Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Polícia Federal defende
os  grampos telefônicos

 

Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 26 de junho de 2007


GRAMPOS EM DEBATE
Fausto Macedo e Bruno Tavares


Para Lacerda, privacidade é relativa


‘‘Não existem valores absolutos, a privacidade de um delinqüente deve ser invadida sim em defesa dos interesses da sociedade’, declarou ontem o delegado Paulo Lacerda, diretor-geral da Polícia Federal, ao ser indagado sobre as investigações que miram servidores públicos corruptos e sobre mudanças na Lei 9.296/96, que autoriza a escuta telefônica.


A privacidade, prosseguiu Lacerda, é um valor que deve ser preservado porque encontra amparo na Constituição. ‘Mas existem outros valores constitucionais, como o direito à vida, ao patrimônio público e ao patrimônio pessoal, que devem ser verificados para que a sociedade tenha preservada os seus valores.’


O diretor da PF passou a segunda-feira em São Paulo, onde participou da cerimônia de posse do novo superintendente regional da instituição, delegado Jaber Makul Hanna Saadi. Ao final da solenidade, ele falou sobre grampos, controle externo do Ministério Público Federal e também sobre Renan Calheiros, presidente do Senado. Lacerda recebeu os jornalistas com uma condição – que suas palavras não fossem gravadas.


Ele disse que ‘não cabe’ à PF a iniciativa de abrir inquérito para investigar Renan. ‘O procurador-geral da República tem as atribuições dele. O presidente do Congresso tem prerrogativas de foro especial. A polícia não pode fazer isso, não tem essa atribuição. Quem tem de fazer é o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal.’


O delegado afirmou que os peritos do Instituto Nacional de Criminalística (INC) da PF fizeram um laudo sobre o caso Renan ‘a título de cooperação’ com o Conselho de Ética do Senado. ‘Não quer dizer que podemos abrir inquérito (contra Renan). Não podemos, mas estamos à disposição.’


Lacerda defendeu o aperfeiçoamento da lei do grampo, que o governo estuda mudar. ‘É preciso (aperfeiçoar). Não somos os donos da verdade. Na medida em que há reclamações temos que estar abertos à discussão. Em termos de tecnologia é possível fazer controles, editar alguma norma impondo condutas aos agentes públicos. Mas o cerne é: deve ou não haver escuta? Aí nós vamos nos filiar às correntes do mundo inteiro. Nos países que têm problemas muito mais sérios, como o terrorismo, já abrem mão de algumas garantias, de ordem judicial, em nome do interesse maior da sociedade. Não adianta simplesmente intimar um suspeito e perguntar a ele sobre seu envolvimento.Temos de ter postura severa diante dos esquemas de corrupção, das organizações criminosas.’


Ele observou que a escuta ‘é uma das principais ferramentas (de investigação), mas não é a única porque em todas as operações são apreendidos documentos e HDs’. Pregou controle rígido da interceptação, para evitar abusos. ‘À medida em que os equipamentos ficam mais invasivos é preciso criar regras, normas, compatibilizar os avanços com os mecanismos legais. Temos que adequar a situação. O aperfeiçoamento é a meta. Alguns dizem que o instrumento do monitoramento, em razão da invasão da privacidade, deveria ser abolido. Não penso assim. Mas não admito escuta sem autorização judicial, sou submisso ao Judiciário.’


RIGOR


O diretor da PF condenou o vazamento de informações sobre missões antiorganizações criminosas. Na Operação Xeque-Mate, que apontou para o suposto envolvimento de Genival Inácio da Silva, o Vavá – irmão mais velho do presidente Lula -, em um esquema de corrupção para favorecer jogo de azar, um delegado da PF teria repassado dados a suspeitos. ‘Nesse aspecto nosso trabalho tem sido muito rigoroso. Infelizmente, temos elementos que desonram nossa categoria e por isso são adotadas medidas fortes, enérgicas, como a prisão dessas pessoas e até exclusão dos nossos quadros.’


Ao falar das relações com o Ministério Público, Lacerda afirmou que ‘é da harmonia’. Ele disse que desconhece que o Ministério Público estaria fazendo grampo. ‘Sei que o procurador-geral diz que esse trabalho é da polícia. A minha opinião é: cada um no seu lugar. A polícia tem que se aperfeiçoar e ter os seus instrumentos de trabalho, mas o MP também. Se amanhã a polícia fizer investigação ruim e não atingir objetivos o MP pode cobrar investigação melhor. Isso está previsto desde 1940. Agora, se a sociedade entender que o MP deve fazer investigação e monitoramentos, tudo bem, vamos cumprir e ficar aguardando eles dizerem: a gente investiga e vocês executam. Mas aí eu quero passar 120 mil inquéritos que a Polícia Federal tem para o Ministério Público. É a única questão que eu digo. Essa competência seletiva nenhum poder tem.


FRASES


Paulo Lacerda


Diretor-geral da PF


‘Não existem valores absolutos, a privacidade de um delinqüente deve ser invadida sim em defesa dos interesses da sociedade’


‘Em termos de tecnologia é possível fazer controles, editar alguma norma impondo condutas aos agentes públicos. Mas o cerne é: deve ou não haver escuta?’’


CONCESSÕES EM DEBATE
Gerusa Marques


Comissão quer avaliar concessões mais rápido


‘Lentidão, falta de transparência, acúmulo de processos e repetição de procedimentos. Essa é a realidade do sistema brasileiro de concessão e de renovação de outorgas de emissoras de rádio e televisão. A análise dos pedidos, que passam pelo Ministério das Comunicações, pela Casa Civil da Presidência e pelo Congresso, tem levado até dez anos para ser concluída. Especialistas avaliam que a legislação é incompleta e cheia de lacunas, o que abre brechas para pressões políticas na obtenção de licenças e atuação ilegal de emissoras.


