Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Ricardo Kotscho

‘Notícias renovadas a cada instante nos sites das agências on-line, rádios que só tocam notícia, telejornais noturnos em profusão, canais de TV com jornalismo 24 horas, blogs, informações até pelo celular.

Neste bombardeio de informações a que somos submetidos hoje, o que resta aos nossos velhos jornalões para nos contar de novidade no café da manhã?

A sensação mais comum que os leitores de jornais têm hoje em dia é a de já terem lido ou ouvido aquela notícia, a começar pela manchete, em algum lugar. Que sentido tem o jornal trazer em manchete a informação de que o Papa morreu ou o ministro sicrano caiu, se todo mundo já estava careca de saber disso desde a hora em que o fato aconteceu?

Fica um gosto de pão amanhecido. Além de raramente trazerem fatos novos ou acrescentarem informações àquelas que os leitores já receberam por outros meios, os jornais estão cada vez mais parecidos entre si.

Nem mesmo as colunas, que proliferaram nos últimos anos em toda a nossa imprensa, numa tentativa de diferenciação, escapam de tratar dos mesmos assuntos, com vários autores, em diferentes páginas ou até na mesma.

Faltam diferenciais e a conseqüência disso é a mesmice, até mesmo na apresentação gráfica dos jornais. Isso pode explicar em parte a crise financeira vivida pela imprensa de papel na última década, agravada pela queda na circulação dos jornais, um fenômeno mundial, sem falar nas dívidas contraídas em dólar, quando o país vivia os áureos tempos da fantasia cambial, e todo mundo entrou na corrida para investir em novas mídias eletrônicas.

Para se ter uma idéia do desafio à frente, nosso matutino de maior circulação hoje, a ‘Folha de S. Paulo’, tem uma tiragem média de 313 mil exemplares diários num país de mais de 180 milhões de habitantes.

Qual é a saída? Em busca de respostas para estas e outras questões, na estréia da série ‘Protagonistas da imprensa brasileira’, três jornalistas do site ‘Jornalistas & Cia.’, dirigido por Eduardo Ribeiro, foram ouvir o diretor de redação da ‘Folha’, Otávio Frias Filho, um refinado intelectual de 48 anos, que começou no jornalismo aos 17 e há vinte está no comando editorial do jornal.

Numa longa entrevista, fala de todos os temas levantados acima e anuncia para breve uma nova reforma gráfica da ‘Folha’. Principal mentor do ‘Projeto Folha’ e do ‘Manual de Redação’, que exerceram forte influência em toda a imprensa brasileira a partir dos anos 80, Frias Filho está convencido de que chegou a hora de dar uma nova guinada.

‘Estamos interessados em valorizar o espaço de interpretação, de opinião e de análise. Há um certo consenso de que o jornalismo de qualidade deve cada vez mais reforçar esses aspectos, buscando o aprofundamento da notícia, o contexto interpretativo. E em relação à notícia, ao hard news, que continua e continuará sendo a espinha dorsal do jornal, pretendemos encontrar formatos gráficos que permitam explorar cada vez mais histórias próprias, exclusivas, deixando num plano mais secundário as notícias mais comuns compartilhadas por todos os veículos e que também já saíram na televisão e na Internet’, diz ele, fazendo um resumo das razões da reforma.

Trata-se, na verdade, mais do que de uma simples reforma gráfica, de uma reforma editorial de que carecem hoje todos os nossos principais jornais, envelhecidos tanto na forma como no conteúdo. Não concordo com os colegas apocalípticos que prevêem o fim da imprensa de papel, ameaçada de ser engolida pela Internet e demais meios eletrônicos.

Assim como o cinema não acabou com o teatro, e a televisão não acabou com o cinema, os jornais e revistas sempre terão seu espaço, com maior ou menor circulação, dependendo da sua capacidade de se adaptar aos novos tempos e definir qual o seu novo papel nesta história, que certamente não é o de derrubar nem defender governos.

