Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Onde foi parar a imprensa alternativa?

Alternativa, nanica, popular? Não há consenso na denominação do tipo de imprensa feito quatro décadas atrás, reação ao autoritarismo político e econômico imposto pela ditadura. Mas todos concordam que, como em outros períodos, ela reaparece quando se escancara a brutalidade repressiva de regimes como o implantado com o golpe de 1964, na decretação do AI-5, em 1968. Será que o espírito que animava as publicações alternativas se mantém em jornais, revistas, sites e blogs editados 30 anos depois da efervescência dos anos 1970?

A opção da esquerda pela luta armada foi o pretexto para um controle mais rígido dos meios de comunicação, para impedir a divulgação das torturas e assassinatos políticos pelo aparelho repressivo, como observa o jornalista e professor Gustavo Falcón no livro Os baianos que rugem. A imprensa alternativa na Bahia (Edufba, 1996). Não por acaso ele faz parte da história de Versus, Ex e outros alternativos.

O endurecimento chega ao paroxismo no assassínio, sob tortura, do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975, no DOI-Codi paulista. O mesmo garrote que cerceia as atividades artísticas, impedea tentativa de abertura de espaços para o exercício do jornalismo na imprensa convencional e leva jornalistas, intelectuais e artistas a somar esforços para romper o cerco.

Produzir novos jornais diários é difícil, até porque exige grandes investimentos. A alternativa é um modelo de imprensa capaz de enfrentar a camisa de força da censura e ser um veículo adequado à circulação das novas idéias. Para superar a precariedade de recursos, ampliam e diversificam a rede de colaboradores, as formas de captação de recursos para a infra-estrutura e lançam mão da enorme criatividade do brasileiro na execução do projeto e na hora de dar nome às publicações.

Frente fragmentada

Fernando Gasparian, empresário do setor têxtil e um dos remanescentes da outrora conhecida burguesia nacional, encabeça uma frente democrática, ao criar o semanário Opinião, em 1972. Raimundo Rodrigues Pereira, que tem passagem pela inovadora revista Realidade e andava insatisfeito na grande imprensa, é convidado para comandar a equipe de jovens talentos.

Não tarda a que Opinião seja censurado, receba pressões econômicas – corte de anúncios, apreensão de edições já liberadas pela censura e até atentados a bancas que vendem o semanário. Diferenças de enfoque político levam o editor e sua equipe a deixar a publicação, três anos depois.

Opinião foi um jornal de grande repercussão, um jornal muito bom. O dono, Fernando Gasparian, uma figura extraordinária. Mas a luta contra a ditadura foi dividindo o campo democrático, principalmente no governo Geisel’, diz Raimundo. ‘No campo popular, Opinião adotou uma postura de considerar que as manobras de Geisel eram mais democráticas e tal, enquanto nós achávamos que o general organizou uma saída autoritária, de direita, cuja primeira tarefa foi liquidar a oposição mais radical. Liquidar fisicamente e desaparecer com os corpos.’ As divergências, diz, ‘levaram a que o patrão, no caso Gasparian, nos demitisse’.

‘Toda a redação saiu comigo, gente como Tonico (Antonio Carlos Ferreira, seu companheiro em Amanhã, feito por estudantes, em 1967, e distribuído a operários) e Marco Gomes, só para citar dois nomes’, afirma Raimundo. Profissionais extremamente competentes, jornalística e politicamente, de acordo com ele. Com os espaços bloqueados na grande imprensa, buscam um novo rumo, com o lançamento de Movimento.

Formato e estilo seguem o do antecessor, mas o conteúdo aponta outros rumos. ‘Fomos mais à esquerda do que Opinião. O nosso caminho, o caminho da imprensa popular é à esquerda’, diz Raimundo.

No conselho editorial, nomes de peso: Fernando Henrique Cardoso, Audálio Dantas, Chico Buarque, Orlando Villas-Boas, Edgar da Mata Machado, Hermilo Borba Filho e Alencar Furtado. Mas, o que diferencia Movimento dos demais é a organização como empresa de jornalistas. ‘Fizemos uma empresa, com diretoria, conselho… Vendemos cotas para lançar o jornal. E as pessoas doaram 51% do valor da cota para um Conselho de Redação. O conselho é que era o dono. As crises no jornal foram resolvidas por este conselho’, afirma o editor.

