Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

PIB, crescimento e sustentabilidade

A imprensa destaca, com unanimidade, o crescimento de 5,4% do Produto Interno Bruto do Brasil em 2007. Em todos os jornais, o avanço da economia, puxado pelo grande crescimento do consumo e do investimento, é a grande manchete de quinta-feira (13/3).


Contrariando os prognósticos de muitos especialistas, que previam um crescimento menor por conta da desvalorização do dólar, que viria a afetar a receita das exportações, o consumo interno se acelerou no último trimestre do ano passado, registrando uma expansão de 6,5%. Paralelamente, os investimentos cresceram 13,4%, o que indica que tanto o governo como a iniciativa privada estão se movimentando.


Os jornais reconhecem o erro das previsões pessimistas que abrigaram nos últimos meses, e a Folha de S.Paulo publica opinião de que o Brasil pode crescer mesmo sem reformas estruturais.


A notícia é boa, mas esconde dois vícios perigosos.


O primeiro se refere à ilusão de que a economia continuará crescendo porque os investimentos produtivos do ano passado garantem o suprimento da forte demanda interna. Bons momentos da economia têm sido usados, historicamente, para adiar reformas modernizadoras e investimentos em infra-estrutura.


É o que queremos?


Mas o mais preocupante no noticiário é que os jornais brasileiros seguem considerando o PIB como medida principal do desenvolvimento. Já faz mais de cinco anos que se discute a validade desse indicador, pois ele mede apenas a produção da riqueza financeira e não leva em conta os custos sociais e ambientais desse crescimento. Equivale a comemorar o fato de um fazendeiro ter ganho mais dinheiro em determinado ano porque derrubou e vendeu todas as árvores de sua propriedade.


Comemorar o crescimento do PIB sem considerar os danos que esse crescimento provocou e sem citar uma linha sequer sobre os valores socioambientais que devem respaldar o avanço da economia é um retrato acabado da ignorância da imprensa sobre os paradigmas da sustentabilidade.


Fazer o PIB crescer é tarefa relativamente fácil e já aconteceu no período do ‘milagre econômico’: basta reduzir a fiscalização sobre o trabalho infantil, tolerar o trabalho escravo, esquecer as diferenças de renda e fechar os olhos para a destruição dos recursos naturais.


Se é um Brasil assim que queremos, tudo bem, pode começar o foguetório.