Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

O Estado de S. Paulo

INTERNET
Marili Ribeiro

Maior portal de anúncios do País, ZAP estréia hoje com 200 mil ofertas

‘Estréia hoje na internet o ZAP, o maior portal de anúncios classificados do mercado brasileiro. Resultado da parceria entre o Grupo Estado e a Infoglobo (empresa de jornais das Organizações Globo), o ZAP entra no ar com mais de 200 mil anúncios, distribuídos em quatro seções com ofertas de veículos, imóveis e empregos, além de uma área batizada de Mix, que reúne oportunidades de negócios, como venda de antiguidades, games, coleções ou utensílios usados.

Para os usuários, a partir de agora, basta conectar-se e navegar por um só endereço para obter vasta gama de informações sobre produtos e serviços. O portal não tem similar em outros sites de classificados online. Para os anunciantes, pessoas físicas e jurídicas, o novo portal oferece espaços com preços que oscilam de R$ 8,00, para anúncio simples pelo prazo de um mês na seção Mix, destinada a pessoas físicas, a até R$ 2 mil, para pacotes mais complexos de planos corporativos.

O ZAP, como explica o diretor executivo da operação, Roberto Nascimento, nasce com proposta de navegação bastante simplificada, capaz de permitir ao usuário obter o maior número de ofertas com um menor número de cliques. ‘Nos sites disponíveis atualmente no segmento de classificados online, as respostas para uma busca de produtos vêm em bloco, deixando a navegação bem mais demorada’, diz.

Organizado por um sistema de filtros específicos, o ZAP pretende dar ao internauta mais alternativas em uma única página. ‘Na busca para a compra de um carro, por exemplo, uma vez discriminado fabricante, modelo, Estado e cidade, surge na tela uma página com as opções na categoria e também os destaques oferecidos, o que facilita a escolha’, diz Nascimento.

Após essa primeira etapa, um novo clique sobre a opção mais atraente na tela fará o usuário acessar uma ficha detalhada do veículo, com até 20 fotos, além de pôr à disposição um mapa de localização para que o comprador chegue concretamente à escolha virtual que acabou de fazer.

O novo portal de classificados online do Grupo Estado e da Infoglobo é uma evolução da plataforma Planeta Imóvel, existente desde 2000 na internet, que virou o maior site do mercado imobiliário do País. As duas empresas decidiram aperfeiçoar o sistema, ampliar a oferta de serviços e unir suas estruturas comerciais com a expertise em venda de classificados. A empresa ZAP passa assim a contar com mais de 400 vendedores, além de representantes em todo o Brasil, comercializando a versão online dos anúncios dos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, do Grupo Estado, e também O Globo e Extra, da Infoglobo. O Diário de S. Paulo, da Infoglobo, entrará no projeto no futuro.

A tendência dos anúncios classificados na internet vem crescendo rapidamente no mundo. Grandes grupos de comunicação, como, por exemplo, os jornais americanos The New York Times e Washington Post, já estão desenvolvendo alternativas para venda no suporte online. No Brasil, o potencial do mercado de classificados é estimado em R$ 200 milhões. ‘Entramos para concorrer com os grandes participantes do negócio da internet, e nossa meta é ser o portal líder na categoria’, aposta Antônio Hércules Jr., diretor de Marketing e Mercado Leitor do Grupo Estado. ‘Já estamos engatilhando parcerias com outros jornais do País para incrementar o volume de anúncios no ZAP.’

O novo portal buscou inspiração em iniciativas de sucesso do gênero em seus países de origem, caso dos sites FINN, norueguês, e Classified Ventures, americano, como lembra o diretor do ZAP. O portal vem funcionando experimentalmente com as áreas comerciais dos dois grupos fazendo a pré-venda de anúncios em condições especiais para seus clientes. Entre as ofertas testadas está a venda de um tipo de anúncio que abre a possibilidade de os anúncios veiculados nos jornais participantes poderem incluir um ZAP-id (código) que, ao ser digitado no ZAP, trará mais informações sobre o veículo ou o imóvel à venda ou a vaga de emprego oferecida. No ZAP, o anúncio poderá mostrar fotos, vídeos e outros dados detalhados da oferta.