Novas regras aprovadas pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, no fim de maio, prometem acelerar o processo, pelo menos no Congresso. A presidente da subcomissão que elaborou o novo ato normativo de apreciação das concessões, deputada Luiza Erundina (PSB-SP), acredita que agora o processo será acelerado, com redução de prazos e eliminação da duplicidade de ações. ‘O ato normativo simplifica, dá transparência e racionaliza o processo’, afirma.


De acordo com o novo ato normativo, aprovado pela comissão no fim de maio, as empresas terão 90 dias para resolver problemas como falta de documentos ou informações imprecisas, por exemplo. Além disso, os pedidos passarão apenas pela Comissão de Ciência e Tecnologia, e não mais pela Comissão de Constituição e Justiça . ‘Há uma duplicidade de procedimentos que contribui para a demora’, justifica Erundina.


Mas a solução do problema, segundo parlamentares, depende de uma mudança mais ampla nas leis e na regulamentação da Constituição, para permitir que esses avanços cheguem ao Ministério das Comunicações e à Casa Civil, onde os documentos ficam retidos por mais tempo.


Os arquivos do ministério estão abarrotados com mais de 70 mil processos, dos quais 40 mil vieram de 11 delegacias regionais fechadas em 2002. Atualmente, 12 mil pedidos aguardam análise do setor de radiodifusão e da área jurídica. A maior parte, no entanto, fica retida já na triagem, por não cumprir todas as exigências. O volume mais significativo é de solicitação de licenças de rádios comunitárias.


ESTRUTURA


O ministro das Comunicações, Hélio Costa, diz que para resolver o problema é necessário reabrir as delegacias, porque o ministério não tem estrutura para fazer todo o trabalho. ‘Mais uma vez faltam recursos’, diz.


E o número de pedidos só aumenta. Neste ano, vencem 179 concessões de rádio e televisão. Nesse bolo, com vencimento previsto para outubro, estão grandes emissoras, como a TV Globo em São Paulo, Rio, Brasília, Minas e Pernambuco e também as concessões, em São Paulo, da Bandeirantes, Record, Fundação Padre Anchieta e Fundação Cásper Líbero.


Para as emissoras que estão com a concessão expirando continuarem a operar, a legislação exige apenas que entrem com pedido de renovação e toda a documentação de regularidade fiscal entre seis meses e três meses antes do vencimento.


Segundo o presidente da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Daniel Pimentel Slaviero, esses são procedimentos habituais e as empresas já estão providenciando a renovação. Hélio Costa disse que, se essas empresas cumprirem as exigências, não haverá problemas.


Erundina disse que até novembro a subcomissão vai apresentar sugestões para regulamentar a Constituição, principalmente para especificar melhor o artigo 54, que proíbe que políticos detenham concessões de rádio e TV. Segundo ela, como não há regulamentação, a proibição é sistematicamente burlada.


Hélio Costa entende que a Constituição não impede o político de ter participação em emissoras. ‘O que impede é de ele estar à frente de uma empresa, de ser diretor. Está mais para uma questão ética que legal’, afirmou.’


Hélio Costa: ministro das Comunicações


‘Tem de haver maior agilidade’


‘O ministro das Comunicações, Hélio Costa, diz que para dar agilidade à tramitação dos processos de concessão e renovação de outorgas de rádio e TV é necessário reestruturar o ministério. Para ele, é preciso reabrir as delegacias regionais, para tratar dos pedidos na origem, e informatizar os 70 mil processos em curso. Costa quer também a definição de um trâmite mais simples para renovação das concessões.


Há muita reclamação pela demora na análise de pedidos. O que fazer?


Todos concordam que tem de haver maior agilidade no procedimento e maior segurança na leitura de informações e documentos. Aqui a gente analisa criteriosamente, passa pelos departamentos jurídico e técnico. Quando chega no Congresso, a preocupação é fazer uma revisão para ver se tem algo que não bate com a informação. Na grande maioria, o que acontece é que os documentos vencem lá, no espaço de tempo em que estão sendo julgados.


Como acelerar o processo no Ministério das Comunicações?v


A dificuldade maior é de pessoal, os salários são baixos e perdemos funcionários. Estou enviando ao ministro Paulo Bernardo (do Planejamento) um plano de cargos e salários.


Há 70 mil processos no ministério.


A única solução, e mais uma vez faltam recursos, é reabrir as delegacias regionais, que cuidavam do procedimento inicial no Estado. Quando o processo chegava aqui estava no estágio final, era só revisar e assinar. O presidente apoiou a idéia, mas dependemos de viabilizar os recursos via Planejamento e ainda não conseguimos. Enquanto não se reabrem as delegacias regionais, a solução pode ser a digitalização dos processos. Se conseguirmos digitalizar todos, o que levaria um ano, teríamos condições de pô-los na internet. O interessado iria respondendo pela internet às exigências. Aí, teremos condições de resolver os 70 mil processos e começar vida nova.


E os pedidos de renovação?


O procedimento de renovação deveria ser simplificado. Se a empresa está operando, está em dia com o Fisco, com a Previdência, a Justiça e com suas obrigações trabalhistas, não tem por que passar por todo o trâmite de novo. Passaria apenas por um órgão, uma comissão mista do Congresso, por exemplo. Mas não está isenta de apresentar os documentos necessários. E se não batem, ela é retirada para ser analisada especificamente.’


