Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Perspectivas e conexões na digitalização do mercado gaúcho

De acordo com o cronograma oficial de implementação da televisão digital terrestre (TDT) no Brasil, todas as geradoras de TV deverão disponibilizar o sinal digital até janeiro de 2011. Depois de São Paulo e região metropolitana, cujo lançamento ocorreu em 2 de dezembro de 2007, o sinal foi estabelecido nas cidades do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia e Curitiba. A próxima cidade a estrear a televisão digital é Porto Alegre. O sinal da RBS TV será aberto no dia 4 de novembro e o primeiro programa a ser totalmente produzido e transmitido em alta definição será exibido no dia 5, o tradicional Jornal do Almoço.

As demais emissoras porto-alegrenses, como Band, Record e SBT, estão definindo seus projetos e ainda não anunciaram seus produtos digitais iniciais. Depois de Porto Alegre, a próxima cidade a receber o sinal digital será Florianópolis (SC), até o final de novembro. Já no mês seguinte, a RBS TV de Porto Alegre e a de Florianópolis apresentarão a minissérie Quatro Destinos, gravada nos dois estados do Sul, em alta definição. Os restantes canais televisivos do grupo exibirão este conteúdo unicamente através do sistema analógico.

Diferenciação do produto-serviço

A TDT amplia as possibilidades de convergência, disponibilizando vários recursos tecnológicos, como multiprogramação (transmissão simultânea de até quatro programas), portabilidade, mobilidade e interatividade. No entanto, esses expedientes não estarão acessíveis de imediato, devendo ser introduzidos posteriormente. Então, da mesma forma que tem ocorrido nas demais capitais do país, a única mudança imediata no mercado televisivo de Porto Alegre, com a implantação da TV digital, é a alta definição, ou seja, qualidade superior de imagem e áudio, gerando modificações técnicas e estéticas, com novos enquadramentos de cena e nitidez da exibição capaz de denunciar falhas no figurino das produções.

Esses fatores, aliados ao baixo poder aquisitivo da população, poderão retardar a disseminação da TV digital no Rio Grande do Sul, como vem ocorrendo nas demais capitais brasileiras em que o sinal já está disponível. Os preços do set top box ainda estão fora da realidade de grande parte dos brasileiros, apesar de já terem sido lançados modelos de menor custo, com versões que variam entre R$ 199,00, R$ 260,00 e R$ 299,00. Mas o principal entrave para o sistema deslanchar é mesmo a falta de diferenciação do produto-serviço, de forma que o consumidor reconheça valor na inovação e invista na migração.

Medidas concretas

A digitalização pode representar mudanças profundas na relação do telespectador com o meio, não somente por alterar a qualidade de imagem e som transmitidos, mas especialmente por permitir maior participação do telespectador na programação televisual, através da interatividade, que, para tornar-se mais plena, requer, necessariamente, a definição do canal de retorno do público para com a emissora. Isso pode significar melhorias no plano da democratização da comunicação, mas deve-se destacar que os usos da televisão com objetivos emancipatórios devem ser uma exceção, sendo o aproveitamento mercadológico a regra, notadamente ante a regulamentação permissiva que demarca o setor.

Portanto, é neste sistema de televisão digital ainda em formatação que os grupos hegemônicos de comunicação lançam suas estratégias operacionais e a sociedade civil busca participação. Até o momento, não são grandes os avanços no que diz respeito à criação de políticas públicas de inclusão digital, nem disposição, por parte do governo e dos agentes hegemônicos, em relação a novas conexões do modelo com o espaço público. Compete ao movimento social, juntamente com universidades e população em geral, pressionar o Estado e exigir que medidas concretas sejam tomadas no âmbito da comunicação que contrariem os interesses hegemônicos e apresentem respostas satisfatórias no plano da cidadania.

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Pela ordem, professor no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), presidente do Capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura (ULEPICC-BR) e vice-presidente da Unión Latina de Economía Política de la Información, la Comunicación y la Cultura (ULEPICC-Federación); integrante do Grupo de Pesquisa CEPOS e mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos); e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), integrante do Grupo de Pesquisa CEPOS e graduanda em Comunicação Social – Jornalismo na Unisinos