que isso, por solapar a política externa. Recebeu mais traulitadas.


A estratégia de ficar de mal com a mídia está completamente equivocada. A última coisa que um governo fragilizado deve fazer é fragilizar-se ainda mais. Certos setores da imprensa – sobretudo certos opinionistas que tanto o ajudaram a chegar ao poder – optaram pelo estilo panfletário e carbonário. Os semanários, porque só têm dois dias para aparecer, às vezes exageram no tom. Mas isto não é novidade.


O presidente ainda conta com bom suporte da mídia. Não é hora para desperdiçá-lo. Este espírito de rinha, inútil e desgastante, curiosamente contrasta com uma inesperada intimidação. Lula sempre passou a impressão de corajoso, agora passa a de acabrunhado.


O pior


Se fosse assistir ao jogo Brasil x Chile, como estava previsto, poderia ser recebido eventualmente com algumas vaias iniciais, mas com a bola em campo reverteria o jogo. E com a goleada da Seleção poderia abiscoitar bons dividendos.


Esta fúria contra a imprensa é desastrosa, em primeiro lugar porque não lhe fica bem, é antinatural. Em segundo lugar porque é genérica, vaga, imprecisa. Não cola.


A população está muito feliz com a mídia que tem. Não percebe os exageros ou vícios, percebe a novidade: a maravilhosa oportunidade de participação política através das comissões de inquérito acompanhadas em tempo real. Isso é melhor do que mil comícios.


Mais alguns ataques contra a imprensa e o presidente passará a impressão de velho rabugento. É a pior coisa que pode lhe acontecer.