RENANGATE
Arnaldo Jabor


A teoria do canalha


‘‘Eu não sou um canalha; eu sou o canalha. Tenho orgulho de minha cara-de-pau, de minha capacidade de sobrevivência, contra todas as intempéries. Enquanto houver 20 mil cargos de confiança no País, eu estarei vivo, enquanto houver autarquias dando empréstimos a fundo perdido, eu estarei firme e forte. Não adianta as CPI’s querendo me punir. Eu saio sempre bem. Enquanto houver este bendito código de processo penal, eu sempre renascerei como um rabo de lagartixa, como um retrovírus, fugindo dos antibióticos. Eu sei chorar diante de uma investigação, ostentando arrependimento, usando meus filhos, pais, pátria, tudo para me livrar. Eu declaro com voz serena: ‘Tudo isso é uma infâmia de meus inimigos políticos. Eu não me lembro se essa loura de coxas douradas foi minha secretária ou não. Eu explico o Brasil de hoje. Eu tenho 400 anos: avô ladrão, bisavô negreiro e tataravô degredado. Eu tenho raízes, tradição. E eu sou também pós-moderno, sou arte contemporânea: eu encarno a real-politik do crime, a frieza do Eu, a impávida lógica do egoísmo.’


‘No imaginário brasileiro, eu tenho algo de heróico. São heranças da colônia, quando era belo roubar a Coroa. Só eu sei do delicioso arrepio de me saber olhado nos restaurantes e bordéis. Homens e mulheres vêem-me com gula: ‘Olha, lá vai o canalha…!’ – sussurram fascinados por meu cinismo sorridente, os maîtres se arremessando nas churrascarias de Brasília e eu flutuando entre picanhas e chuletas, orgulhoso de minha superioridade sobre o ridículo bom-mocismo dos corretos. Eu defendo a tradição endêmica da escrotidão verde e amarela. Sem mim, ninguém governa, sem uma ponta de sordidez, não há progresso.


‘Eu criei o Sistema que, em troca, recria-me persistentemente: meus meneios, seus ademanes, meus galeios foram construindo um emaranhado de instituições que regem o processo do País. Eu sou necessário para mantê-las funcionando. O Brasil precisa de mim.


‘Eu tenho um cinismo tão sólido, um rosto tão límpido que me emociono no espelho; chego a convencer a mim mesmo de minha honestidade, ah! ah!… Como é bom negar as obviedades mais sólidas e ver a cara de impotência de inquisidores. E amo a adrenalina que me o acende o sangue quando a mala preta voa em minha direção, cheia de dólares, eu vibro quando vejo os olhos covardes dos juízes me dando ganho de causa, ostentando honestidade, fingindo não perceber minha piscadela maligna e cúmplice na hora da emissão da liminar… Adoro a sensação de me sentir superior aos otários que me compram, aos empreiteiros que me corrompem, eles humilhados em vez de mim.


‘Eu sou muito mais complexo que o bom sujeito. O bom é reto, com princípio e fim; eu sou um caleidoscópio, uma constelação.


‘Sou mais educativo. O homem de bem é um mistério solene, oculto sob sua gravidade, com cenho franzido, testa pura. O honesto é triste, anda de cabeça baixa, tem úlcera.


‘Eu sou uma aula pública. Eu faço mais sucesso com as mulheres. Elas se perdem diante de meu mistério, elas não conseguem prender-me em teias de aranha, eu viro um desafio perpétuo, coisa que elas amam em vez do bondoso chato previsível. A mulher só ama o inconquistável. Eu conheço o deleite de vê-las me olhando como um James Bond do mal, excitadas, pensando nos colares de pérolas ou nos envelopes de euros. Eu desorganizo seu universo mental, muitas vezes elas se vingam de mim depois, me denunciando – claro -, mas só eu sei dos gritos de prazer que lhes proporcionei com as delícias do mal que elas adivinhavam. Eu fascino também os executivos de bem, porque, por mais que eles se esforcem, competentes, dedicados, sempre se sentirão injustiçados por algum patrão ingrato ou por salários insuficientes. Eu, não; eu não espero recompensas, eu me premio. Eu tenho o infinito prazer do plano de ataque, o orgasmo na falcatrua, a adrenalina na apropriação indébita. Eu tenho o orgulho de suportar a culpa, anestesiá-la – suprema inveja dos neuróticos. Eu sempre arranjo uma razão que me explica para mim mesmo. Eu sempre estou certo ou sou vítima de algum mal antigo: uma vingança pela humilhação infantil, pela mãe lavadeira ou prostituta que trabalhou duro para comprar meu diploma falso de advogado.


‘Eu posso roubar verbas de cancerosos e chegar feliz em casa e ver meus filhos assistindo desenho na TV. Eu sou bom pai e penso muito no futuro de minha família, que, graças a Deus, está bem. Eu sou fiel a uma mulher só, que vai se consumindo em plásticas e murchando sob pilhas de botox, mas nunca a abandono, apesar das amantes nas lanchas, dos filhos bastardos.


‘Eu não sou um malandro – não confundir. O malandro é romântico, boa-praça; eu sou minimalista, seco, mais para poesia concreta do que para o samba-canção. Eu tenho turbocarros, gargalho em Miami e entendo muito de vinho. Sei tudo. Ultimamente, apareceram os canalhas revolucionários, que roubam ‘em nome do povo’. Mas eu não. Sou sério, não preciso de uma ideologia que me absolva e justifique. Não sou de esquerda nem de direita, nem porra nenhuma. Eu sou a pasta essencial de que tudo é feito, eu tenho a grandeza da vista curta, o encanto dos interesses mesquinhos, eu tenho a sabedoria dos roedores.


