Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Sobre protocolos e capoeira

A cobertura da visita do presidente dos Estados Unidos ao Brasil só alcançou um padrão próximo do da imprensa americana e européia na segunda-feira (21/3), depois de avaliados os discursos oficiais e o comportamento de Barack Obama e sua família na sua primeira viagem ao Brasil.


Os jornais brasileiros não apostaram o suficiente no fato de que Obama tenha mantido a agenda apesar do agravamento da crise no mundo árabe.


Embora as manchetes tenham refletido o esforço dos jornalistas para identificar alguma novidade concreta nos discursos, declarações e comportamento do visitante ilustre, a informação que ficará para a História é a de que Barack Obama decidiu autorizar os ataques ao exército de Muamar Kadafi durante sua viagem ao Brasil.


Ou seja, o Brasil foi um acidente geográfico no seu caminho.


Ginga e ritmo


O enredo mais importante desse trecho da História está acontecendo no Norte da África e no Oriente Médio, não no Brasil. A concessão de uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU, que está virando uma obsessão por aqui, não seria anunciada, sugerida ou analisada numa visita protocolar como a que foi feita por Obama.


Como destacaram alguns analistas no fim de semana, Obama veio reforçar os laços comerciais com o Brasil, marcar presença contra a crescente influência da China na região e afagar o ego nacional.


O esforço por detectar algum sinal de apoio à pretensão brasileira e as maquinações mentais para vislumbrar elementos estratégicos nas palavras do presidente americano são apenas parte do trabalho diário do jornalista, que precisa sempre convencer o leitor de que o mais relevante é aquilo que está publicado. Mas faltou, por exemplo, esclarecer os objetivos e o alcance dos nove acordos bilaterais assinados na parte oficial da visita.


A julgar pelas fotografias publicadas pelos jornais, a imagem do Brasil que mais parece ter impressionado Barack e Michele Obama foi a do menino fazendo acrobacias de capoeira numa demonstração que lhe prepararam na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro.


Mais uma vez, a ginga, o ritmo e a dança fazem a marca do país que quer ser visto como igual entre os grandes.