Frias Filho aponta alguns caminhos. A meu ver, porém, deixou de lado um instrumento fundamental para se alcançar a sonhada diferenciação: a boa e velha reportagem, palavra que não me lembro de ter visto em sua entrevista. Produto cada vez mais raro na nossa imprensa de papel, a reportagem foi ganhando espaço na televisão, que capturou alguns dos seus melhores profissionais exatamente nas redações da imprensa escrita.

Um bom exemplo do que estou querendo dizer é a edição especial da revista ‘Almanaque do Fantástico’, que está nas bancas, com uma batelada de reportagens exclusivas, que vão muito além daquilo que já foi mostrado pela televisão, por não caberem na minutagem exígua deste veículo para cada assunto. É a melhor revista de reportagem lançada no Brasil desde o falecimento da fantástica ‘Realidade’.

Não falo isso em causa própria, já que dediquei a maior parte dos meus mais de quarenta anos de profissão a este ramo do jornalismo, e não pretendo voltar a trabalhar numa redação.

Falo mesmo como leitor viciado na leitura de jornais e revistas, que gostaria de ser surpreendido por uma história original, bem contada, mostrando lugares ou personagens novos, que fujam ao noticiário do dia a dia. Nem precisava ser todo dia, já que sei como dá trabalho fazer uma reportagem em profundidade. Se fosse ao menos uma vez por semana, já seria muito bom.

Penso que, por aí, tanto quanto no investimento em matérias mais interpretativas, notícias exclusivas e uma boa reforma na fachada, os jornais vão conseguir não só oferecer algo a mais do que as notícias dos meios eletrônicos, como encontrarão o caminho para mostrar que não são produtos de um pensamento único, criados por um mesmo editor e escritos por um onipresente redator itinerante, autor de todos os textos de todos os veículos impressos todos os dias.

Sei que isso não depende só da vontade dos donos de jornal, mas de um clima favorável à criatividade e à ousadia que deveria ser alimentado por todos os profissionais de uma redação, especialmente os mais jovens, que hoje me parecem conformados em repetir fórmulas já gastas sem brigar pelo seu espaço.

***

Fui testemunha de um episódio há muitos anos que me marcou profundamente por mostrar como a iniciativa de um repórter em campo é muitas vezes mais vital para o êxito de um veículo do que todos os projetos e manuais criados nas redações.

Em 1993, logo no começo da primeira Caravana da Cidadania comandada pelo hoje presidente Lula, nosso ônibus foi parado numa cidade próxima a Garanhuns, em Pernambuco, de onde partimos, por dezenas de manifestantes que fecharam a estrada com latas d’água vazias para conversar com o então candidato.

Estávamos em Iati. Lula desceu do ônibus para conversar com os moradores que se queixavam daquilo de sempre nos sertões nordestinos: fome, miséria, falta de trabalho, falta d’água. Os repórteres, mais de vinte, que acompanhavam a caravana também desceram, mas só queriam saber o que o candidato tinha a dizer sobre um ataque feito na véspera por um dos seus concorrentes na eleição de 1994, o ex-governador Leonel Brizola.

O drama daquela gente só interessou a um dos repórteres, justamente o mais antigo deles, um certo Zuenir Ventura, que trabalhava no ‘Jornal do Brasil’.

Zuenir abandonou o candidato, deixou a caravana seguir em frente e foi atrás da história dos sertanejos. Em algum momento, em alguma cidade do caminho, ele nos reencontrou, feliz da vida, como um principiante, com a reportagem que acabara de fazer – sozinho.

***

Esta história do Zuenir fez-me lembrar que, ainda recentemente, Gabriel Garcia Marquez criou um centro de estudos de jornalismo em Cartagena das Índias, na sua Colômbia, para onde levou vários tipos como Zuenir para transmitir seus conhecimentos a jovens jornalistas.

Quem sabe não esteja aí outro caminho a ser trilhado para que nossos vetustos jornalões descubram qual o novo papel que lhes cabe neste mundo eletronicamente globalizado. O veteraníssimo e consagrado Garcia Marquez poderia até dar algumas dicas. Uma coisa é certa: o jornalismo nunca vai acabar, mesmo que os jornais um dia morram todos.