Outros jornalistas insatisfeitos com a falta de espaço na imprensa convencional, se organizam em cooperativas. A mais expressiva e duradoura delas, Coojornal, em Porto Alegre (1974 a 1983), para a prestação de serviços jornalísticos, é formada por experientes profissionais que saem da Folha da Manhã, em 1975, entre os quais José Antônio Vieira da Cunha, Osmar Trindade, Rosvita Saueressig, Euclides Torres, Elmar Bonés e Jorge Polydoro. Daí a lançar jornal próprio foi questão de tempo.

Riso ferino

Um pouco antes, em 1969, no Rio, jornalistas e humoristas lançam um semanário para circular apenas entre a patota do bairro de Ipanema e adjacências. Mas O Pasquim, que reúne uma turma calejada em outras experiências, como Millôr Fernandes (Pif-Paf, 1964), Ziraldo, Jaguar, Tarso de Castro, decola e surpreende até mesmo os criadores. Ganha expressão nacional, dita moda no campo dos costumes e cutuca o sistema pelo deboche e denúncia dos abusos autoritários. Chega a vender 250 mil exemplares e estabelece um jeito descontraído de fazer jornalismo. Nessa escrita, o hebdomadário sobrevive como o mais longevo dos alternativos. Continua aí, com algumas interrupções e mudança de mão, é verdade.

Em outra faixa, surgem alternativos ligados a outro grupo criativo e talentoso, com passagem por Realidade e outras publicações. É o time de Sérgio de Souza, integrado por Myltainho Severiano, Narciso Kalili, Hamilton Almeida Filho, o Haf, e Amâncio Chiodi, que cria Ex, Bondinho, Mais Um… Se a primeira reação à ditadura, de publicações como Pif-Paf, é pela galhofa, no golpe dentro do golpe do final de 1968, uma nova geração de ilustradores e cartunistas também dá o ar da graça. Os irmãos Caruso, Luiz Ge, Jota, Angeli, Alcy, Laerte e outros cutucam o sistema com o bico de suas penas e a expressividade dos traços, em publicações como Opinião, Movimento, Versus. Mas os estrategistas principais são jornalistas com nomes associados a projetos de renovação da grande imprensa: Sérgio de Souza, Raimundo Pereira, Marcos Faerman, entre outros.

A centelha que incendeia mentes e disposição para reagir ao arbítrio é o assassinato de Vladimir Herzog. Bernardo Kucinski, que faz parte dessa geração de jornalistas, escreve, na página 21 do livro Jornalistas e Revolucionários – Nos tempos da imprensa alternativa (Edusp, 2003): como outros surtos, o fenômeno alternativo tem contornos nítidos no tempo. O apogeu foi no triênio 1975/77, ‘quando o padrão alternativo tornou-se dominante’. Em pouco mais de um ano surgem cerca de 40 publicações, a maior parte de vida efêmera – caso de Invasão, de 1976, em Salvador, com apenas uma edição. Mas, qual hidra da mitologia, a cada cabeça decepada muitas se apresentam.

Bendita porralouquice

A turma de Sérgio de Souza cintila aqui e ali. Mas é com Ex, como lembra Myltainho Severiano – não por acaso, substituto do saudoso ‘Serjão’ em Caros Amigos – que esse pessoal faz do medo o aditivo para enfraquecer a besta-fera. Perguntamos a Myltainho qual o grande momento dos alternativos e ele nem pisca: ‘Acho que foi a morte do Vlado, que até gerou o prêmio do Hamilton. A nossa manchete foi: `Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós´, no Ex-16.’

Desafiando o medo, passam por cima do excesso de cautela, inclusive do Sindicato dos Jornalistas, que manda uma ‘comissão de uns cinco rapazes, que foram à nossa redação (….) pedir para a gente não publicar a matéria’, diz Myltainho. E botam o Ex 16 na rua.

O argumento da comissão, de acordo com Myltainho, é este: a linha dura militar ‘estaria vencendo a correlação de forças e estaria a sair caçando, de novo, a esquerda, desta vez para dizimar’. O pessoal do Sindicato temia que a reportagem precipitasse algo do gênero. ‘Um erro de avaliação. Justamente essa reportagem contribuiu para acuar mais um pouco a direita, que já estava acuada, porque a repercussão da morte do Vlado foi enorme. A praça da Sé lotou na missa de sétimo dia, oficiada por D. Paulo.’