O modelo de negócios do ZAP inclui três fontes de geração de receita. A primeira são os anunciantes que desejam veicular publicidade online, com as ferramentas habituais do segmento como banners, DHTML, patrocínio, ou e-mail marketing. A outra é a venda de espaço para anúncios de empresas como imobiliárias, concessionárias de veículos e companhias que buscam profissionais para seus quadros. A última é a venda de anúncios para pessoas físicas que desejam oferecer imóveis e veículos ou divulgar currículo.

PROMOÇÃO

Na atual fase de inauguração, o ZAP está promovendo para os clientes pessoa física a possibilidade de pôr na seção de empregos o currículo básico gratuitamente. ‘Só vai pagar um adicional quem quiser incrementar o espaço’, explica o diretor do Estado Hércules Jr.

Entre os serviços disponíveis no portal está o ZAP Fone, que permite aos anunciantes medir o retorno das ligações recebidas originadas pelo portal. Desenvolvido com a tecnologia AJAX, que facilita a navegação, o ZAP aplica um programa que rastreia com precisão a navegação do visitante. Além dos classificados, o ZAP acrescenta conteúdo às páginas de classificados. Há notícias, dicas, podcasts e vídeos com temas dos segmentos que são comercializados. São informações fornecidas pelos jornais e agências de notícias dos dois grupos de comunicação associados.

O usuário interessado em receber informações sobre alguma das seções poderá optar por configurar um alerta via SMS ou e-mail e, assim, receber um aviso quando um anúncio dentro do perfil desejado entrar na base de dados do portal. ‘Montamos uma estrutura ágil capaz de atualizar e oferecer, tanto aos clientes quanto aos usuários, informações frescas, o que é de fundamental importância para a credibilidade de um site de classificados online’, diz Eduardo Schaeffer, diretor de Produto do ZAP.’



TELECOMUNICAÇÕES
Ethevaldo Siqueira

Fust, um confisco que completa seis anos

‘Qualquer cidadão que seguisse o exemplo do governo brasileiro em sua vida cotidiana correria o risco de ser preso e processado por estelionato, fraude ou furto. Essa é a visão de Cleofas Uchôa, nesta entrevista exclusiva, em que nos dá uma das melhores contribuições ao debate do futuro digital do Brasil. PhD pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), Uchôa tem mais de 30 anos de experiência como engenheiro eletrônico, executivo e empresário do setor de telecomunicações.

‘Essa política tributária irracional e suicida imposta pelo Estado brasileiro aos serviços de comunicações e de informação’, adverte Uchôa, ‘está sepultando mais um sonho de 180 milhões de cidadãos, o sonho da inclusão digital. É só esperar para ver.’

Ao fixar tributos extorsivos sobre todos os serviços digitais, com uma voracidade sem paralelo no mundo, o governo está pondo em risco não apenas o futuro do setor, mas das eventuais vantagens da revolução digital para a maioria da população.

A história traz lições que a humanidade insisti em ignorar ou esquecer. ‘Uma delas’, diz Uchôa, ‘foi a decisão da Igreja, no século 16, de vender indulgências a todos quantos quisessem alcançar a purificação e a absolvição de suas almas. Quem pagava recebia o passaporte direto para o paraíso, liberando-se da passagem pelo purgatório.’

As indulgências eram uma política de universalização do perdão. Mas, pelo menos, sua compra era uma decisão de cada cidadão. Não era compulsória. Para a Igreja, no entanto, seus resultados acabaram sendo desastrosos.

‘No final da Idade Média, numa fase marcada por erros e corrupção, a Igreja passou a utilizar a imensa receita das indulgências em luxúria, pompa, catedrais monumentais e guerras santas. Alguns bispos chegaram a vender indulgências para pecados futuros. E todos acreditavam que, pagando, iriam direto para o Céu.’