Seja qual for a plataforma da informação, como se diz, todos nós sempre precisaremos de alguém para nos contar e explicar o que está acontecendo – de preferência, algo que ainda não sabemos.’



DIREITOS AUTORAIS
Pedro Alexandre Sanches

‘Cultura Livre Em Guerra’, copyright Carta Capital, 15/11/05

‘Um advogado entrou em disputa judicial com Mickey Mouse. A estratégia de defesa de Mickey contou com o lobby de um congressista e ex-cantor chamado Sonny Bono, que nos anos 60 integrara a dupla de pop chiclete Sonny & Cher. O camundongo derrotou o advogado Lawrence Lessig na Suprema Corte dos EUA. Parece argumento debilóide de Hollywood, mas é a mais crua ‘vida real’.

A história não só não é ficção como rendeu um livro que, ele próprio, também parece (mas não é) uma peça de ficção. Cultura Livre, escrito de punho próprio por Lessig e lançado em 2004, acaba de ganhar uma edição brasileira, que só pode ser adquirida de uma maneira: gratuitamente.

O pó de pirlimpimpim capaz de dar liga a todas essas peças aparentemente inverossímeis é a causa a que Lessig se empenha desde 1997: a luta pela distensão da legislação vigente de direitos autorais (os copyrights, no linguajar em inglês com que são conhecidos e protegidos em todo o planeta). Para o autor, tal legislação caducou e se tornou cerceadora voraz de liberdade de expressão e criação artística neste mundo pós-internet, download, MP3, blog, fotolog etc.

Foi essa a causa do confronto aberto entre o homem e o simpático e quase heróico rato gerado em 1928 pela imaginação de Walt Disney. Obedecendo à legislação de proteção de copyright, em 1998, ao completar 70 anos de idade, Mickey adquiriria maioridade e ficaria independente de papai Disney. Cairia em domínio público e passaria a ser livremente manipulável não só pelo conglomerado que seu criador deixou como herança, mas por qualquer um, com qualquer finalidade, comercial ou não.

A Disney se apavorou com a idéia de perder a varinha de condão de lucro que as orelhas redondas do camundongo propiciavam por quase quatro gerações. Lessig não conseguiu barrar a aprovação do Ato Sonny Bono no Congresso, que estendeu por mais 20 anos, até 2018, a escravidão de Mickey (e de toda e qualquer obra criativa de faixa etária semelhante). O político Bono morrera pouco antes, e virou nome de lei porque, segundo teria afirmado sua viúva, acreditava que o copyright deveria ser eterno.

Segundo defende Lessig em Cultura Livre, não foi a convicção dos congressistas, mas sim um forte lobby econômico que deu vitória à perpetuação da proteção. Em 1790, a primeira lei de copyright estipulou que as criações seriam protegidas por 14 anos; de 1962 para cá, sob pressão de uma indústria cultural em brutal ascensão, houve 11 prorrogações consecutivas, rumo, talvez, à eternidade sonhada por Sonny.

De acordo com Lessig, dez dos 13 congressistas empenhados na aprovação do Ato Sonny Bono teriam sido irrigados pela Disney com o máximo de contribuição eleitoral permitida por lei. O conglomerado formado pelas maiores produtoras de cinema e gravadoras de discos dos EUA teria gastado US$ 1,5 milhão em lobby eleitoral em 1998, US$ 200 mil dos quais teriam ido diretamente para contribuições de campanha. ‘Estima-se que a Disney tenha contribuído com mais de US$ 800 mil para campanhas de reeleição na época’, escreve.

O livro esmiúça esse e outros embates entre aqueles que apelida de ‘guerreiros’ e ‘extremistas’ do copyright e o seu próprio grupo, tachado pelos opositores como ‘esquerdista’ e, idem, ‘extremista’. Defende a idéia avessa, do copyleft e dos chamados Creative Commons, contracorrente que defende, em vez do lema de ‘todos os direitos reservados’, um outro mais tolerante e maleável, de ‘alguns direitos reservados’.