‘Li em algum lugar que o medo pode ser paralisante ou impulsionador’, prossegue Myltainho, sem esconder que ‘o medo, a tensão, o pavor de ver chegar uma C-14’ (modelo de veículo largamente usado pela repressão) provoca nele o ‘bruxismo’. ‘Eu arrebentei vários dentes. Mas, a gente também sentia. Eu, pelo menos, sentia que botar aquele jornal na rua era salutar. Se não fizesse aquilo, iria me agachar para o resto da minha vida. Não sairia inteiro, fisicamente inteiro. Voltar para trás, depois de 10, 15 dias, duas semanas apurando uma reportagem, talvez a mais importante da nossa vida até hoje, e, de repente, atendendo a um apelo, ceder ao medo, não publicar?’

A Polícia Federal comunica aos editores que o jornal estaria sob censura prévia. ‘A gente não se submetia jamais à censura. A gente fechava e abria outro, era o nosso padrão’. Dito e feito. Mudam o título. E o Ex-17, cuja edição já estava em andamento, vira Mais Um, com reportagem de Otávio Ribeiro sobre o Esquadrão da Morte. ‘Aí, o coronel Barreto nos intimou a comparecer na Polícia Federal e, para resumir, disse: `Ou vocês param com isso (brandindo o Mais Um) ou não respondo mais pela integridade de vocês´’. Isso, somado ao prejuízo da apreensão de 50 mil exemplares de um número especial (Extra: O Melhor de ex), na distribuidora, leva a turma a paralisar Mais Um.

Em meados dos anos 1970, os primeiros presos políticos com penas já cumpridas reintegram-se à vida civil, observa Bernardo Kucinski, no livro já citado. Uma das opções de trabalho é a imprensa alternativa. No plano nacional, pipocam jornais aqui e ali, como Versus e Movimento, e logo depois Em Tempo – com a turma que deixa Movimento, na qual predomina o ativismo político. Regionalmente, jornalistas de prestígio dão cria a publicações como De Fato (Minas), Coojornal (RS), Boca do Inferno (BA), Resistência (PA), muitos de curta existência. A campanha da anistia gera publicações como Maria Quitéria. Também surgem alguns ligados a movimentos populares e ao ativismo do movimento feminista (Brasil Mulher, Nós Mulheres, Mulherio). O vaivém de jornalistas entre essas publicações é constante.

Caos criativo

Omar de Barros Filho, editor de Versus durante quatro anos, lembra que o jornal, ‘lançado poucos dias depois de anunciada a tragédia de Vladimir Herzog’, em outubro de 1975, tem semelhança com jeito de ser de Marcos Faerman, o Marcão, seu articulador, editor de Ex, do número 6 ao 10. ‘Versus era desordenado, indisciplinado, inventivo.’ Do jornalista e escritor Eduardo Galeano, veio o toque para a experiência da Crisis, revista argentina, que inspira ‘a temática da América hispânica que Versus incorporou de forma inédita no Brasil’, trazendo não só a realidade repressiva latino-americana a um público ‘mais acostumado e sensível aos assuntos e debates na moda em Paris ou Nova York’, mas, também trabalha ‘sobre os mitos, a história, as culturas do continente com emoção’.

As pontes que Marcão estabelece com a universidade, ‘que até então vivia cerceada pela ditadura’, contribuem para que Versus venda 30 mil exemplares mensais e conquiste o Prêmio Vladimir Herzog pela publicação de um depoimento que denuncia a violência contra os presos políticos no País. Escrita no cárcere, traz o título: ‘Carta de um torturado ao presidente Geisel.’

Omar afirma que o espírito dos colaboradores naquela época, amadurecido ao longo desses anos, continua presente, agora, na internet. O site ViaPolítica, reúne remanescentes de Versus, reafirmando que ‘companheirismo, amizade e confiança são valores mais fortes que as distâncias e as diferentes visões de mundo’.

Volta às bases

O repúdio ao assassinato de Vlado estimula a criação do mineiro De Fato. O atual presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, Aloísio Morais Martins, trabalha no Diário de Minas, quando o proprietário do jornal, Afonso Paulino, ‘soltou editorial justificando o assassinato, rasgando a capa de liberal’. É a ‘gota d’água para a debandada geral’ da redação. ‘Aí, surgiu a idéia de fazermos um jornal nosso’, o que se concretizou em 1976. ‘Arrecadamos o dinheiro necessário, fizemos o primeiro número e todos saímos vendendo’, diz Aloísio. O dinheiro apurado assegura o segundo número, que viabiliza o terceiro, e por aí segue, até a edição 28, em 1978.