Com essa espécie de tributofilia, quase cinco séculos depois da inclusão maciça no reino dos céus prometida pela Igreja, o governo brasileiro adota a promessa da universalização digital. ‘Para quê? Para salvar os coitados, oprimidos, sob a promessa de que estarão todos conectados ao paraíso. Para tanto, criamos novas indulgências salvadoras: o Fundo de Universalização das Telecomunicações (Fust) e o Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel), entre tantos tributos impostos aos serviços públicos neste País.’

Com essa justificativa, o governo surrupia bilhões do valor dos serviços de telecomunicações, além dos 33,3% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Para Uchôa, só iremos enfrentar a crise brasileira quando a indignação da sociedade chegar ao seu ponto máximo. Mas, aí, seus efeitos poderão ser devastadores. Como foram, para a Igreja e para a humanidade, no século 16.

‘A idéia da universalização digital é, reconhecemos, uma louvável iniciativa, porém, até hoje, passados mais de seis anos da criação legal do Fust, os cardeais de plantão nunca conseguiram aplicar um centavo sequer dos R$ 5 bilhões já subtraídos de nossas carteiras. É incrível: não houve nenhuma aplicação dos recursos destinados à universalização caridosa. Não obstante, em relação ao seu recolhimento, o governo tem sido mais do que diligente, tem sido voraz.’

SEM METAS

Ora, se passados seis anos após a criação do Fust, o governo não consegue nem sequer definir as metas de universalização vinculadas a esses recursos específicos, não pode, como recompensa ou prêmio, embolsar o dinheiro dos contribuintes, destinado por lei a uso de interesse social.

Para Cleofas Uchôa, o governo está dando ao Fust um destino indevido, sob nome pomposo de contingenciamento. ‘É uma forma sutil de camuflar o furto. Passivos e displicentes que somos, por ignorância e por interesses disfarçados, continuamos a permitir que o assalto sem escrúpulos continue crescendo. E a sociedade ainda não sabe como estancar a hemorragia. O Fust é, assim, pilhagem, trapaça e imoralidade.’

A segunda indulgência digital brasileira, também compulsória, é o Fistel, taxa que cresce de forma devastadora. Por princípio, os recursos arrecadados a título de taxas não devem sobrar nem faltar. Devem ser aplicados integralmente nos fins a que, por lei, se destinam. No caso brasileiro, os recursos do Fistel são, em sua maioria, confiscados sob o rótulo eufemístico e cínico de contingenciamento.

Cleofas Uchôa denuncia mais essa apropriação ilegal: ‘Desde sua criação, sobram recursos do Fistel. Em 2004, o excedente não aplicado foi de mais de R$ 1 bilhão. Em 2006 vão sobrar nada menos de R$ 2 bilhões. É uma taxa que vira imposto. Por outras palavras, é uma fraude do Estado contra todos os cidadãos que contribuem.’

E a arrecadação do Fistel só tende a crescer, de um lado, com a expansão das redes de telecomunicações no País e, de outro, com os cortes de seus repasses à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que é custeada por essa taxa.

Em 2007, poderão ser R$ 3 bilhões, que também serão confiscados. Belo exemplo para todos os cidadãos, não?

E-mail: esiqueira@telequest.com.br



MÍDIA & RELIGIÃO
O Estado de S. Paulo

‘L’Osservatore Romano’ vende fotos de papas

‘EFE – O jornal L’Osservatore Romano pôs à venda cerca de 140 mil fotos dos papas, tiradas desde 1933, incluindo imagens de João Paulo II (na foto, com madre Teresa de Calcutá) e de Bento XVI. As fotos podem ser adquiridas por a partir de 2, mais 7 de taxa de envio, no www.photo.va. Há ainda 96 imagens de João Paulo I, que ficou só 33 dias no pontificado.’



SADDAM EXECUTADO
Ian Buruma

O último ditador de uma espécie

‘Mesmo aqueles que deploraram a forma como foi morto, concordarão que Saddam Hussein foi um homem violento. Curiosamente, foi um bruto à moda antiga. Talvez não vejamos mais tiranos semelhantes a ele.

