Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O vaivém da imprensa

A sucessão de notícias na semana que marca o começo efetivo do ano novo apresenta um mosaico de velhos problemas.


O Globo informa que cerca de 70% dos homicídios no Rio envolvem o tráfico de drogas. Na segunda-feira (14/1), o jornal carioca noticia que um batalhão de 150 traficantes armados passeou pela cidade para invadir favelas do complexo da Maré, em busca de novos domínios.


Os bandidos roubaram pelo menos vinte carros, à luz do dia, para realizar sua operação de guerra e não foram sequer importunados pela polícia. Isso logo depois que a polícia derrubou uma fortaleza dos traficantes no morro da Mangueira, e as autoridades saíram nos jornais louvando sua própria coragem e eficiência.


Foi como se alguém pulverizasse inseticida num ninho de baratas e depois ficasse assistindo a mudança dos insetos para outro canto.


Na outra série, os jornais vão aumentando as referências a novos casos de febre amarela, e a cada edição os mapas de incidência da moléstia vão ampliando a mancha que indica as áreas de risco.


O ministro da Saúde sai a público para afirmar que não há perigo fora das regiões onde a doença é endêmica, os jornais também citam especialistas para tranqüilizar a população, mas as filas nos postos de vacinação continuam a crescer.


Problemas endêmicos


Numa terceira série, a imprensa abrigou alertas sobre um possível surto inflacionário no rastro das mudanças tributárias que se seguiram à extinção da CPMF. Além disso, acendeu sinais de preocupação com relação ao risco de um ‘apagão’ no setor energético.


Em seguida, os jornais publicam os indicadores de inflação, que desmentem as previsões. E ajudam a reduzir as preocupações com a energia, o que desestimula um esforço espontâneo da população pela redução do consumo.


Essas idas e vindas no noticiário denunciam certa falta de credibilidade das autoridades, em todos os escalões.


De fato, a persistência de problemas endêmicos, como a violência nas grandes cidades e os surtos de moléstias consideradas sob controle são razões suficientes para a população desconfiar da eficácia das políticas públicas.


Mas quando os jornais embarcam no vaivém do noticiário sem pausa para reflexões, é a credibilidade da imprensa que vai para o ralo.

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Jornalista