‘Eu confio na Justiça cega do País, no manto negro dos desembargadores que sempre me acolherão. Eu sou mais que a verdade; eu sou a realidade. Eu acho a democracia uma delícia. Eu fico protegido por um emaranhado de leis malandras forjadas pelos meus avós. E esses babacas desses jornalistas pensam que adianta essa festa de arromba de grampos e escândalos. Esses shows periódicos dão ao povo apenas a impressão de transparência, têm a vantagem de desviar a atenção para longe das reformas essenciais e mantêm as oligarquias intactas. Este País foi criado na vala entre o público e o privado. Florescem ricos cogumelos na lama das maracutaias. A bosta não produz flores magníficas? Pois é. O que vocês chamam de corrupção, eu chamo de progresso. Eu sou antes de tudo um forte!’’


MERCADO EDITORIAL
Antonio Gonçalves Filho


Um século de auto-ajuda e ciência


‘Há um século um imigrante português, o jardineiro Antônio Olívio Rodrigues resolveu trocar as flores pelos livros e apostar num segmento do mercado editorial até então inexplorado, o do esoterismo. Criou uma editora, a Pensamento, que publica desde 1912 o mais popular e longevo título brasileiro, o Almanaque do Pensamento, que traz de aforismos às fases da lua, passando por conselhos úteis como tirar manchas de roupa. São 22 milhões de exemplares vendidos desde então pelos descendentes do editor-jardineiro, que comemoram hoje os 100 anos da editora Pensamento-Cultrix com uma festa no Museu da Língua Portuguesa. O Cultrix foi agregado ao nome mas nasceu como editora em1956, quando foi lançado no Brasil o maior fenômeno de venda do gênero auto-ajuda do Brasil, O Poder do Pensamento Positivo, de Norman Vincent Peale (1898-1993), então o pastor mais popular de Nova York.


Hoje anunciado pela editora como ‘o precursor de O Segredo’, o livro de Peale já vendeu mais de 700 mil exemplares e, de fato, foi um dos primeiros títulos de auto-ajuda no País. Há meio século, quando a filosofia existencialista de Sartre ocupava a cabeça dos intelectuais, os mais pragmáticos recorriam às lições de religião aplicada de Peale – ele a chamava de ‘sistema científico’ – para aprender a conquistar tudo o que Sartre nem de longe oferecia: saúde, dinheiro e felicidade.


Evidente que há meio século ninguém falava em auto-ajuda, mas o êxito da editora, comprovado pelos 100 anos de existência, deve-se às antenas visionárias da família Riedel, proprietária até hoje da Pensamento-Cultrix. Foi o sucesso popular de livros como os de Peale que garantiram a Diaulas Riedel a possibilidade de criar a Cultrix, voltada ao segmento de Filosofia, Sociologia, Comunicação e Lingüística. Ferdinand de Saussure (1857-1913), o lingüista suíço sem o qual não teria nascido o estruturalismo, foi publicado pela primeira vez em língua portuguesa pela Cultrix, que teve como consultor editorial ninguém menos que o poeta e tradutor José Paulo Paes (1926-1998). É desse tempo (anos 1970) a primeira edição do livro A História Concisa da Literatura Brasileira, um clássico do professor Alfredo Bosi.


Por essa época os donos da editora, mais uma vez com faro futurista, resolveram apostar em títulos que tratassem de ecologia e meio ambiente. Há 30 anos, um livro de Kay Curry-Lindahl, Ecologia: Conservar para Viver, já dava o alerta sobre as conseqüências da poluição fora de controle. Três décadas depois, a editora, por coerência e pioneirismo, lançou seu primeiro livro ecologicamente correto, feito com papel reciclado, Guia para o Planeta Terra, do bioquímico Art Sussman.


‘Tinha de pensar em algo que fizesse justiça ao pioneirismo de meu bisavô e de meu pai’, justifica o atual diretor da editora, Ricardo Riedel, ex-empresário da indústria farmacêutica que assumiu há dez anos a presidência das editoras Pensamento e Cultrix . Em seu primeiro ano de gestão, o diretor lançou um petardo que fez barulho na mídia, O Código da Bíblia, escrito pelo matemático israelense Eliyahu Rips com a colaboração do jornalista americano Michael Drosnin, ambos defensores de uma tese polêmica, a de que é possível decifrar a Bíblia por meio de operações matemáticas feitas por computador, que indicariam por código acontecimenos como o Holocausto e a morte de Rabin.


No entanto, Riedel diz que sua intenção não foi a de provocar controvérsia, mas seguir os passos de seus ancestrais, colocando à disposição do leitor uma gama variada de gêneros e idéias em circulação. O bisavô, por exemplo, criou o primeiro círculo esotérico brasileiro e investiu com tudo em temas como mentalismo e autoconhecimento. O avô de Ricardo, Arthur, foi pelo caminho da auto-ajuda e lançou títulos como os de Norman Vincent Peale. Sob a administração de Diaulas Riedel, pai do atual diretor, a aproximação entre religiosidade e ciência se deu graças à fusão da Pensamento com a Cultrix. Foi ele quem lançou o primeiro grande sucesso do físico de origem austríaca Fritjof Capra, O Tao da Física, que traça um paralelo entre a física moderna, o taoísmo e o budismo.


O centro da sala do diretor ostenta uma carta de Capra, lembrando que a Pensamento é a única no mundo a ter publicado todos os seus livros. E vai continuar a publicar, garante Ricardo Riedel, anunciando o próximo título do físico a ser lançado em outubro, A Ciência de Leonardo da Vinci (The Science of Leonardo da Vinci), simultaneamente com os Estados Unidos (Doubleday) e Itália (Rizzoli). Capra, segundo o editor, passou os últimos três anos pesquisando a vida de Da Vinci para demonstrar como ele antecipou a necessidade de ter o cientista uma perspectiva interdisciplinar que conduza o homem a uma reconexão com o planeta em que vive.