Naturalmente, a morte de Saddam não significou o fim da ditadura – mas talvez o fim de um certo tipo de ditadura, cujos símbolos e o aspecto exterior eram típicos do século 20 e hoje parecem tão antiquados como, por exemplo, os charutos e o chapéu melão de Winston Churchill, que já na época aparentavam ser do século 19.

Como todos os ditadores, Saddam tinha um pouco de gralha, em se tratando do aparato promocional, usando tudo o que viesse a calhar. Usava com freqüência o uniforme militar (embora, como muitos ditadores militares, nunca tenha enfrentado um combate verdadeiro), mas também gostava de se pavonear num terno listrado no estilo de um gângster, dando tiros para o ar. Em sua falsa aparência pan-árabe, se fazia representar como Saladino, o general muçulmano que libertou Jerusalém dos Cruzados, em 1187. Qualquer um que aspire a liderança de todos os árabes tem que reivindicar o manto de Saladino, embora Saladino, na verdade, fosse curdo. Convenientemente, ele nasceu em Tikrit, como o próprio Saddam.

A imagem de Saladino servindo de apoio para as representações de Saddam, empinando seu cavalo branco, a cimitarra estendida, pode ser ridícula mas parece menos antiquada do que os uniformes militares e os espalhafatosos ternos no estilo Chicago. Nada parece mais antigo do que os modelos recentes. O tirano em uniforme cáqui é um produto do início do século 20, quando os antigos impérios entraram em colapso e o caos ameaçava. As formas tradicionais de governar e idolatrar foram varridas por sujeitos marciais que prometeram uma nova ordem, moderna, disciplinada e, muitas vezes, agressivamente secular. Embora distintos em muitos aspectos, os ditadores fascistas e comunistas tinham um senso comum de estilo. Saddam era fascinado por Stalin, mas a ditadura do seu partido Baath, nominalmente socialista, também tomou emprestado muita coisa do fascismo.

Os impérios desmoronados, especialmente em meados do século passado, eram geralmente impérios coloniais, e os tiranos em uniforme quase sempre emergiam das disputas anticoloniais, mesmo que, como Idi Amin ou o imperador Bokassa, tenham servido como soldados em exércitos coloniais. O tio e mentor de Saddam Hussein, Khairullah Tulfah, era um adversário fanático do colonialismo britânico. Foi ele quem encorajou Saddam a se tornar uma espécie de Saladino.

A aparência de gângster, hoje tão bizarra quanto o uniforme cáqui, lembra a imagem romântica do fora da lei combatendo os ricos e os poderosos em benefício dos pobres. O presidente Mao devorou livros sobre os Robin Hood chineses e Stalin foi também um desordeiro antes de entrar para a política. O déspota típico do século 20 era um populista que aparentava liderar as pessoas comuns contra os plutocratas, os aristocratas, os imperialistas e os empresários sugadores de sangue. Saddam Hussein não foi diferente.

Na nossa era de militância religiosa e capitalismo global, o revolucionário em uniforme do século 20 ficou anacrônico. Fidel Castro está morrendo. Seu maior admirador, Hugo Chávez, ainda cultiva essa retórica revolucionária antiquada, mas é uma pálida imitação. E mesmo um grande número de autocratas africanos hoje se assemelha mais a gordos banqueiros do que a guerrilheiros ou tiranos militares. Talvez aiatolás e sumo sacerdotes se tornem os ditadores do século 21. Mas o mais provável é que os magnatas famintos de poder sejam esses ditadores. O novo modelo de poder e eficiência não é mais o general ou o guerrilheiro, mas o CEO, o diretor executivo de uma corporação.

Como aconteceu na década de 30, estamos vendo o eclipse das elites tradicionais. Os burocratas europeus quase aristocráticos são universalmente temidos e antipatizados e os políticos estabelecidos nas nossas cansadas democracias parlamentares não inspiram mais confiança. Os racistas e extremistas estão conquistando votos na Polônia, França, Holanda, às expensas da média burguesia. Contudo, é improvável que muita gente queira seriamente ver tipos como Jean-Marie Le Pen assumindo o poder de fato. São grosseiros demais.