Dezenas de colaboradores passam por De Fato, alguns eventuais, outros mais ou menos fixos, mas todos participam do trabalho coletivo, da apuração das informações à feitura e venda do jornal. Nesse entra e sai, ora o jornal pende para a política, ora para o jornalismo. E revela muita gente, entre jornalistas e cartunistas que irão contribuir com outras publicações, nomes como Flaminio Fantini, Beth Cataldo, Charles Magno e Aroeira.

A redação, funciona na casa de Aloísio, ‘invadindo o meu quarto’. Certo dia, os esbirros da ditadura passam das ameaças telefônicas à invasão da casa. ‘Numa noite em que eu e Fernando dormimos fora, entraram, quebraram máquina, telefone e outros objetos, largando uma garrafa com produto inflamável’, sinal da intenção de atear fogo no local.

De Fato, que já definha no ocaso da ditadura, com a debandada de colaboradores para publicações sindicais e partidárias, organizações comunitárias, até mesmo para a imprensa tradicional, tem, naquela agressão, o empurrão que falta para encerrar sua oscilante trajetória, que começa com mil exemplares e tem pico em torno de cinco mil. Aloísio acredita que, ‘como ocorreu em outros pontos do país, com outros alternativos, De Fato foi fruto de uma época em que o descontentamento profissional e a falta de espaço para se manifestar eram enormes’.

Tiro de misericórdia

A censura prévia é uma das armas utilizadas para asfixiar jornais mais expressivos, como Opinião, Movimento e Pasquim. Obrigados a mandar originais com dias de antecedência à Brasília, recebem de volta pedaços de matérias para serem remontados. Isto, mais a crônica incapacidade administrativa que caracteriza essas editoras, principalmente no quesito distribuição, acelera a decadência e o fechamento da maior parte dos alternativos, num momento em que a imprensa convencional (‘imprensa gorda’, no dizer de Myltainho), de um jeito ou de outro, acomodada ao sistema, dá uma arejada na pauta. Mas, aí, já estamos nos anos 1980.

Atacados por diversos flancos – prisão de dirigentes, apreensão de edições, e pressão de militares contra os anunciantes – alternativos como Coojornal, de Porto Alegre, perdem gás no início da década de 1980. Ressalte-se que a receita deste jornal baseia-se na venda avulsa (68%) e publicidade (25%).

As dissensões internas, somadas a erros administrativos, também fazem estragos. E não dá para esquecer o fortalecimento de jornais partidários (O Trabalho, Convergência Socialista, O Companheiro, Causa Operária, Hora do Povo, Tribuna da Luta Operária e Voz da Unidade, entre outros) que abrem o leque de oportunidades a jornalistas militantes políticos.

Em Tempo é dos poucos alternativos que entram em 1980. Criado pela corrente que deixa Movimento em 1977, motivada pela rejeição à proposta de convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, entre outras divergências, apresenta-se como ‘espaço político para um conjunto de expressões que não estavam em nenhuma organização política, como um espaço para a militância’, nas palavras de Tibério Canuto, presidente do jornal até 1980. Com passagem pelos baianos Boca do Inferno e Invasão, e retorno a um Movimento em estado terminal, ele admite que ‘a convivência era um pouco complicada em todas as publicações’. Mas o que temos em 1980, é um Em Tempo desfigurado na forma e conteúdo – órgão do grupo trotskista Democracia Sindical (DS) já em 1979, adere ao formato tablóide.

Caso especial

Em Minas, surge, em 1976, o Jornal dos Bairros, que circula até 1983, ‘atraindo jornalistas, estudantes e organizações populares’, de acordo com Nilmário Miranda, um de seus mentores, juntamente com Tilden Santiago. ‘Foi uma escola de jornalismo popular. Vinha gente de outros estados para ver esse trabalho’, observa o ex-preso político e ex-ministro dos Direitos Humanos. Distribuído por mais de 100 moradores e colaboradores (a maior parte estudantes de comunicação ou profissionais da área) na região do Barreiro, Contagem, Betim e Ibirité, na Grande Belo Horizonte, alcança quinzenalmente mais de 60 bairros.

Baseado no voluntariado, o Jornal dos Bairros contribui para mudar a forma de atuação das esquerdas, abrigando militantes do MR-8, PCdoB, Centelha, diz Nilmário. Ele ressalta que o coletivo se envolve nas tarefas administrativas, de redação e venda.

