Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Tereza Rangel

Na Agência Brasil, autor de previsão sobre preço do pão é identificado

UOL Economia assume, sem senso crítico, declaração do secretário

Home page do UOL, sem senso crítico, mantém assunção de previsão

A Agência Brasil é fonte usada por quase todos os portais da Internet, onde, normalmente, há mais gente para editar do que para apurar. O uso é geral. Por mais que a agência do governo defenda a isenção, seu material visa a informar a população e a divulgar ações do governo. Assim, é preciso senso crítico para usar o material, ainda mais quando vai parar na home page de estações ou do portal.

No UOL, não é diferente. O uso de informações apuradas e distribuídas pela Agência Brasil é corrente. O portal tem adotado como regra deixar claro quando as informações são da Agência Brasil.

Nem sempre, porém, a regra é seguida. No começo da tarde desta quinta-feira, as home pages de Economia e a do próprio portal deram chamada para entrevista do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Bernard Appy. O texto não deixava claro (exceto para uma declaração de Appy) que se tratava de uma colcha de retalhos de textos da Agência Brasil, com parágrafos inteiros idênticos aos de textos distribuídos. Pior, os títulos ‘compravam’ a declaração do secretário, o que nem a Agência Brasil fez. ‘Pão – Medidas para conter o preço devem surtir efeito até a próxima semana’, era o enunciado na home page do UOL. Quem disse isso foi o Appy. Ao escrever o título sem dizer quem fez a afirmação, o UOL assumiu-a. Um erro. O texto, contendo apenas declarações oficiais, não ouvia quem, de fato, pode baixar o preço: supermercadistas e padarias.

O uso abusivo, não claro e sem complementações ou senso crítico de material produzido pela Agência Brasil dá, a alguns internautas, a sensação de que o portal faz assessoria de imprensa para o governo.

‘Estou escrevendo para reclamar do UOL. Sou assinante há muitos anos e nunca este portal esteve tão ruim… A impressão que tenho é a de que o governo comprou o UOL. As notícias parecem ser ditadas por uma assessoria do Planalto. Outro dia eu estava vendo o Telejornal da Rede Brasil e o texto era igualzinho, sem tirar nem pôr, às manchetes do UOL. Onde está o jornalismo independente? No mais, só tem bobagem, o labrador que adota leoazinhas feridas, Luana Piovani vai à praia, essas coisas… Está péssimo!!!’

Flávio

UOL fala

O editor de Economia, Armando Pereira Filho, escreveu sobre o assunto. Agradeço pela resposta.

‘Oi, Tereza:

O texto foi destacado por tratar de assunto relevante para o consumidor. Embora não seja fato consumado, é uma previsão que pode ter impacto real no dia-a-dia de nosso leitor.

O lide atribui claramente a previsão ao secretário: ‘O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, afirmou, nesta quinta-feira (15), que o consumidor deve sentir no bolso…’

Faltou ser destacado isso no título, e a redatora do UOL Economia responsável pela liberação do texto, produzido fora do UOL por uma agência terceirizada, já foi orientada a respeito.

Nosso objetivo é sempre oferecer contrapontos críticos a informações oficiais, de modo que o internauta tenha acesso a diferentes visões de qualquer tema. Nem sempre conseguimos fazer isso no mesmo dia, mas nos agendamos para acompanhar o caso.

Obrigado,

Armando’

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Sem bastidores nem edição (15/5/08)

UOL mancheta convite que, pelo jeito, ainda era sondagem

UOL mancheta ‘recusa’ de convite que, pelo jeito, não fora feito

UOL mistura tempos de apuração de reportagens

 

UOL sobe no muro e troca certezas por dúvidas

Foi bastante confusa (e lenta no momento-chave) a cobertura que o UOL deu à saída e substituição de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente. A home page do portal fez uma salada mista na cobertura: foi peremptória ao afirmar que Carlos Minc fora convidado ainda ontem, foi peremptória ao afirmar pela manhã que Minc recusara o convite, foi peremptória ao afirmar hoje que Jorge Viana fora convidado; depois, subiu no muro e trocou tantas certezas por dúvidas. O convite virou ‘sondagem’, ‘especulação’ e manteve-se assim mesmo quando toda a concorrência dava o nome do escolhido. O UOL foi o último portal a levar à sua home page a informação sobre, afinal, quem era o novo ministro. O internauta que se valeu dos destaques do UOL ficou perdido.