O empresário rico, o ‘CEO político’, o super administrador, que promete fazer pelo país o que fez primeiro para ele próprio, é uma figura mais atrativa. Como Hitler entendeu tão bem, a comunicação de massa é a chave para o poder absoluto. Os autocratas modernos deverão ser os manda-chuvas da mídia que, como os nossos distribuidores de pão e circo contemporâneos, geralmente controlam um ou dois times de futebol. E como Hitler também compreendeu, a comunicação de massa se baseia no entretenimento, na sedução, e também na possibilidade de tranqüilizar ou dominar os dissidentes com ruído inebriante.

Podemos observar esboços das ditaduras futuras não nas regiões remotas da África ou da América Latina, mas dentro das nossas próprias democracias. Não quer dizer que essas democracias se tornarão tiranias, mas as técnicas usadas de ‘venda’ dos nossos líderes logo serão adaptadas em sistemas que não mais permitirão a possibilidade de se destituir os tratantes por meio do voto. O sucesso de Silvio Berlusconi na Itália é o precursor do que é possível vender. Este ex-vocalista soube exatamente como seduzir seu público, combinando propaganda e entretenimento em todos os seus canais de televisão, sugerindo que ele poderia realizar coisas, como viril magnata, que os meros políticos não poderiam nem mesmo sonhar.

Enquanto que, para os tiranos do século 20, como Hitler, Stalin e Saddam, as tradicionais crenças religiosas eram obstáculos às suas fantasias modernistas, o político autocrata administrador poderá estar mais inclinado a utilizar a religião em benefício da sua causa. A aliança, nos Estados Unidos, entre a cristandade evangélica e o capitalismo corporativo já aponta nessa direção. Os tiranos do futuro, como sempre, usarão qualquer pretexto para terem êxito, mas independente de quem seja, o fato é que se assemelharão mais a Richard Branson (fundador daVirgin) ou Donald Trump do que a Saddam Hussein.’



TELEVISÃO
Leila Reis

Sonolenta

‘O pulmão do planeta já foi tema na teledramaturgia nacional. Em 91, a Manchete colocava no ar a novela Amazônia, dirigida pela cineasta Tizuka Yamasaki e estrelada por Marcos Palmeira e Luciene Adami. Entusiasmada com a repercussão da novela Pantanal, a emissora decidiu continuar investindo na exploração de cenários naturais exuberantes deste Brasil grande. Não deu muito certo, a novela foi um fiasco de proporções amazônicas. O tema volta agora em forma de minissérie na Globo. Amazônia – De Galvez a Chico Mendes, escrita por Glória Perez, com direção de Marcos Schechtman (também trabalhou na Amazônia da Manchete) estreou terça-feira, com uma boa audiência para o horário (34 pontos de média no Ibope na Grande São Paulo e registrou 31 na noite de quarta).

Amazônia dá continuidade ao projeto (não explicitado) da Globo de desvendar um pouquinho do Brasil situado fora da zona sul do Rio de Janeiro. E pincelar – se bem que muito de leve – retalhos da história deste País. A construção de Brasília, a guerra farroupilha, a chegada dos bandeirantes a São Paulo, o suicídio de Getúlio Vargas, a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré estão entre os temas tratados no campo das minisséries.

O grande sucesso de Glória no começo de carreira na Globo foi uma minissérie: Desejo, inspirada na trajetória de Ana de Assis, que foi casada com o escritor Euclides da Cunha (Os Sertões), morto pelo amante da mulher, o jovem militar Dilermando Assis, estrelada por Vera Fischer, Tarcísio Meira e Guilherme Fontes, em 1990.

A ambição da minissérie Amazônia é grande, quase epopéica. São 90 atores no elenco e muitas dezenas de figurantes. O pano de fundo é luta do jornalista Galvez e outros pela anexação do Acre ao Brasil. Mas o que vai segurar a trama são as peripécias amorosas de Galvez (José Wilker) no triângulo formado por Rio de Janeiro, Manaus e Rio Branco.