No percurso, aborda uma série saborosa de exemplos e estudos de caso, demonstrando que os que hoje mais se debatem contra a pirataria on-line fundaram seus próprios impérios na prática da… pirataria.

Relembra, por exemplo, que Mickey Mouse veio ao mundo no desenho animado Steamboat Willie, uma paródia do filme Steamboat Bill, Jr., do comediante Buster Keaton, que por sua vez se referia à música Steamboat Bill. Acrescenta que grande parte da obra cinematográfica de Disney (Branca de Neve, Pinóquio, Cinderela…) era apropriação criativa, sem copyright, de contos de fadas de Irmãos Grimm e anexos.

‘A indústria cinematográfica de Hollywood foi construída por piratas em fuga’, provoca, descrevendo a migração de criadores para a Califórnia, no início do século XX, para escapar ao controle de patentes.

Lessig insiste em repetir que não, não é portador de idéias subversivas ou radicais. A necessidade, argumenta, é de que se revise uma legislação pública que, desde o advento da internet, vem abocanhando nacos polpudos antes pertencentes à vida privada dos cidadãos. Coibir com processos milionários adolescentes que fazem troca virtual caseira e não comercial de música seria, para ele, um modo de travestir de suposto interesse público a defesa oligopolista de interesses comerciais privados.

Ao longo do livro, o autor oferece alternativas em abundância para um modelo de coexistência entre os dois pólos, em que objetivos privados não continuassem a agir como bloqueadores de cultura e controladores de criatividade.

Por impalpáveis que possam parecer, tais alternativas já são testadas na vida prática, como no caso dos criadores que optam pela licença do Creative Commons (www.creativecommons.org), pela idéia de ‘generosidade intelectual’ em oposição à de ‘proteção intelectual’.

O Brasil seria um foco privilegiado de disseminação dessas experiências, segundo expõe no prefácio à edição local o advogado e professor da Fundação Getúlio Vargas Ronaldo Lemos, que coordena o projeto Creative Commons no País.

Por sinal, Lessig cita nominalmente o Ministério da Cultura de Gilberto Gil, um dos que endossaram em termos artísticos e políticos a ideologia de Creative Commons. O diretor de políticas digitais do MinC, Cláudio Prado, refaz o nexo a CartaCapital: ‘Gil é o único ministro de Estado a dizer que o copyright não serve para o século XXI e que a distribuição digital requer uma regulação totalmente nova’.

O prefácio de Lemos fala, por exemplo, do Portal Domínio Público (www. dominiopublico.gov.br), mantido pelo Ministério da Educação, em que podem ser baixadas e impressas livremente cópias de obras em domínio público, da popular literatura de Machado de Assis a textos raros do dramaturgo Qorpo Santo. Ícone dramático da literatura brasileira, a Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, foi das primeiras obras a receber alforria no ciberespaço verde-amarelo.

Outro caso citado é o do município pernambucano de Olinda, que aderiu em bloco aos Creative Commons e prepara projeto de documentação virtual de conteúdo livre de carnaval, música pop, teatro, patrimônio histórico etc., a ser usado livremente, em escala global.

Em entrevista, Lemos menciona um ponto de perigo, contrabalançando com a celebração do diretor do MinC: ‘A posição do Brasil é preocupante. O País sofre pressões dos mais diversos agentes para que sua legislação se torne cada vez mais parecida com a dos EUA. As mudanças que a indústria norte-americana tenta impor aos demais países são totalmente injustificáveis do ponto de vista econômico e social. Nesse sentido, sou bastante pessimista, pois essas pressões são muito fortes’.

Além de pessimista, Lemos também é a ponte que nos reconduz ao aparente enredo de ficção dos parágrafos iniciais. Foi ele o intermediário que levou a obra de Lessig à gravadora independente Trama e à editora Francis, que acabaram executando a prensagem em português de Cultura Livre. O livro foi traduzido dentro do sistema Creative Commons (e de uma quantidade exagerada de erros de gramática, revisão e afins), sem qualquer custo imposto aos editores, desde que não seja distribuído com fins comerciais.

