Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Outras verdades sobre o PCC

As notícias sobre os coronéis que tentaram controlar a quadrilha que domina a Polícia Militar na região norte de São Paulo indicam que a imprensa andou frangando importantes informações durante a crise de segurança no governo Geraldo Alckmin.


Em 2006, no período de agitações, incêndios de ônibus e assassinatos de policiais que os jornais creditaram à organização criminosa PCC, a Zona Norte de São Paulo se destacou pelo grande número de mortes de suspeitos.


Parece que a história não era bem aquilo que foi relatado pela imprensa na ocasião.


Posteriormente, investigações comandadas pelo coronel José Hermínio Rodrigues revelaram que atuava na região um grupo de matadores formado por policiais militares, e que provavelmente muitos dos casos relacionados ao movimento do PCC não tinham a ver com a organização criminosa, mas com interesses de policiais corruptos.


O Estado de S.Paulo revela que o coronel Hermínio tentou identificar e punir os policiais criminosos, numa ação praticamente solitária, contando apenas com a ajuda de seu colega tenente-coronel João Osório Gimenez.


Hermínio foi assassinado em 16 de janeiro deste ano, e Gimenez teve que pedir proteção à Polícia Civil, pois o comando da Polícia Militar de São Paulo não lhe deu garantias.


O Estado de S.Paulo tem feito nesta semana um bom trabalho de investigação, ouvindo testemunhas anônimas e revelando que o foco dos grupos de extermínio é o 18º Batalhão da PM.


O comando da Polícia Militar e a Secretaria da Segurança ainda não se manifestaram. Mas tudo indica que o noticiário sobre ataques do PCC, que aterrorizou a população paulistana em 2006, escondia ações criminosas de policiais que a imprensa ignorou.


O esforço do Estadão pode acabar revelando que a história era bem outra. Nada como a boa e velha reportagem, ainda que tardia, para trazer a verdade à tona.


Quadrilha Brasil


Também no Rio, conforme O Globo tem noticiado, a Polícia Militar esconde estruturas estreitamente vinculadas ao crime organizado, ou adaptadas à convivência com os delinqüentes.


A reportagem publicada durante o carnaval, na qual se mostrava que o comércio de drogas floresce na quadra da Mangueira, a mais tradicional escola de samba da cidade, deu um retrato assustador da situação de descontrole.


A imprensa tem cumprido relativamente bem seu papel de alertar as autoridades, mas o noticiário é fragmentado e episódico, como se o problema da violência a que os grupos criminosos submetem a população fosse apenas eventual.


O Globo já havia publicado, em setembro de 2007, uma série de reportagens sobre o verdadeiro Estado de terror que os traficantes impõem aos moradores das favelas do Rio.


O jornal carioca revelou que as quadrilhas definem quando e como funcionam os serviços públicos e o comércio, e são responsáveis por milhares de mortes e desaparecimentos de cidadãos.


Anteriormente, os próprios criminosos haviam oferecido uma mostra de seu poder e atrevimento ao metralhar um trem ocupado por ministros e outras autoridades.


Se o Estado não parece reagir para eliminar o problema, cabe à imprensa seguir martelando em suas cobranças. E nada como um ano eleitoral para fazer o político se mexer na direção certa.


Especialistas como o ex-magistrado Walter Maierovitch têm alertado que o crime organizado, quando não encontra limites, infiltra-se e se instala no Estado.


Neste ano eleitoral, enquanto nossos jornais selecionam declarações para fazer suas manchetes, provavelmente as quadrilhas estão compondo suas chapas para as eleições municipais. Este é o momento de identificar os movimentos de aproximação entre agentes políticos e representantes do crime.