Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Um quadro desolador

O ponto alto do tema foi dado pelo Globo, na edição de domingo (15/5), na reportagem que foi manchete do jornal: dedicado à partilha de cargos entre suas várias correntes partidárias, o Congresso nacional deixa de cumprir sua missão constitucional. Em consequência da rotina negligente da Câmara e do Senado, cerca de 30 mil propostas legais esperam para ser votadas. Para zerar a pilha de projetos que aguardam decisão dos parlamentares, seria preciso um século de sessões ordinárias, calcula o Globo.


A reportagem se soma a outras notícias e artigos que analisam a falta de ambição do Parlamento, que vê sua função de legislar ser assumida pelo Executivo, por meio de medidas provisórias, e pelo Supremo Tribunal Federal, como aconteceu no caso recente do direito à união civil de homossexuais.


Ainda no domingo, a Folha de S. Paulo dedicou duas páginas a disputas entre os grupos da situação e da oposição, que tem como principal característica a falta de um debate realmente político. Por outro lado, o Estado de S.Paulo analisa a crise no PSDB e os movimentos na base aliada para reduzir o poder dos chefões do PMDB José Sarney e Michel Temer.


Sem consistência


Na edição de segunda-feira (16/5), a Folha dá sequência à crônica das articulações de bastidores com um suposto plano do senador Aécio Neves para criar um novo partido de oposição. Ainda na segunda, uma entrevista do novo superintendente da Polícia Federal em São Paulo ao Estadão, na qual ele fala sobre a infiltração do crime organizado no poder público, completa o quadro desolador.


Lido assim, transversalmente, como se tudo tivesse sido publicado no mesmo dia, o material trazido pelos principais jornais do país desde o fim de semana pode produzir no leitor atento um temor muito concreto: o de que o Brasil não possui instituições públicas suficientemente sólidas para garantir a democracia.


O quadro é composto por partidos políticos sem consistência ideológica, dominados por líderes que agem como chefes de bandos, um Congresso que não faz seu trabalho, e que quando resolve votar apenas cumpre os compromissos com os lobbies que financiam as campanhas eleitorais, enquanto a sociedade assiste a tudo isso como se fosse uma série da televisão.


Mais do que nunca, precisamos de uma imprensa que saiba ser realmente livre e independente.