Talvez seja a grandiosidade da produção que tornaram os dois primeiros capítulos meio dispersivos. Está certo que o público tome conhecimento do esforço feito para gravar muito distante, mas o excesso de tomadas e paisagens amazônicas do episódio de estréia lembra muito a Jayme Monjardim, de quem Schechtman foi discípulo, atrapalha a fluência, justamente a maior responsável pela conexão do público com a história.

Não há dúvidas de que o cacife de Glória para escalar o elenco foi alto. O primeiro escalão comparece em peso: Vera Fischer, Christiane Torloni, Giovanna Antonelli, Alexandre Borges, Cássio Gabus Mendes, Juca de Oliveira, Matheus Nachtergaele, Osmar Prado, Regina Casé. E Débora Bloch, que teve a sorte de ganhar a melhor personagem da minissérie. Como Beatriz, uma das mulheres iludidas pelo sedutor Galvez, Débora está ofuscando a interpretação de suas colegas de cena neste início.

Quando a ação se desloca para o seringal – onde a família de Bastião (Jackson Antunes) é explorada pelo coronel Firmino (José de Abreu) – a sensação é de descanso para os olhos. A cenografia das cenas urbanas – cabaré, casas, repartições – são muito carregadas. É muita informação, é muito rococó. Pode ser que Amazônia ainda pegue ritmo com o desenrolar dos capítulos, mas o começo peca pelo andar arrastado e o uso excessivo da Bachiana vai terminar banalizando a obra-prima musical de Villa-Lobos…’


O Estado de S. Paulo

‘Idade é uma abstração’

‘Aos 60 anos, Marieta Severo diz que não trocaria sua experiência pela insegurança da juventude. Este mês, a ‘Grande Família’ de Nenê estende seu sucesso ao cinema

Marieta Severo é ‘pilha que não descarrega’. Aos 60 anos, a atriz mostra sua energia na TV, no palco, no cinema e até nos bastidores de seu projeto mais ambicioso, o Poeira, teatro que construiu com sua comadre Andréa Beltrão. Marieta recebeu a equipe do TV&Lazer em sua casa, na Gávea, mas pediu para que o lar não fosse clicado: ‘Faz uma foto aqui com o Rio de fundo. Paulista adora isso’, disse a atriz em sua varanda, com vista para a Lagoa Rodrigo de Freitas. Respondeu a todas as perguntas, entre um gole e outro de café. Na entrevista, fala de carreira, filhos, juventude e política.

Como você se sente com 60 anos e trabalhando em um meio em que cada vez mais se valoriza a juventude e a estética?

Idade é uma abstração. Se disserem que tenho 40, vou acreditar; se disserem que tenho 70, também. Se ficou combinado que tenho 60, legal (risos)… A relação com o envelhecimento está difícil. Você vê meninas colocando botox com 20 anos para prevenir uma ruga que poderão ter aos 40. Há uma hipervalorização da juventude que minha geração não teve porque o bacana era ficar mais velho. Você admirava a experiência. É legal viver e ir envelhecendo. Estaria mentindo se dissesse que ruga não incomoda. Coloquei esse decote e pensei: ‘Está uma briga danada da ruga com o decote’. Nenhum ser humano vê a decadência do corpo com tranqüilidade. Gosto da experiência que tenho. Não troco isso pela insegurança e pela angústia da juventude. Tenho prazer de estar nos 60 anos com os ganhos que compensam as perdas – por exemplo, olhar no espelho, estar com cara de cansada: ‘Mas eu dormi tanto. Que saco!’ O que mais me incomoda é a cara de cansada, não é ruga. Sou tão animada para parecer cansada, que isso me chateia.

Na sua opinião, hoje em dia a TV valoriza mais um rostinho bonito do que o talento?