Ontem, após a demissão da ministra tornar-se pública, o UOL manchetou que o Planalto convidara Carlos Minc (secretário fluminense) para o cargo. A manchete não dava margem a dúvidas: ‘Lula convida Carlos Minc para substituir Marina Silva’. Naquele momento, teria sido mais correto adotar o prudente ‘Carlos Minc é cotado para o ministério’. Até porque outro nome estava na ‘bolsa de apostas de ministeriáveis’ do próprio UOL: Jorge Viana, ex-governador do Acre.

Hoje pela manhã, o portal manchetou ‘Carlos Minc recusa o convite para o lugar de Marina Silva’. (Na verdade, Minc deu uma entrevista à GloboNews, de Paris, em que narrava uma conversa que tivera com o governador Sérgio Cabral. Dizia ainda não conversara com o presidente Lula e que Cabral pedira-lhe que prometesse não aceitar um provável convite. No máximo, renderia um enunciado ‘Cotado, Minc diz ter prometido a Cabral não aceitar eventual convite’). Abaixo desta manchete, o UOL afirmava, ‘Lula convida Jorge Viana para assumir o cargo’ (dando, aqui, uma falsa impressão de causa-efeito, de Minc-recusa-convite-e-Lula-convida-agora-Viana. Na verdade, era um texto apurado ontem pelo jornal Folha de S.Paulo. O UOL deveria ter usado ‘Lula convidou ontem à noite Viana’). No começo da tarde, o UOL já não tinha tantas certezas. Trocou-as por dúvidas: ‘Lula sonda Jorge Viana e Minc para lugar de Marina’. O texto, um ‘cozidão’ feito pela redação, passou a tratar os antes ‘convites’ como ‘especulações’. Por volta das 15h, a concorrência já noticiava o nome do novo ministro: o mesmo Minc que, em manchete, recusara ‘o convite’ no UOL. Por cerca de meia hora o UOL manteve seus internautas desinformados, noticiando ainda ‘as especulações’.

No caso de demissão de um ministro, é natural que uma redação corra para saber quem será o substituto. É preciso muita reportagem de qualidade, com boas fontes, prudência e uma unidade na hora da edição. O UOL não teve nada disso. Sem reportagem de bastidores própria, o portal valeu-se de apostas distintas, misturando, na edição de sua home page e de seus textos, coberturas que apostavam em Minc como primeira opção e coberturas para quem Jorge Viana era a primeira opção e Minc, o plano B. Misturou em sua home page apurações de ontem feitas pelo jornal Folha de S.Paulo com textos de hoje, da Folha Online, sem deixar claro ao leitor a relação de tempo entre elas. Fez enunciados certeiros no lugar de condicionais.

Até agora, quem acompanhou as notícias destacadas na home page não sabe ao certo como se deram as negociações para a substituição de Marina Silva. Qual foi a ordem correta dos fatos? A se valer do que o UOL destacou em sua home page até as 16h30 de hoje, Carlos Minc recebeu o convite ainda ontem, recusou na manhã de hoje, virou apenas especulação no começo da tarde para, finalmente, aceitar o convite recusado horas antes. Já Jorge Viana era cotado ontem, recebeu um convite pela manhã (não se sabe que resposta deu), tornou-se especulação no começo da tarde e virou poeira com o anúncio de Minc.

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Metade lá, metade cá (12/5/08)

Home de Celebridades estréia novo projeto gráfico

Boa parte do site não acompanhou a novidade, causando estranheza

Mais uma estação foi alterada graficamente para o novo padrão do UOL, em que a área editorial ocupa mais espaço, em que há mais e maiores fotos e caixas para conter os conteúdos. Desta vez foi UOL Celebridades. Acontece que não houve migração de todo o conteúdo para o novo lay-out. Causa estranheza dois modelos convivendo numa mesma estação, um novo e outro velho. São bastante diferentes, a começar pela barra e menu que identificam a estação e suas cores. Parece que há algum erro. Convidada na sexta-feira a dizer por que optou por levar ao ar ‘meia nova estação’, a redação não respondeu. Alterou, apenas, a barra, unificando-a, mas ainda mantendo dois projetos gráficos distintos no ar. O internauta agradeceria com uma migração total.’