Esse, segundo Riedel, é o tema em pauta no centenário da Pensamento-Cultrix. ‘Lanço também livros em que não dá para apostar comercialmente, como Animate Earth, um de nossos próximos títulos’, lembra, citando a obra do cientista Stephen Harding, que defende uma ciência holística derivada da teoria de James Lovelock (‘Gaia’) sobre a modulação do funcionamento metabólico do planeta com a ajuda do homem. Sustentabilidade é a nova aposta da editora que, nunca é demais lembrar, também acredita na sorte. Foi dela que saiu a edição mais bem traduzida do I Ching – O Livro das Mutações, que Jung prefaciou.’


MERCADO DE MÍDIA
O Estado de S. Paulo


Murdoch mais perto de ficar com a Dow Jones


‘Reuters – O grupo News Corp., do magnata Rupert Murdoch, está perto de fechar um acordo com a Dow Jones & Co. em relação a princípios de independência editorial do jornal Wall Street Journal no caso de uma aquisição, segundo fontes próximas às negociações. Com isso, aumentam as expectativas de que um acordo de aquisição seja fechado em breve. A News Corp. ofereceu cerca de US$ 5 bilhões pelo controle da Dow Jones.


Um tratado para proteger a integridade jornalística da principal publicação do grupo Dow Jones é visto como a maior barreira para o fechamento do negócio. Conselheiros das duas companhias se encontraram no último fim de semana e podem estar perto de um acordo para a independência editorial e integridade, disse a fonte. A Dow Jones estava discutindo a proposta com membros da família Bancroft, que controla a empresa, relatou outra fonte.


As conversas se aceleraram desde que o conselho de diretores da Dow Jones concordou, na semana passada, em assumir as negociações com Murdoch, por causa de preocupações de que o magnata retirasse a proposta com a demora das considerações por parte dos Bancrofts. Cerca de três dúzias de membros da família controlam a Dow Jones, com 64% das ações com direito a voto.


Informações das discussões foram relatadas ontem pelo próprio The Wall Street Journal e pelo The New York Times. Ambos os relatos disseram que o acordo inicial de independência jornalística não significa que o conselho de diretores ou os Bancrofts aprovariam o acordo. A News Corp. não quis comentar o assunto e representantes da Dow Jones não foram encontrados.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


DVR x Anunciantes


‘O terror dos anunciantes parece não ser tão assustador assim. Pelo menos é isso que a SKY apresenta ao mercado hoje, em uma pesquisa que mostra que mesmo com o DVR – aparelho que permite que os assinantes gravem os programas pulando os comerciais – o público continua assistindo ao break comercial.


Segundo dados da pesquisa – a primeira sobre o DVR no Brasil, realizada pelo Instituto Ipsos -, 59% dos entrevistados dizem que mesmo com o aparelho continuam assistindo aos programas ao vivo. O que quer dizer que mais da metade do público ainda assiste aos comerciais mesmo podendo pulá-los.


Os outros 41 % já entram automaticamente na grade de programação gravada e personalizada.Desses, 44% são mulheres e 38% são homens.


Esses e outros resultados virão para acalmar o mercado anunciante, uma vez que o TiVo (marca de DVR) causou o maior alvoroço ao ser lançado nos Estados Unidos, justamente pelo público pular o intervalo comercial. Por aqui, todos querem saber se o brasileiro gosta ou não de ver propaganda, ainda mais às vésperas do lançamento da TV aberta digital.’


Keila Jimenez


Leandro salva ibope deixado por Pedra


‘Foi um verdadeiro tratamento de choque na audiência. A Globo conseguiu recuperar ibope na sexta-feira à noite – após a incompreendida A Pedra do Reino – com o especial popularesco Por Toda a Minha Vida, sobre a trajetória do cantor sertanejo Leandro. O especial, que levou às lágrimas boa parte de audiência, registrou média de 30 pontos, uma boa alavancada, uma vez que Pedra registrou média de 11 pontos no horário. Os próximos homenageados no Por Toda a Minha Vida serão os cantores Renato Russo, Clara Nunes e Nara Leão.


Entre-linhas


Diretor Wes Craven (da série Pânico) será o jurado convidado de hoje do reality On the Lot, às 21 horas, no People+Arts.


O programete What’s On, produzido no Brasil pelo Universal Channel, está em 41 países, entre os quais Argentina, Chile, México, Suriname, Costa Rica e Belize.


Mel Lisboa lança hoje, às 20 horas, no Fashion Mall, no Rio, o livro GNT Mundo Afora – Diário de bordo de Mel Lisboa.


A atriz Queen Latifah está no episódio de hoje do reality America’s Next Top Model, na Sony, às 21 horas.’


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 26 de junho de 2007


GRAMPOS EM DEBATE
Andréa Michael


Diretor da PF defende escutas e desafia Ministério Público


‘O diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, disse ontem que, se houver o entendimento do Supremo Tribunal Federal de que o Ministério Público tem atribuição para investigar, os procuradores devem assumir a responsabilidade pela apuração dos 120 mil inquéritos que tramitam hoje.


‘Se se entender que o Ministério Público deve ser competente para investigar, então, que ele presida todas as investigações no Brasil. São 120 mil inquéritos. Não pode haver uma competência seletiva’, afirmou Lacerda, ao participar, em São Paulo, da posse do novo superintendente regional da PF paulista, delegado Jaber Saadi.


Lacerda disse também que ‘não se trata de uma crítica ao Ministério Público’, instituição com a qual alega nunca ter tido problema em toda a carreira. ‘É uma constatação.’ Questionado sobre qual seria a missão da PF caso o STF decida pelo poder de investigação dos procuradores, Lacerda respondeu que ‘aí a Polícia Federal vai cumprir o que o Ministério Público determinar’.


