Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Os protestos ignorados pela imprensa

Os jornais apenas registraram – e depois abandonaram, deixando sem cobertura – os protestos de moradores de cidades paulistas que não aceitam ser incluídas como sedes das novas penitenciárias planejadas pelo governo do Estado.


Entre domingo e quarta-feira passada, o prefeito de Porto Feliz caminhou 132 quilômetros com uma comitiva de cidadãos desde a sede da sua prefeitura até o Palácio dos Bandeirantes, na capital, para levar um abaixo-assinado contra a instalação de um presídio na cidade.


Também há movimentos na cidade de Jurucê, pólo turístico na região de Ribeirão Preto conhecido pela culinária típica, e em Registro, a principal cidade do Vale do Ribeira, onde os protestos começaram em março e ainda se repetiam nesta semana.


O governador José Serra planejou construir estabelecimentos penais em 49 regiões do Estado, e resiste a rediscutir o projeto. A Assembléia Legislativa se omite e a imprensa finge que o problema não existe. Enquanto isso, cresce o descontentamento nas regiões escolhidas para abrigar os novos presídios.


Diálogo falho


No Vale do Ribeira, autoridades, comerciantes, agricultores e líderes comunitários lembram que a região, uma das mais carentes do Estado, não conta com sistema oficial de saúde em condições de atender as necessidades da população.


O hospital regional do estado, sediado no município de Pariquera-Açu, não dá conta da demanda e em Registro, a principal cidade da região, o sistema de saúde é controlado por uma instituição privada. A mesma carência é denunciada no sistema escolar e na segurança pública.


O Vale do Ribeira fica a meio caminho entre os estados de São Paulo e Paraná, abriga descendentes da primeira leva de imigrantes do Japão e já foi o principal centro produtor do chá tipo assan, um dos componentes do blend consumido e exportado pela Inglaterra.


Os líderes do movimento contra a construção da penitenciária não conseguem ser recebidos pelo governo e reclamam que a chamada grande imprensa não dá atenção a sua reivindicação. Alguns de seus integrantes já ameaçam interromper o tráfego na rodovia que é a principal ligação entre a região metropolitana de São Paulo e o sul do continente se as obras forem iniciadas.


Em geral, quando falha o diálogo entre autoridades e a sociedade, os jornais assumem o papel da mediação, reproduzindo as opiniões conflitantes. No caso dos presídios, o silêncio da imprensa chega a ensurdecer.