Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Protesto contra censura a suplemento chinês

O suplemento semanal ‘Bing Dian’, do jornal China Youth Daily, suspenso há pouco mais de um mês pelo governo, voltará a ser publicado em março, informa Audra Ang [AP, 16/2/06]. Li Datong e Lu Yuegang, dois dos principais editores do jornal, entretanto, foram demitidos. O ataque ao jornal e aos editores ocorreu especialmente devido a um artigo escrito pelo historiador Yuan Weishi, que acusou os livros escolares chineses de acobertarem a brutalidade da Rebelião Boxer, movimento violento contra estrangeiros na China ocorrido no início do século 20. A proibição do suplemento faz parte do esforço de Pequim para aumentar o controle sobre a mídia local.

Um funcionário do Escritório do Conselho Estadual da Informação, divisão de relações públicas do governo, afirmou que os protestos públicos contra o artigo de Weishi justificaram a ‘reorganização’ do suplemento. O funcionário informou à agência de notícias Reuters que o artigo era historicamente impreciso e ‘feriu severamente os sentimentos nacionais contra o povo chinês, criando conseqüências sociais mal-intencionadas’.

Carta de protesto

Um grupo de acadêmicos e advogados que contribuíam com artigos para o jornal enviaram uma carta aberta ao presidente Hu Jintao, argumentando que a censura contra o suplemento constituía uma violação à constituição chinesa e à promessa feita por líderes do alto escalão para um consistente respeito à lei. ‘Há alguns entre nós que não concordam totalmente com o ponto de vista exposto no artigo, mas nós acreditamos que devemos proteger o direito de publicá-lo, porque isto não viola a constituição ou a lei. O princípio básico de liberdade de expressão inclui o direito de expressar ‘pontos de vista incorretos’’, dizia o texto.

Na sexta-feira (17/2), os editores demitidos divulgaram uma carta pública pedindo por maior liberdade de expressão, como noticia Jim Yardley [The New York Times, 18/2/06]. Na carta, Datong e Yuegang afirmaram que é função da mídia investigar ‘a injustiça no mundo’. ‘O que as pessoas querem? A liberdade para a publicação e para a expressão garantida pela lei’, alegaram. ‘O jornal administrado com dinheiro de contribuintes é forçado a publicar o lixo da propaganda do governo. Isto é crime e abuso de poder’.

A imprensa chinesa tem sofrido com a administração do presidente Hu Jintao. Dezenas de jornais foram proibidos de funcionar, editores foram demitidos por ordem do governo e jornalistas foram presos em uma campanha para aumentar o controle sobre o fluxo de informações ao público e punir aqueles que forçam os limites da tolerância oficial. Os alvos da censura incluem jornais conhecidos por cobrir aberta e agressivamente denúncias de corrupção, problemas ambientais e pobreza rural.