O projeto Trama Universitário bancou e reservou 250 cópias gratuitas do livro para presentear cada um dos participantes do II Encontro Nacional de Mídia Universitária, em setembro. Um segundo lote será enviado, também gratuitamente, a mil bibliotecas e universidades Brasil afora. ‘Convivemos com dois mundos, temos uma gravadora e uma editora tradicional, mas ao mesmo tempo queremos os novos caminhos, que já estão bastante infiltrados na sociedade’, justifica André Szajman, um dos co-presidentes da Trama.

De quebra, afirma que, antes do fim do ano, Cultura Livre deverá estar disponível em www.tramauniversitario.com.br, para leitura e impressão gratuita (e não comercial). Por ora, o livro mantém-se fora das livrarias tradicionais, que não costumam veicular esse modelo gratuito de literatura de não-ficção.’



COMUNICAÇÃO CORPORATIVA
Paulo Nassar

‘A Comunicação do Papel’, copyright Revista Imprensa, novembro de 2005

‘O comunicador vive cercado de papel: livros, jornais, revistas, textos, elementos que cotidianamente comprovam que o papel é crucial em nossas vidas. Lembrei-me agora de um poeta catarinense que dizia se fundir ao papel e numa performance, nos idos dos anos 1970, raspava, com certa violência, folhas de papel sulfite na pele. Poucas horas depois, avermelhado pela esfregação, foi internado em um retiro espiritual perto de Curitiba. Fico imaginando, hoje, o bardo do Sul dedilhando um texto em uma tela eletrônica que é uma metáfora do papel. Entrando nessa reflexão, penso que eu não gostaria de viver em um mundo sem revistas, jornais e livros tradicionais, impressos em papel. Acho que em meio a outras desgraças como os tsunamis, secas e tufões eu, faminto de manchetes e do cheiro de tinta de gráfica, choraria, junto com as últimas traças, ao ler o anúncio do fim do mundo de papel.

O papel é um dos elementos que constituem o mundo, junto com a água, o fogo, o ar e a terra. Imagine a civilização atual, com as suas organizações complexas, como as universidades e seus saberes sem bibliotecas abarrotadas de livros e papéis. Ou como lembra o escritor Ricardo Azevedo, em seu magistral ‘O livro de Papel’, direcionado para crianças, a dureza que seria um mundo sem o papel de bala, aviãozinho de papel, barco de papel, guardanapo, figurinha, partitura e fotocópia. Lembro-me de outros milhões de usos desse companheiro silencioso: bandeirinhas juninas, papel picado em dia de festa, o escatológico papel higiênico e o moderno post-it. O papel é mais do que um produto. É uma instituição, inventada lá pelo século II, pelos chineses, e hoje, no Brasil, produzido por mega empresas como a Suzano, Klabin, Aracruz, Votorantin e Melhoramentos.

Estimulado pelo ensaio sobre a Klabin, feito pelo Wilberto Lima Junior, seu diretor de Comunicação, no livro recém lançado – ‘Comunicação Empresarial: Estratégia de Organizações Vencedoras’ – faço um rápido passeio pelos sítios de Internet das principais companhias do setor. Vejo que elas processam a celulose e depois o papel, a partir da madeira de milhões de troncos de pínus e eucalipto, árvores especialmente plantadas, em milhares de hectares de mais de uma dezena de Estados brasileiros. As suas retóricas também não deixam de apresentar suas condecorações, representadas por certificações que procuram atestar o equilíbrio de suas operações, geralmente ao lado de rios importantes como o Tibagi (Paraná), Paranapanema (São Paulo) e Guaíba (Rio Grande do Sul), e florestas nativas, refúgios, por exemplo, de onças pintadas. Mais do que siglas técnicas, os certificados internacionais ISO (International Organization for Standardization), OHSA (Occupational Health and Safety Act ) e FSC (Forest Stewardship Council) – conquistados por essas empresas de um setor que no passado vivia em guerra com as comunidades no entorno de suas fábricas, por questões ligadas à poluição da água, do ar e do solo – mostram que elas se esforçam em fazer uma importante lição de casa: produzir de forma sustentável, gerar milhares de empregos, impostos e divisas para o país. De olho nessas empresas estão acionistas, investidores, comunidades, autoridades ambientais, governo, organizações não-governamentais, clientes, entre outros, que querem que o nosso papel de cada dia seja produzido por empresas limpas e transparentes em todos os sentidos.’



