VENDA DA ABRIL
Economia e Negócios
‘O Grupo Abril, que edita VEJA, tem desde a sexta-feira passada um novo sócio, o grupo sul-africano Naspers, empresa com quase um século de tradição e faturamento anual de 2 bilhões de dólares. O grupo investiu 422 milhões de dólares na compra de 30% do capital da Abril, no que se tornou sua maior injeção de dinheiro realizada no exterior. Os novos sócios da Abril editam jornais, revistas, operam canais de televisão paga e são agressivos em internet no próprio país e em empreendimentos na China, Rússia, Índia, Grécia, Chipre e Tailândia. Com o fechamento do negócio, a Abril comunicou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a suspensão da operação em curso destinada a abrir o capital e que deveria gerar volume semelhante de recursos para o grupo. A transação com o Naspers incluiu a venda dos 13,8% do capital da Abril que pertenciam aos fundos de investimento administrados pela Capital International Inc. O ingresso de novos recursos permitirá à Abril reduzir substancialmente seu endividamento. Diz Roberto Civita, presidente do Grupo Abril: ‘Depois de cinco anos focados em pagar juros, finalmente poderemos voltar a investir para crescer e diversificar’.
O negócio da Abril com o Naspers só se tornou possível com a aprovação em 2002 da emenda constitucional que permitiu a entrada nas empresas de mídia de investimentos estrangeiros na proporção de até 30%. A Abril já fora pioneira ao vender, em 2004, 13,8% ao fundo Capital. Os novos sócios terão lugar no conselho de administração da Abril, mas Civita mantém o controle do negócio com ele e sua família, o que ainda lhe garante controle integral sobre o conteúdo editorial dos títulos que publica ou vier a publicar. Diz Civita: ‘Na Abril, a governança editorial é independente da governança corporativa, e as coisas vão continuar assim. Caso contrário, não teria fechado o negócio’. A Editora Abril foi fundada em São Paulo, por Victor Civita (1907-1990), que lançou em 1950 O Pato Donald, revista que seria apenas a primeira de dezenas de publicações que viriam a ser editadas nas décadas seguintes. Além da editora, fazem parte do grupo a TVA e as editoras Ática e Scipione. A Editora Abril é a maior empresa de publishing da América Latina. No Brasil publica seis das dez revistas mais vendidas e lidera em 22 dos 26 segmentos em que atua. Suas publicações chegam a 23 milhões de leitores, ou 54% do mercado brasileiro. VEJA tem a quarta maior tiragem do mundo entre as publicações semanais de informação e é a líder do gênero fora dos Estados Unidos.
Fundado na Cidade do Cabo, em 1915, o Naspers é o maior grupo de mídia do continente africano. Hoje a empresa é multinacional. Recentemente, o grupo adotou a estratégia de aumentar sua presença em países em desenvolvimento, associando-se a empresas locais na Rússia, na China e na Índia e agora no Brasil. Com forte atuação nos meios eletrônicos, sobretudo internet e TV por assinatura, o Naspers dará à Abril um novo dinamismo na produção e distribuição de conteúdo digital para outras mídias. Um dos projetos prontos para decolar é o que combina TV digital, internet e telefonia sem fio. Diz Roberto Civita: ‘É revolucionário’.’
MAINARDI vs. MINO
O mensalão da imprensa
‘‘Lula elogiou publicamente Carta Capital.
Para ele, a revista não praticava ‘o
denuncismo pelo denuncismo’ porque
‘não se preocupava com o mercado’.
Quem conta com 70% de publicidade do
Banco do Brasil, da Petrobras e da Caixa
Econômica Federal realmente pode
ignorar o mercado e os leitores’
O mensalão não é só para deputados. Há também o mensalão da imprensa. No último número da revista Carta Capital, quase 70% dos anúncios eram do governo federal. Lula sempre soube remunerar direito seus aliados. Carta Capital é o João Paulo Cunha dos semanários. O José Janene. O Valdemar Costa Neto.
Lula, dois anos atrás, elogiou publicamente Carta Capital. Para ele, a revista não praticava ‘o denuncismo pelo denuncismo’ porque ‘não se preocupava com o mercado’. Quem conta com 70% de publicidade do Banco do Brasil, da Petrobras e da Caixa Econômica Federal realmente pode ignorar o mercado e os leitores.
Carta Capital é de Mino Carta. Não dá para compará-lo a um João Paulo Cunha, a um José Janene, a um Valdemar Costa Neto. Ele está muito mais para alguém do porte de um Professor Luizinho. No fim do ano passado, Mino Carta publicou uma longa entrevista com Lula, e retribuiu os elogios do presidente, exaltando seus maiores atributos, como ‘Q.I. alto, bravura, carisma, belos propósitos, bom humor e ironia’.
Mino Carta costumava se referir a Lula em outros termos. Em 1994, entrevistado pela revista Interview, ele declarou o seguinte: ‘O principal defeito de Lula é a laborfobia. Lula não é suficientemente aplicado. Ele teve tempo para aprender algumas coisas e não o fez. Por exemplo, a falar melhor, a organizar seu raciocínio de forma sintaticamente mais consistente. Isso teria implicado leituras, estudo. Mas, a julgar pelo Lula que está aí hoje, ele não se aplicou. O melhor mesmo para ele é bater uma caixa no bar da esquina tomando uma pinga com cambuci’.
