Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Rove e as mudanças de discurso

Uma conversa entre Robert Luskin, advogado do estrategista político da Casa Branca Karl Rove, e a jornalista da revista Time Viveca Novak levou Rove a mudar seu testemunho no ano passado diante do grande júri no caso do vazamento da identidade da agente da CIA Valerie Plame, como informam Richard W. Stevenson e Douglas Jehl [The New York Times, 02/12/05].


Pessoas envolvidas no caso teriam afirmado que Viveca contou a Luskin, em 2004, que seu colega de trabalho Matthew Cooper havia entrevistado Rove sobre Valerie. A revista informou esta semana que Patrick Fitzgerald, promotor responsável pela investigação, intimou Viveca a dar um depoimento sobre esta conversa. Pessoas com conhecimento sobre o conteúdo do diálogo sugerem que Fitzgerald ainda está tentando determinar se Rove estava colaborando inteiramente com os investigadores e se ele alterou seu testemunho diante do grande júri sobre sua relação com repórteres depois de saber que um deles, Cooper, poderia identificá-lo como fonte.


Nenhum dos envolvidos no caso quis comentar a conversa. As pessoas que aceitaram falar do assunto pediram anonimato porque não estão autorizadas a divulgar detalhes publicamente. O envolvimento de Viveca é o exemplo mais recente das complexas relações entre jornalistas, advogados e funcionários do governo em Washington.


Lewis Libby, ex-chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney, foi, até agora, o único indiciado no caso. Advogados afirmam que Rove permanece em risco legal porque suas declarações iniciais para os investigadores e o grande júri não foram precisas. Em fevereiro de 2004 – meses antes da conversa de Viveca com Luskin –, Rove disse em testemunho que havia conversado sobre Valerie Plame com apenas um jornalista, Robert Novak, omitindo a informação de que também havia falado com Cooper. No entanto, depois de ter conversado com Viveca (que não é parente de Novak), Luskin pediu a Rove para que a Casa Branca fizesse uma busca de qualquer registro de uma conversa dele com Cooper na época em que a identidade de Valerie se tornou pública, em julho de 2003. Foi encontrado um e-mail de Rove para o então conselheiro de segurança nacional Stephen Hadley que contava a conversa entre ele e o repórter da Time.


Em outubro de 2004, Rove testemunhou novamente diante do grande júri para alterar seu depoimento anterior – desta vez, contou que havia também falado sobre Valerie com Cooper. Advogados de Rove alegam que, inicialmente, ele não havia recordado da conversa, e que uma vez que a mensagem de Hadley foi revelada, ele a levou para os promotores. O estrategista político teria dado permissão a repórteres para testemunharem sobre suas conversas confidenciais e teria revelado a conversa com Cooper antes de o jornalista ter testemunhado sobre ela.


Fitzgerald parece ainda estar avaliando se Rove revelou o e-mail e deu um novo testemunho apenas depois de ter ficado sabendo que Cooper poderia revelar a conversa que os dois tiveram. Não está claro o que Viveca falou a Luskin ou qual foi o contexto do diálogo. Cooper foi um dos primeiros jornalistas, depois da coluna de Novak, a escrever sobre Valerie Plame. Seu artigo dizia que alguns funcionários administrativos haviam contado à Time e ao colunista Novak que ‘Valerie Plame é uma agente da CIA que monitora a proliferação de armas de destruição de massa’ e revelava que ela era esposa do ex-diplomata – e crítico do governo Bush – Joseph Wilson.