Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Outra vez a censura togada

No caso da advogada Paula Oliveira nossa mídia foi com muita sede ao pote. Agora nossa imprensa chegou muito tarde ao caso do menino Sean Bianchi Goldman disputado pelo pai biológico americano (David Goldman) e pelo padrasto brasileiro (João Paulo Lins e Silva).


Chegou tarde porque a Justiça impede novamente que a sociedade tome conhecimento dos fatos. A Folha de S.Paulo revelou os detalhes desse drama em setembro passado. Como o padrasto é um famoso advogado especializado em direito de família conseguiu que o juiz mantivesse o caso sob sigilo. A Folha recorreu, conforme revelou o seu ombudsman, Carlos Eduardo Lins da Silva (domingo, 8/3, pág. A-6), mas não se animou a contar o resto da história.


Em novembro, a repórter Dorrit Harazim, da revista piauí, desvendou todos os detalhes do caso (ver aqui). A revista circulou normalmente. Nenhuma outra publicação animou-se a fazer o mesmo.


Entrementes, a mídia americana cobre o assunto com total liberdade. Além de exposto num site, o drama foi apresentado no programa Dateline da NBC (sob o título ‘Fighting for Sean’), foi assunto do entrevistador Larry King (da CNN) e mereceu enorme matéria no New York Times (25/2).


Rasgos autoritários


A vexatória resignação da mídia brasileira aos caprichos do Judiciário ficou evidente demais. O Globo revoltou-se e começou a acompanhar o caso. No último fim de semana, o semanário Época publicou a foto do menino na capa.


No mesmo fim de semana, a edição de março de piauí aparecia com nova e meticulosa reportagem de Dorrit Harazim revelando os desdobramentos nacionais e internacionais do Caso Sean. Nenhuma das duas publicações sofreu até agora qualquer tipo de restrição por parte da Justiça.


Estes embargos contra o trabalho da imprensa só funcionam quando a imprensa não tem coragem ou imaginação para enfrentá-los.


Este é um caso doloroso, mas nada adiantará mantê-lo sob sigilo. Nossos magistrados precisam saber que no mundo de hoje é impossível censurar um caso que já chegou à esfera diplomática. Sobretudo quando uma das partes vive numa sociedade aberta, democrática, com uma imprensa treinada para enfrentar rasgos autoritários e censores togados.


 


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