Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Off virou sinônimo da irresponsabilidade

O tema traz à pauta diversos assuntos, produz polêmica, inflama discursos entre os profissionais. Dentre tantos aspectos delicados envolvidos nessa questão, o uso do off the record, vulgo off, tem monopolizado tempo e páginas no mundo jornalístico.

Quando é que o jornalista deve concordar em proteger a identidade do informante? Quando deve ocultar a informação recebida em off? Até onde a proteção do sigilo deve ir? Como podemos estar seguros de que fontes inescrupulosas não vão usar o sigilo para evitar responsabilidades ao dar informações possivelmente difamatórias ou prejudiciais?

Há tempos o uso do off perdeu seu real sentido e necessidade no meio. Antes de propriedade exclusiva do jornalista, era ferramenta de trabalho dos grandes repórteres. Uma forma de convencer, seduzir as fontes na conquista da informação.

Hoje essa prática infestou o jornalismo, e quem domina seu uso não são os jornalistas e sim as fontes, que, outrora passivas, preferiam revelar sem aparecer. Agora, essas mesmas fontes manipulam a informação, por vezes criando a notícia e usando o off para se esconderem.

‘Basear as matérias em fontes não nomeadas sempre envolve manipulação da informação’, declara Charles Seib, ombudsman aposentado do Washington Post. O uso excessivo desse recurso no jornalismo mundial reflete duas realidades.

Primeiramente, a preguiça de muitos repórteres que se atém às escrivaninhas e telefones se contentando com uma má apuração da notícia e se encostando no off. E depois, a ousadia de muitas fontes que se profissionalizaram em produzir notícias ou divulgar coisas sigilosas em função de seus próprios interesses, se isentando das responsabilidades por meio do off.

Outra questão que deve ser levada em conta nesse assunto é a postura que o jornalista assume quando lhe são relatados fatos e em seguida lhe é pedido off. Como agir? Publicar ou não? Sendo jornalista, ao entrar em contato com uma informação relevante, é natural buscar sua publicação.

Por outro lado, seu dever também é cultivar as fontes. Lutar para que o caminho para a informação esteja sempre aberto. Por isso, é necessário sensatez por parte do profissional. Se jornalistas como Trumam Capote tivessem respeitado o off, com certeza grandes reportagens, clássicos do jornalismo literário, não existiriam hoje.

No entanto, se o off não fosse prática comum, o jornalismo não seria maculado com atuações inescrupulosas de péssimos profissionais como Jason Blair e Stephen Glass. Jornalistas que, muitas vezes se aproveitando do off das fontes, publicaram inverdades.

Isso tudo leva a uma conclusão. Nesse trânsito do ‘não te perguntei’ e do ‘não te respondi’ o único que sai perdendo é o povo. Uma vez que, o mesmo entregou aos jornalistas o poder sobre a notícia, e que, por causa das atuações degeneradas destes profissionais, acabam não recebendo as informações que lhes são devidas.

Mudanças imediatas

É preciso ensinar nas faculdades de jornalismo e nas redações a verdadeira utilidade e função social do off, acabando com o excesso pernicioso deste recurso nos meios de comunicação. Tanto ao jornalista quanto às fontes, é necessário consciência e sensatez. Ética, no exercício da notícia. De outra forma os jornalistas jogam por terra toda a credibilidade conquistada e que os faz fiscalizadores do poder.

Segundo o jornalista Carlos Henrique Nunes, se não se pode revelar o fato, o melhor é desconhecê-lo. Afinal, o jornalista tem um compromisso com a informação e com a sociedade. Manter ocultos fatos de interesse público é quebrar o código de ética assumido pelos profissionais.

Por isso, as fontes tão mal acostumadas de hoje, devem ser instruídas quanto às hierarquias, às prioridades de um jornalista comprometido. Acima de tudo, um jornalista é jornalista. Sua relação com a informação sobrepuja qualquer maquinação social.

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Estudante do 4º ano de jornalismo do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp)