Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Os bastidores de uma entrevista

‘E aí, novidades?’ Essa foi a frase mais repetida nos corredores do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional nos dias que antecederam a primeira entrevista coletiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde que se soube que Lula teria aceitado conceder a entrevista, não se falava em outra coisa em Brasília. A ansiedade dos jornalistas se misturava à falta de informações concretas por parte do Palácio do Planalto sobre a entrevista.

Assessores da Presidência respondiam a mesma coisa: ‘Não temos nada ainda’. Nos bastidores, todos já sabiam que a entrevista iria ocorrer. Mas como seria? E a regras? Quem participaria? Apenas jornalistas que cobrem o dia-a-dia do Palácio? Ou todos os veículos que demonstrassem interesse? Ninguém sabia responder. A única certeza: o entrevistador não teria direito a réplica.

Lula demorou 850 dias para dar a entrevista. E as regras para a coletiva saíram apenas 13 horas antes de seu início. Critérios, aliás, que desagradaram a muita gente. Foram escolhidos nove veículos grandes, entre jornais e TVs, para uma pergunta cada. Depois, criadas mais cinco categorias que ‘também acompanham a agenda do Presidente no Palácio do Planalto’, e um sorteio para escolher um veículo de cada categoria para perguntar a Lula. A rádio sorteada, por exemplo, fez um acordo com as demais na formulação de uma mesma pergunta.

Foi questionado o fato de muitos dos veículos selecionados jamais terem pisado no Palácio do Planalto, contrariando os critérios dos que ‘também acompanham a agenda’ de Lula. O sites jornalísticos também o fazem, mas foram proibidos de disputar uma pergunta ao presidente. O governo Lula, que se diz defensor da inclusão digital e da democratização da comunicação, ‘esqueceu-se’ do jornalismo online.

Sem gelo

O presidente passou a quinta-feira (28/4) se preparando para a coletiva. Reuniu-se com ministros e com o publicitário Duda Mendonça, na Granja do Torto. O resultado ficou visível durante a entrevista: confiante, gesticulante e bem-humorado.

Uma relação de jornalistas credenciados para acompanhar a entrevista foi colocada na portaria do Palácio do Planalto. Um adesivo amarelo e branco era entregue a cada profissional de imprensa destacado para cobrir a coletiva. As regras permitiam apenas dois profissionais por veículo. Havia, entretanto, jornal com mais de cinco jornalistas presentes. Só subiu ao segundo andar, local da entrevista, quem tivesse pregado na lapela o tal adesivo.

Minutos antes do início, jornalistas comentavam o que iriam perguntar a Lula. Durante a coletiva, todos, sentados em cadeiras verdes, assistiam atentos a cada pergunta feita pelos colegas. ‘Essa foi boa’, dizia um. ‘Essa foi fraca’, dizia outro. ‘O Lula está enrolando’, afirmava um colunista. ‘Agora, ele tira de letra’, ouvia-se.

A entrevista, que durou uma hora e 19 minutos, acabou pouco depois das 12h. A maioria dos jornalistas ainda se aproximou de Lula para tentar algo diferente. O presidente foi indagado sobre a história do ‘traseiro’, não quis responder e saiu do local abraçado e conversando com um jornalista de um grande jornal. Enquanto isso, todos procuravam algo quente para noticiar. Mas de quente mesmo só os salgados, os lanches e os sucos de goiaba e de laranja servidos logo depois.

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Repórter do Último Segundo em Brasília