Após participar da posse de Saadi -que substitui o delegado Geraldo Araújo, que será superintendente da PF em Belém (PA)-, Lacerda defendeu o uso de escutas telefônicas como ‘uma das principais ferramentas de investigação, desde que dentro da legalidade’.


O diretor-geral da PF desqualificou o argumento segundo o qual a escuta viola o princípio constitucional do direito à privacidade e à intimidade.


Está em discussão no Ministério da Justiça, com participação da PF e de representantes do Ministério Público, um projeto de lei para rever a regulamentação do uso de escutas telefônicas em investigações.


Sobre a polêmica, Lacerda disse: ‘A privacidade de um delinqüente tem de ser invadida, sim, em defesa dos interesses das sociedade. A privacidade é garantida na Constituição, como também há garantias constitucionais para a vida, o patrimônio público e pessoal. Não há valores absolutos quando estão em questão interesses sociais’. Para ele, o uso de escuta requer ‘aperfeiçoamentos, mas a lei de hoje já garante a legalidade do uso’.


A procuradora Regional da República, Janice Ascari, criticou as declarações. ‘Lacerda se esquece que o inquérito policial não é o único instrumento de investigação. Demonstra desconhecimento total da lei.’


Roberto Wider Filho, promotor do Gaeco (grupo especial do Ministério Público), disse que Lacerda ‘não sabe conviver num regime democrático’. ‘O Ministério Público atua em muitos casos em que polícia não está apta a investigar’. Para o procurador Mário Lúcio Avelar, o importante é que os dois órgãos trabalhem em conjunto.


O procurador geral da República, Antonio Fernando de Souza, não respondeu ao pedido de entrevista da Folha.


Colaborou LILIAN CHRISTOFOLETTI , da Reportagem Local’


RENANGATE
Folha de S. Paulo


‘PLAYBOY’ DIZ TER INTERESSE EM CAPA COM A ‘MUSA DO ESCÂNDALO’


‘Depois de afirmar, em entrevista à Folha no domingo, que só faria comentário sobre proposta para posar nua se houvesse um convite, a jornalista Mônica Veloso, peça-chave no escândalo que envolve o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), passou a ser alvo da revista ‘Playboy’. À Folha ela disse que, até aquele momento, não havia nenhuma proposta. ‘Sem isso não dá nem para fazer conjectura.’ Ontem, a ‘Playboy’ confirmou interesse em despir a ‘musa do escândalo’ e disse que já contatou a jornalista.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Jovens, não bandidos


‘Ontem na Globo, sobre episódio no Rio de Janeiro:


– Grupo espancou e roubou empregada. Os jovens são de classe média alta… Jovens moradores de condomínios de luxo da Barra… Jovens… Os jovens são o centro desta questão perturbadora.


Dias antes na Globo, sobre episódio em São Paulo:


– Quadrilha aterrorizou moradores do Morumbi. Assalto a casa de luxo… Vários bandidos.


Para um lado, um ‘grupo’ de ‘jovens’. Para outro, uma ‘quadrilha’ de ‘bandidos’. Pergunta/acusação de Xico Vargas, ontem no site Nomínimo:


– Será que temos feito tudo errado e não são a cor, a casa e a carteira que forjam a bandidagem?


RACHA SUL-SUL


Na manchete do site indiano ‘Economic Times’, ‘Índia e Brasil encaram a ira de países em desenvolvimento na OMC’. Era despacho da AP, noticiando que oito latino-americanos e asiáticos apresentaram um ‘meio termo’ para a rodada Doha após o ‘colapso’. No título original, ‘Países em desenvolvimento racham sobre comércio’.


Na relação dos oito, alinhados de EUA e Europa, mais a assinatura de Hong Kong, parte da China. Dias antes, o estatal ‘China Daily’ deu editorial pedindo ‘flexibilidade’ de Brasil e Índia. O temor de uma invasão de produtos chineses na Índia, devido à liberação de importações, foi uma das razões do colapso, segundo o ‘Financial Times’.


UMA PAUSA?


Sob o título ‘Brasileiros saboreiam nova realidade’, o ‘Miami Herald’ retratou como, ‘por mais de um ano, a maior economia da América Latina está numa carreira’.


Já o ‘Wall Street Journal’ pergunta se os juros em alta nos EUA vão levar a ‘uma pausa’ na ‘carreira’ de países como o Brasil. ‘Por enquanto, eles têm se segurado bem, surpreendentemente’, mas ‘alguns’ analistas, como no Citigroup, ‘vêem razões para atenção, sobretudo no curto prazo’, pela ‘volatilidade’.


COMPRAR OU VENDER


O ‘WSJ’ noticiou sexta que a ADM, ‘a maior produtora de etanol dos EUA’, anunciou a ‘entrada no negócio de etanol de cana do Brasil’. A decisão ‘poderia alterar o quadro’ do lobby em Washington e elevar a pressão para o corte da tarifa sobre álcool importado daqui.


Mas o ‘FT’ deu ontem que entrar no Brasil não será fácil, noticiando que a Cosan, ‘a maior produtora de etanol do Brasil’ e foco de compra pela ADM, ‘está mais interessada em comprar’, ela mesma. Vai se lançar em Wall Street.


QUASE LÁ


Ilustrando o ‘NYT’, a sombra de Rupert Murdoch


O ‘New York Times’ e o próprio ‘WSJ’ noticiaram ontem que Rupert Murdoch estaria ‘perto de acordo’ para comprar o ‘WSJ’. Após um conflito sobre as salvaguardas editoriais exigidas pelos atuais controladores, que levou até à ameaça de retirada da proposta de compra, as conversas ganharam ritmo ‘intenso’.