Nilmário lembra das reuniões de pauta, que chegam a reunir 100 pessoas nas plenárias, para discutir temas relacionados a movimento ambientalista, transporte coletivo decente, moradia, sem jamais esquecer que ‘para cumprir seu papel político, é preciso fazer bom jornalismo’. A criação do PT, que atrai cerca de 90% dos militantes, o novo sindicalismo que o jornal ajuda a moldar, e os mesmos fenômenos que solapam o encanto dos alternativos em geral, põe um ponto final na trajetória do Jornal dos Bairros e neste capítulo do jornalismo no país.

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Alternativa ao arbítrio

Guerrilheira da informação, nos anos 1960-70, quando os grandes jornais aderem ou calam diante da ditadura, a imprensa alternativa dá suas estilingadas no regime no período mais duro do arbítrio.

E ajuda a abrir brechas na carapaça do sistema. Uma Opinião progressista aqui, um Movimento mais à esquerda adiante, Em Tempo de Resistência à mão pesada da repressão, não são poucos os que têm vida curta. Mas, se Ex é quem sai de cena, logo aparece Mais Um. De Fato, quando falta Argumento, ao Desacato, o Beijo é a resposta que desnorteia e disfarça a Invasão dos espaços que se apresentam. No embate liberdade Versus arbítrio, os alternativos não fogem da Peleia. Contudo, mínguam quando, Afinal, as forças democráticas levam a ditadura à Boca do Inferno.

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Há alternativa?

Ainda há espaço para o exercício do jornalismo alternativo? Algumas publicações caberiam no modelo. É o caso, entre outras, de Caros Amigos, de ViaPolítica, revista virtual que não esconde seus laços com Versus, de Retratos do Brasil, revista com a marca de Raimundo Pereira, da Revista dos Brasileiros, mais uma iniciativa de Ricardo Kotscho, Nilando Beirão e Hélio Campos Mello. Mas os pontos de vista diferem. Para o jornalista e professor da UFBA Gustavo Falcón, a imprensa alternativa era uma forma de produção jornalística de contestação ao sistema, de contracultura. Com o fim da ditadura, ‘o garrote da censura e da ameaça de prisão foi substituído pelo garrote do envolvimento com negócios, principalmente imobiliários, da indústria da construção’. Segundo ele, atualmente, algo que lembra a imprensa alternativa do período ditatorial são publicações como Caros Amigos, ‘mais à esquerda’, e piauí, no que tange a pauta, texto e imagem.

Myltainho Severiano, editor de Caros Amigos, pergunta: ‘O que é alternativo?’ No seu modo de ver, era uma expressão da época (anos 1970-80). ‘Hoje a gente prefere não chamar uma revista como Caros Amigos de alternativa. É uma revista independente. Não deixa de ser alternativa, assim como, no mesmo sentido, a Carta Capital é uma alternativa às outras semanais, que são tudo farinha do mesmo saco. Da mesma forma, temos piauí, Bravo e assemelhadas, um jornalismo que eu chamo de fofo’.

Raimundo Rodrigues Pereira afirma que ainda há espaço para a imprensa alternativa, que ele prefere chamar de popular. ‘O que veio depois da ditadura? Foi uma democratização ampla? Não foi. Primeiro entramos num ciclo liberal, com eleição de Collor, Fernando Henrique… E o que aconteceu com a chamada mídia, imprensa escrita e televisionada, falada etc? Não vi progresso’. No campo tecnológico, ele admite que houve algum avanço. ‘Com a introdução do computador, as coisas ficaram mais rápidas num certo sentido: impressão, essas coisas técnicas, mas a qualidade caiu. Revista como Veja, que tinha capacidade de investigação política, hoje, eu acho, é uma revista dispensável’.

‘Agora nosso clube da esquina está na internet’, diz Omar de Barros Filho. Revista virtual, ViaPolítica, que ele edita com Sylvia Bojunga, aborda a política em seu sentido mais amplo, tratando de suas interfaces com a cultura, as artes, a economia, a diplomacia, o meio ambiente, a responsabilidade social, as novas tecnologias, o comportamento e o humor. Essa, de acordo com ele, é uma das alternativas para o jornalista ‘contribuir com sua experiência renovada para enfrentar o desafio da web com novas utopias’.

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Jornalista