JORNALISMO ECONÔMICO
Eleno Mendonça

‘O que o povo pensa disso?’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 11/11/05

‘Antes de assinar qualquer acordo, tratado ou carta de intenção, não seria melhor aos governantes perguntar se o povo quer ou não a Alca? Há anos escrevemos sobre esse acordo, todo mundo vai direto ao assunto como se todos soubessem do que se trata. Pois uma pesquisa simples, e ela já foi feita aqui e acolá, mostrará que a maioria sequer sabe o que significa a sigla. Nós, brasileiros, que acabamos de sair de um referendo, gostaríamos de democraticamente opinar sobre essas questões tão relevantes. Até porque, esses acordos podem representar uma mudança radical na vida de todos e os governos, bem, os governos passam.

Além de tudo, não chegaria a ser novidade. Chamadas a opinar sobre a entrada ou não em blocos econômicos desse tipo, várias nações da Europa, em relação à Comunidade Econômica Européia, disseram não. A decisão em relação à entrada ou não num acordo como a Alca deve vir depois de se mostrar claramente o que é a Alca, o que ela pretende, o que haverá ou não de benefício e/ou sacrifício. É bom lembrar que toda vez que há uma associação dessas, certos parâmetros são impostos, como limites de inflação, de déficit público, de carga tributária, de alíquota de importação, de desemprego. No caso da Europa, esses índices muitas vezes já existem, noutros casos representam pesados sacrifícios.

Mas ao contrário do que possa parecer, sou favorável a esses acordos, só acho que seus prós e contras devem ser discutidos à exaustão, como foi feito na questão do desarmamento. Pessoalmente acompanhei todo o processo de formação do Mercosul e, a despeito da crítica frequente de que atropelou-se todas essas etapas e que o bloco a rigor resiste apenas graças a Brasil e Argentina, tenho comigo que quando se faz esse associações econômicas desse tipo deve-se ter em mente que nem todos têm o mesmo tamanho, que há diferenças sociais, culturais e regionais que devem ser preservadas. Por isso é importante se perguntar antes ao povo, do contrário, haverá sempre a suspeita de que a intenção não foi das melhores.

Há também a questão da liderança. Fica claro que numa associação com os Estados Unidos haverá sempre o interesse dos americanos em impor suas condições. Ainda assim defendo que se sente e se converse. É óbvio que eles têm interesse mas é óbvio também que sem parceiros não há acordo possível. Desta forma, cabe tirar proveito disso.

Mesmo que dessas cúpulas não saia nenhum acordo formal, acho bem importante, pois toda vez que há encontros dessa magnitude o mundo volta os olhos para discussões sobre mão-de-obra escrava, desemprego, fome e para a realidade econômica de todos os países envolvidos. Ou seja, estabelece-se uma discussão e se coloca foco sobre problemas regionais que muitas vezes não são objeto de debate. Mesmo debaixo de protesto, o que é democraticamente perfeito, essas reuniões são positivas pelas discussões, pelos acordos bilaterais que permitem, pelo diálogo entre líderes importantes que proporcionam.

De tudo isso, a única que não entendo são os quebra-quebras. Não vejo como incendiar uma rede de bancos ou de lanchonetes de origem americana pode contribuir no processo ou demonstrar desagrado. Descontentamento se demonstra em manifestações, ainda que puxadas por líderes pouco afeitos à democracia e à liberdade de imprensa como o presidente da Venezuela Hugo Chavez.’