Nada é nem nunca será mais importante do que o talento. A gente vive um momento superficial, mas tenho certeza de que o conteúdo prevalece. Você vê que os jovens que permanecem são os que mostram trabalho. Um talento excepcional como o de Lazinho não há físico que supere. Se você perguntar a um jovem ator – um que se dedique a, digamos, esse expediente muscular – se ele trocaria os músculos pelo talento do Lázaro Ramos, acho que trocaria. A gente está na saturação do botox, no sentido de estar com uma cara que não é a sua. Existem conquistas que prolongam o bem-estar, a saúde e a juventude. Não tenho nada contra elas. Sou contra a ditadura.

Você nunca mexeu em nada?

Já coloquei um preenchimentozinho, coisa pequena que já nem tem mais, acho.

Você acha que descaracteriza?

Acho. Nada pode descaracterizar tua cara. Adoro coisas de tirar mancha, ainda mais porque sou de uma geração que torrava ao sol. Passo creme, mas não é o mais importante.

Na época em que você começou, a classe artística era mais política?

A época era essa. Todo mundo vivia a política. Sou da geração da década de 60 e veja o que foi 68 no mundo. Era uma época de transgressão, de movimentos de libertação, de experimentar novos caminhos. Vivia nessa época, mas não diria que era das mais engajadas. A classe artística estava com os estudantes e tínhamos uma coisa em comum: o combate à ditadura.

E hoje isso se perdeu por quê? Não é o momento ou não há interesse?

Acho que basicamente não existe a necessidade. Era horrível viver sob um governo de ditadura. E hoje, a gente tem um pleno exercício da democracia, então essa emergência passa a não existir. E há uma consciência ampla da necessidade de você se afirmar no seu exercício de cidadão. Há uma participação civil talvez maior do que a que existia naquela época.

Conte um pouco do seu exílio na Itália.

Nós (ela e Chico Buarque) fomos (para a Itália) em janeiro de 69. O AI-5 entrou em vigor em dezembro de 68 e começamos a receber recados de que se Chico voltasse, seria preso. Ninguém queria ficar lá. Estava grávida de sete meses, com enxoval pronto aqui, primeiro filho, quartinho arrumado, médico. Estávamos na Europa porque o Chico foi participar do Festival de Montreux. O Vinícius (de Moraes) aconselhou a gente a não voltar porque a barra estava pesada, com prisões e mais prisões. Foi uma escolha com um caminho só.

E qual era o papel das artes nessa época?

O papel que teve, tem e terá. O ser humano não vive sem o imaginário, sem esse lado misterioso que a arte toca. Em todas as épocas a arte é fundamental para o ser humano sobreviver. É como o ar. Mas, nessa época era mais evidente a participação política dos artistas porque você ia para os comícios. Todo mundo estava na rua. Nesse sentido, a atuação era maior, mas a participação da arte na vida de um país é e será sempre a mesma, e é fundamental.

Li um artigo em que a Renata Sorrah te entrevistava e você dizia que adora ser mãe e que deixaria até de ser atriz para desempenhar esse papel.

É verdade. Acho que a gente vem para cá para isso mesmo, para perpetuar a espécie. E sempre tive esse instinto maternal bem desenvolvido. Não falava em ser atriz, mas falava em ser mãe. É a coisa mais importante.

Você e o Chico já se separaram há tanto tempo e as pessoas continuam associando os dois…

Já falei tanto disso… Ficamos 30 anos juntos, temos uma família que é a coisa mais importante da vida dos dois e somos grandes amigos. Pode passar para outra pergunta.

Então me fale do Poeira.

Surgiu em uma conversa com a Andréa (Beltrão) sobre as dificuldades de ficar restrito às regras dos teatros particulares e, como minha comadre é rápida, já foi atrás de um lugar. O grande ganho nessa minha faixa etária é ter o Poeira. Ter mais uma sarna maravilhosa para me coçar. Em 1 ano e meio, a gente fez com que o Poeira entrasse no calendário cultural da cidade de uma forma firme e você percebe quais são os propósitos: busca da qualidade, do estímulo à experiência, ao aprendizado. E fazemos tudo de graça ou por um preço baixo. É bom poder, a essa altura da vida, ampliar minha participação no teatro. Com isso, mesmo não estando no palco, me sinto fazendo teatro. É tão prazeroso quanto estar em cena.

