Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Veja

CENSURA
Fábio Portela

O ministro da mordaça

‘O ministro da Justiça, Tarso Genro, é daqueles homens públicos que adoram a imprensa – desde que ela lhe seja servil e bajuladora. Quando uma notícia lhe desagrada, seu humor azeda. Genro padece da velha doença esquerdista de confundir o mensageiro com a mensagem. Foi o que ocorreu no início do mês, quando VEJA revelou que a maior autoridade do Poder Judiciário, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, fora grampeado ilegalmente por espiões da Agência Brasileira de Inteligência, uma repartição da Presidência da República. Diante de um fato tão grave, que ofende os princípios democráticos, esperava-se que o ministro da Justiça agisse para conter a grampolândia criada no interior do governo. Genro tomou outro caminho. Com aval do Planalto, urdiu um plano para amordaçar a imprensa. Enviou ao Congresso um projeto de lei que, sob a justificativa de combater escutas clandestinas, pune com quatro anos de prisão quem ousar divulgar o conteúdo de grampos – ou seja, os jornalistas. Os arapongas, autores das escutas no Supremo, foram deixados em paz.

Para Genro, a democracia jamais será boa o suficiente sem uma pitada de ditadura. ‘Uma sociedade humanizada só será realizada na sua plenitude quando o engenho humano unificar democracia e socialismo’, escreveu ele em março, em artigo destinado a rever o ‘legado de Lenin’, o tirano bolchevique, teórico e prático do terror como um braço do estado. Que um entusiasta da ditadura do proletariado tente calar a imprensa é esperado. É de seu DNA. Surpreende é que o desatino tenha ecoado positivamente. Em depoimento no Congresso, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, esqueceu a Constituição que ajudou a escrever como deputado e que jurou defender como ex-ministro do Supremo – ele atacou o sigilo de fonte jornalística, um princípio da Carta, e defendeu a imposição de pena aos jornalistas, a quem chamou de ‘vazadores de informação’.

O presidente da Associação Nacional dos Editores de Revistas, Jairo Mendes Leal, criticou a medida: ‘Os projetos apresentados pelo Poder Executivo são mais uma tentativa de obstaculizar o exercício jornalístico e a liberdade de imprensa e devem ser repudiados por toda a sociedade’. Não é a primeira vez que o governo petista tenta encabrestar a imprensa. Em 2004, gestou-se um monstrengo chamado Conselho Federal de Jornalismo, que, nos sonhos petistas, teria poderes para ‘orientar, disciplinar e fiscalizar’ os jornalistas. O projeto foi engavetado graças à reação vigorosa da sociedade. Só há dois tipos de imprensa: a que é livre e a que não é. Relativizar esse conceito é trapaça intelectual. Quando a imprensa é livre, ela permite ao cidadão monitorar e julgar o trabalho dos governantes. Se é refém, deixa de ter serventia à sociedade. Sob tutela, torna-se mero instrumento do poder. Essa última versão é a que faz suspirar o ministro Tarso Genro.’

 

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Uma frase inesquecível

‘Vender seu peixe é o objetivo primeiro da publicidade. Mas às vezes um comercial consegue ir além: não apenas anuncia as virtudes do produto, mas transmite um conceito de forma tão eficiente que acaba se incorporando à linguagem cotidiana de um país. Um desses casos extraordinários está documentado em O Primeiro a Gente Nunca Esquece (Planeta; 366 páginas; 79,90 reais), livro organizado pelo publicitário Washington Olivetto. Trata-se de uma coletânea de textos variados – artigos jornalísticos, crônicas, entrevistas –, com mais de cinqüenta autores que usam a expressão ‘o primeiro a gente nunca esquece’, consagrada em um comercial de sutiã criado pela agência de Olivetto em 1987.

REPERTÓRIO CULTURAL

Washington Olivetto achou sua frase empregada em textos de mais de cinqüenta autores

Com muita sensibilidade, o comercial da Valisère mostrava uma menina – interpretada por Patrícia Lucchesi, então com 11 anos – experimentando seu primeiro sutiã. ‘O primeiro Valisère a gente nunca esquece’, dizia o slogan do filme da W/GGK (hoje W/Brasil), agência de Olivetto, vencedor do Leão de Ouro do Festival de Cannes, entre outros prêmios. Exibido pela primeira vez depois do Fantástico, na Globo, foi o primeiro comercial de um minuto e meio a ser veiculado na televisão brasileira (o comum eram trinta segundos). Seu impacto pode ser aferido pelos textos compilados no livro de Olivetto, com adaptações da frase aos contextos mais inusitados. ‘A primeira Ferrari a gente nunca mais esquece’, dizia o piloto Ayrton Senna em uma entrevista – e Pelé fala o mesmo de sua primeira Copa do Mundo (será que a segunda pode ser esquecida?). Alguns citam expressamente a peça publicitária original (Agamenon Mendes Pedreira, personagem dos humoristas Marcelo Madureira e Hubert, fala até de um certo ‘Washington Olivetti, publicitário e máquina de escrever’). Outros, porém, nem sequer lhe fazem referência. É uma mostra de que a expressão ganhou vida própria. Liberta do sutiã, a frase se incorporou ao repertório cultural recente.’

 

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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