O império de mídia do magnata, também ontem no ‘NYT’, foi alvo de um longo e nada simpático perfil, sob o título ‘Murdoch estende a mão ainda mais’, ele que detém Fox, Sky, Myspace e publicações de EUA, Europa e outros.


GOL CONTRA


De um lado, o ‘Financial Times’ ressaltou que Hugo Chávez ‘marcou gol contra às vésperas da Copa América’, ele que quer ‘a atenção do mundo focada no torneio’, mas enfrenta a sombra de atos contra censura da RCTV.


De outro, Bob Fernandes, em blog sobre a Copa no Terra Magazine, destacou as cenas de militarização que vêm marcando o venezuelano.


SEM SÓTÃO


De Tutty Vasques a Sergio Bermudes e Ricardo Kotscho, os blogueiros vêm postando despedidas no site Nomínimo -que segue no ar só até o fim de semana, cinco anos depois de estrear em ‘plataforma provisória instalada no sótão da minha casa’. Foi o que escreveu Vasques, antes de relacionar todas as redações que ‘enterrou’ e proclamar:


– Não esqueçam de mim!’


INTERNET & LITERATURA
Cecilia Giannetti


Considere este post


‘APESAR DE o brasileiro médio só ler 1,8 livro ao ano e de, em 2006, termos sido chamados pela revista britânica ‘The Economist’ -finalmente, o reconhecimento internacional- de ‘nação de não-leitores’, as festas literárias multiplicam-se com sucesso pelo país.


No rastro da Flip, que acontece em julho, em Paraty, surgiram eventos como o Off-Flip (também em Paraty, no mesmo período de julho), Flap! (entre 29 de junho e 1º de julho, em São Paulo), Flop (Ouro Preto, Minas Gerais, novembro) e Fliporto (Porto de Galinhas, Pernambuco, setembro), entre outros.


Se eu pudesse iria a todos, é sempre divertido -os bastidores costumam ser uma versão mais aloprada da WordFest de ‘Garotos Incríveis’, do Michael Chabon.


Mas fugiria pra tomar ar fresco (também conhecido como chope) durante qualquer debate em torno do tema literatura on-line, literatura de internet ou literatura de blog. Apesar de tal coisa não existir, o assunto é recorrente.


Existem blogs literários; existem sites jornalísticos dedicados à literatura; listas de discussão e fóruns on-line em que os usuários trocam opiniões sobre seus textos de ficção em críticas informais.


Há ainda iniciativas como a da editora inglesa Penguin Books, que lançou o blog A Million Penguins, no qual cada usuário cadastrado podia escrever um capítulo ou pedaço dele, e também reescrever partes desenvolvidas por outros usuários, resultando numa história totalmente criada pelos internautas.


Mas não existe uma ‘linguagem de literatura de internet’. Pode existir, por exemplo, uma história que se desenvolve por meio de trocas de e-mails.


Mas não passa de um romance epistolar ambientado no século 21. Ficções curtas em posts podem ser publicadas em papel, permanecendo como ficções curtas, sem qualquer prejuízo em relação ao original. E continuará não existindo a tal da literatura de blog.


Por enquanto, o que existe é a internet como caminho para o escritor chegar ao leitor, às vezes antes que possa publicar em papel.


Há dez anos, um autor jovem, desconhecido, não tinha meia dúzia de leitores fora de seu círculo de amizades.


Hoje, se o que produz on-line é interessante, em pouco tempo seu blog ganha pencas de leitores. Ou ao menos mais do que meia dúzia deles.


E tudo isso antes que tenha um livro lançado. Por outro lado, a web não encurta o caminho até a publicação -a maioria dos editores não tem o hábito de fuçar blogs literários em busca de autores novos.


Não existe a literatura on-line como gênero.


Não existirá até que surjam histórias na web impossíveis de serem contadas no suporte livro -sob o risco de, impressas, virarem outra coisa que não é absolutamente o que se propunham ser na internet.


Aí, caso se reconheça e popularize essa ocorrência extraordinária de literatura intransponível para o papel, valerá debater o surgimento de um novo nicho.’


CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA
Folha de S. Paulo


STF arquiva ação contra indicação de horários na TV


‘O Supremo Tribunal Federal decidiu ontem arquivar uma ação direta de inconstitucionalidade proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil contra uma portaria do Ministério da Justiça que indicava horários adequados para programas de TV. A decisão foi tomada com o voto da presidente do STF, Ellen Gracie. Em fevereiro, o julgamento havia sido interrompido com a alegação de que esse tipo de ação não pode contestar portaria. A OAB recorreu.’


CENSURA NA BAHIA
Folha de S. Paulo


Recolhimento de revista na BA é suspenso


‘O desembargador José Olegário Monção Caldas, do Tribunal de Justiça da Bahia, suspendeu ontem decisão da juíza Sílvia Lúcia Bonifácio Andrade (2ª Vara Cível de Salvador), que havia determinado, na semana passada, o recolhimento dos exemplares da revista ‘Metrópole’ e proibido a rádio Metrópole FM, emissora responsável pela publicação, de fazer qualquer referência ao prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro.’


VENEZUELA
Rodrigo Rötzsch


Argentina deixa sessão e impede votação sobre RCTV no Mercosul


‘A retirada antecipada da delegação argentina impediu que o Parlamento do Mercosul votasse ontem, durante sua terceira sessão, em Montevidéu, um requerimento para criar uma comissão que avaliaria o estado da liberdade de imprensa e expressão na Venezuela.


