Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

PF queria pichar o Nildo, acabou pichada

O ‘furacão Nildo’ acabou com a euforia nas hostes do governo. O seqüestro judicial do depoimento do caseiro na CPI dos Bingos perpetrado pelo STF, e logo acrescido da quebra ilegal do seu sigilo bancário, provocou enorme reverberação e não menor indignação.

Governo, Caixa Econômica, Polícia Federal estão na linha de tiro como responsáveis por esta perversa invasão de privacidade. Mas a imprensa – no caso a revista Época – ainda está ilesa. Merece, ao menos, ser argüida.

As informações vazadas pela Polícia Federal na sexta-feira (17/3), pouco antes do fechamento da última edição (nº 409, de 20/3/2006) da revista, foram apressadamente incluídas na versão impressa que circula no sábado (págs. 43-45), mas imediatamente trombeteadas para o resto da mídia através do blog do semanário num dia em que a mídia impressa engole qualquer coisa, inclusive veneno.

Época foi na onda da Polícia Federal, teoricamente insuspeita para os comuns mortais, mas não para jornalistas experimentados. A matéria evidentemente já estava pronta e montada em torno do abortado depoimento do caseiro na CPI. Mas ‘os documentos aos quais Época teve acesso’ parecem ter sido irrefutáveis já que mais adiante está dito que ‘independentemente de quem esteja com a razão os extratos põem em dúvida a credibilidade do caseiro’.

Como? Por quê? Quem o garante?

Inspiração competente

Se alguns parágrafos acima a revista admite que ligou para o advogado do caseiro e que este esclareceu todas as entradas e saídas de dinheiro, como é que a reportagem insiste na falta de credibilidade do caseiro? E por que a sentença ‘uma imagem que seria letal para Palocci desaparece caso se comprove que a credibilidade de Francenildo não vale nada’?

Por causa da pressa ou da vontade de agradar a fonte, Época tornou-se parceira involuntária desta Operação Desqualificação da Testemunha. Esqueceu dos tempos em que os famigerados ‘órgãos de segurança’ podiam tudo. Inclusive pichar e desmoralizar aqueles que precisam ser silenciados.

Francenildo Costa explicou prontamente a origem do apreciável saldo em sua conta corrente. Mas se tivesse demorado um ou dois dias seria certamente esquartejado pela máquina da difamação que voltou a funcionar em ritmo de delírio.

Desta vez não houve fitas, grampos ou vídeos clandestinos. Mas o jornalismo fiteiro versão 2006 já está em ação e quase linchou um inocente. Sob a competente inspiração da Polícia Federal.