E você acredita que isso é responsabilidade do governo ou da sociedade?

De todos nós. Mas não é brincadeira. Não cobro isso de ninguém. Andréa e eu fomos corajosas. Tivemos apoio para equipar o teatro, mas para pagar a casa e construir, tiramos dinheiro do nosso bolso e ele não retorna. Se tiver alguém maluco como eu, tudo bem (risos)…

E como é o relacionamento com a Andréa Beltrão já que vocês trabalham juntas na TV, são parceiras no teatro e são comadres?

A própria existência da Marilda na vida da Nenê também é fruto da existência da Andréa na minha vida. Andréa é minha grande parceira. Até lá no teatro, as coisas funcionam bem porque somos parecidas, ligadas na tomada, pilha que não descarrega, e temos uma boa compreensão da nossa parceria. Nenhuma cobra nada da outra e sempre uma percebe que a outra está em um momento difícil e segura a barra. Isso é feito de uma maneira natural.

Por que você acha que ‘A Grande Família’ faz todo esse sucesso mesmo após tantos anos no ar?

Há uma coisa básica que é a qualidade. É um programa que, nesses seis anos, sempre se aprimorou e nunca se acomodou. No sexto ano em que o programa deveria cansar, tivemos ibope de novela – 44, 45 pontos. O que segura é a equipe de autores fantástica. Somos uma família pequena e eles inventam histórias e mais histórias. Quando leio o episódio, fico surpresa com a capacidade da equipe de tirar coelho da cartola. E sai um monte de coelhinhos…

Então, mesmo depois de tanto tempo, o trabalho ainda é prazeroso?

Super. Se não fosse prazeroso, não teria esse frescor. Nos damos bem, somos amigos e temos papo. A gente vai gravar com prazer de se encontrar. Isso alimenta o programa. Temos um bom terreno para manter o programa vivo.

Você assinou contrato fixo com a Globo, antes era só por obra. Por que decidiu mudar? Há alguma cláusula que garanta sua participação só na série ou podem te colocar em uma novela…

Não vou ter que… Sei que estou ligada à Grande Família. Tive uma conversa boa sobre minha liberdade de escolha. Não estou mais na fase da imposição. E acho que essa imposição é relativa. Acho que não existe isso de um ator não querer fazer algo e ser obrigado a fazer.

Então, ‘A Grande Família’ vai continuar ?

Não sei pensar a longo prazo.

Você não gosta de fazer planos?

Deus me livre! Nunca fiz. Sei lá o que vou fazer daqui a um ano! Me dá aflição pensar nisso.

Falando um pouco de política, você acha que a Lei Rouanet é hoje bem aplicada?

De uma maneira geral, a lei é usada de forma consciente. Acho que em qualquer mecanismo sempre haverá exceções. Mas não por causa disso se deve invalidar. Tem de aprimorar.

E nesses anos com o Lula presidente, como você avalia a atuação do governo federal na cultura e o ministro Gilberto Gil?

Temos ganhos grandes. A gente sempre teve um Ministério da Cultura fraco e, nos dois primeiros anos, o ministro ficou arrumando a casa. Nos últimos dois anos – e nos próximos quatro, pois acho que Gil fica e é uma reivindicação da classe artística -, sei que a gente vai colher o que foi plantado. Há resultados que nem são visíveis, como a lei de fomento a documentários. Tivemos um ano bom no cinema e, no teatro, está havendo acesso mais diversificado. Outros mecanismos foram criados com a Funarte. Estou otimista. Estamos vivendo um momento de ajustes, mas dá para perceber lucros.

Então, você ainda mantém o idealismo que construiu lá atrás?

Me considero idealista. A prova de que acredito no sonho e no melhor do ser humano foi ter construído um teatro. É importante colocar uma poeirinha na cultura e no Rio.’

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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