Embora fosse esperado que a delegação brasileira abordasse o tema da não-renovação da concessão à rede de TV venezuelana RCTV e os ataques do presidente Hugo Chávez ao Senado brasileiro -ao qual chamou de ‘papagaio’ dos EUA-, quem o fez foi o oposicionista uruguaio Pablo Iturralde.


‘A livre expressão não é para um canal de TV, é para o povo. Existe uma série de temas que impõem que se crie uma comissão que investigue a situação do Estado democrático de Direito na Venezuela’, disse Iturralde.


A proposta foi feita por volta das 17h30. Antes, foram debatidos outros temas, como o regimento interno, que não pôde ser aprovado porque não havia quórum, já que só 3 dos 18 membros da delegação paraguaia estiveram presentes.


‘A vontade de integração da Venezuela não está em questão, está demonstrada na cooperação energética e financeira. Menos ainda está em questão o caráter democrático do governo do presidente Chávez’, rebateu o venezuelano Alfredo Murga. A Venezuela participa do Parlamento do Mercosul com uma delegação sem direito a voto, já que o processo de adesão do país ao bloco ainda não foi concluído.


Murga defendeu o fim da concessão à RCTV, que saiu do ar no último dia 27. ‘A não-renovação da concessão foi uma medida não só legítima como legal’, afirmou. A delegação venezuelana distribuiu um DVD, chamado ‘Digam a verdade’, no qual sustenta que a licença não foi renovada porque a programação da RCTV -que apoiou o golpe contra Chávez em 2002- é ofensiva à moral e aos bons costumes, e não por questões políticas.


Enquanto Murga falava, a delegação argentina deixou o Parlamento, embora a sessão estivesse inicialmente marcada para continuar hoje. Os argentinos alegaram que o cancelamento do vôo que os levaria a Buenos Aires, às 21h, obrigou que saíssem mais cedo para pegar o vôo das 19h30.


A saída dos argentinos fez com que o presidente do Parlamento, o uruguaio Roberto Conde, encerrasse a sessão sem que a proposta de Iturralde fosse avaliada. O deputado questionou a decisão, já que o protocolo constitutivo do Parlamento diz que a sessão não pode ser iniciada sem que haja membros de todos os países, mas não que ela tem que ser encerrada caso isso ocorra.


A delegação brasileira, ao contrário do esperado, não se manifestou sobre o tema. Quem chegou mais perto foi o senador Pedro Simon (PMDB-RS). ‘Nós temos que superar pequenos desentendimentos. O presidente de uma república amiga não foi feliz ao se referir ao Senado do Brasil’, disse.


A questão da RCTV agora deve ser debatida pelo Parlamento do Mercosul na sua próxima sessão, que ocorre em 30 de julho, também em Montevidéu.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


MTV aposta em HDTV para descolar da web


‘A MTV Brasil é a mais nova entusiasta da TV de alta definição (HDTV). A emissora, que já chegou a anunciar que iria optar pelo modelo de TV digital de multiprogramação, aposta agora suas fichas na HDTV.


‘Para a televisão, a alta definição vai ser um respiro. E vai se propagar rapidamente’, diz José Wilson Fonseca, 42, superintendente da MTV Brasil.


Com a TV digital, que estréia em São Paulo em dezembro, as redes podem optar por ocupar suas freqüências com um sinal robusto, de qualidade superior à dos DVDs (a HDTV), ou com multiprogramação (transmitir pelo menos quatro canais).


A MTV ainda não ‘descarta absolutamente’ a multiprogramação, mas ao menos inicialmente irá de HDTV. Dirigida ao público jovem, é a TV que mais sofre a concorrência de novas mídias, como o site YouTube, grande arquivo de videoclipes.


‘Estamos empolgados com a alta definição. Ela nos permitirá descolar da internet. As pessoas vão continuar na internet e na MTV, mas a gente vai ter uma qualidade de imagem muito melhor’, diz Fonseca.


A MTV se prepara para, em dezembro, colocar no ar uma faixa de programação em alta definição. Está comprando shows internacionais em HDTV e pretende gravar uma série de nacionais em um estúdio que acaba de equipar. E conversa com gravadoras, que produzem videoclipes, para captarem na nova tecnologia.


MUUUUUUUA Record tentou tirar da Globo os direitos da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, mas é a Band quem levará. A emissora e os organizadores do evento devem assinar contrato hoje. Além de uma boa cobertura jornalística, a Band promete a exibição de shows e de rodeios.


BÉÉÉÉÉÉÉA Record afirma que não fechou com Barretos porque deu prioridade aos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Barretos não renovou com a Globo porque a emissora só garante cobertura jornalística.


NÃO É ELECo-autor de ‘Paraíso Tropical’, Ricardo Linhares diz que Antenor (Tony Ramos) não será assassinado na novela, gerando um ‘quem matou?’. Mas haverá, sim, um assassinato.


RARIDADESem o quadro ‘Dança dos Famosos’, o ‘Domingão do Faustão’ perdeu para o ‘Domingo Legal’ durante 44 minutos anteontem. Fazia muito tempo que Gugu Liberato não sabia o que era ser líder no Ibope.


NOVAS TENDÊNCIAS 1A Sky apresentará hoje uma pesquisa da Ipsos sobre os hábitos dos assinantes que já possuem gravadores digitais (DVRs). O recurso mais utilizado pelos brasileiros é o que permite a gravação de um programa enquanto se assiste a outro.


NOVAS TENDÊNCIAS 2Depois vêm a gravação previamente programada, o uso do ‘pause’ para interromper um programa ao vivo e vê-lo depois e a gravação do que se está assistindo. Por fim, usa-se o DVR para ‘pular’ comerciais.’


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