Mino Carta se aproximou de Lula apenas na campanha eleitoral de 2002, por meio do consultor Antoninho Marmo Trevisan. O mesmo Trevisan que intermediou a venda da empresa do filho de Lula à Telemar. O mesmo Trevisan que foi contratado para sanear as contas do PT. O mesmo Trevisan que prestou assessoria à CUT. O mesmo Trevisan que repassou trabalhos aos sócios de Luiz Gushiken. O mesmo Trevisan que selecionou o banco BMG para oferecer o crédito consignado.
Carta Capital tem praticamente a mesma tiragem que a revista do acupunturista de Geraldo Alckmin, mas seu peso político é muito maior, assim como seu faturamento publicitário. Os anúncios das estatais deram o resultado esperado. No último ano, Carta Capital tentou ajudar a aplacar a crise. Uma de suas estratégias, seguida por todos os blogueiros lulistas, foi acompanhar o termo ‘mensalão’ por alguma atenuante como ‘suposto’, ‘pretenso’, ‘enredo embolorado’, ‘jogo sujo’, ‘denúncia frágil’ e ‘sem provas cabais’.
O melhor argumento que os lulistas encontraram para desmentir o mensalão também apareceu em Carta Capital, numa entrevista de Wanderley Guilherme dos Santos. Ele disse: ‘É uma denúncia genérica. Há pagamentos mensais feitos pelo tesoureiro do partido etc. etc.’. Gilberto Gil, algumas semanas depois, sempre em Carta Capital, adotou o mesmo bordão: ‘Mensalão, caixa dois etc. são da prática do mundo’. Os etc. etc. dos lulistas encobrem mais da metade do Código Penal.
Lula venceu. O mensalão dos deputados e da imprensa foi esquecido. O que resta agora aos leitores é bater uma caixa no bar da esquina tomando uma pinga com cambuci.’
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Notícias portáteis
‘Há tempos se prevê que os jornais convencionais, impressos em papel, ganharão versões eletrônicas exibidas em telas portáteis. Esse projeto com ares futuristas está, pode-se dizer, deixando de ser futuro. Desde o início do ano, diversos jornais em vários países iniciaram testes. O primeiro a circular no novo formato, em fase experimental, é o belga De Tijd, especializado em economia. Há duas semanas, o jornal entregou telas portáteis, os chamados e-readers, a 200 de seus assinantes. Nos próximos três meses, esses leitores vão receber as notícias através de conexão sem fio com a internet, lendo-as como se estivessem impressas nos jornais convencionais. A tela dos e-readers é dotada de papel eletrônico, conhecido como e-paper. Essa tecnologia utiliza milhões de cápsulas microscópicas preenchidas com pigmentos claros e escuros que se movimentam quando ativados por uma corrente elétrica. Conforme a intensidade da corrente, os pigmentos mudam de posição dentro da cápsula e a imagem se forma por contraste na superfície da tela. ‘A vantagem do papel eletrônico é que ele permite uma leitura mais confortável e menos cansativa do que nas telas de cristal líquido’, disse a VEJA Nico Verplancke, gerente de pesquisa do instituto belga IBBT, parceiro do De Tijd no projeto da versão eletrônica do jornal.
Os projetos de jornais eletrônicos surgiram no fim dos anos 90, quando foram lançados os primeiros e-readers, destinados à leitura de livros, mas não seguiram adiante porque os aparelhos disponíveis na época eram pesados e desajeitados. Com o papel eletrônico, os e-readers ficaram mais leves e práticos. Como a eletricidade não é necessária para manter a imagem na tela, consomem menos energia das baterias, permitindo mais horas de leitura entre as recargas. A tela de papel eletrônico não apresenta aqueles reflexos indesejáveis que, em locais muito iluminados, atrapalham a leitura das telas de cristal líquido que equipam laptops, palms e celulares. O primeiro modelo de e-reader com papel eletrônico, o Librié, foi lançado pela Sony em 2004, mas, pouco funcional, o produto naufragou no mercado. No começo deste ano, a companhia japonesa lançou uma versão mais moderna do Librié, o Sony Reader, que deve ser utilizada pelos jornais eletrônicos.
Para seu programa piloto, o jornal De Tijd optou pelo e-reader iLiad, recém-lançado pela iRex Technologies, uma antiga subsidiária da Philips. O aparelho utiliza papel eletrônico como tela e lê praticamente todos os tipos de documentos digitais, como arquivos de texto e do tipo PDF. Os leitores podem se conectar a qualquer momento em busca de novas notícias, seja através de uma rede sem fio doméstica, seja de redes públicas como as disponíveis nos cibercafés e aeroportos. Basta apertar um botão para que o jornal seja atualizado automaticamente. A tela do iLiad é um pouco menor que uma folha de papel A4 dobrada ao meio, com 12,2 centímetros de largura por 16,3 de altura. O aparelho pesa 390 gramas e sua espessura é de apenas 1,6 centímetro. Além de armazenar até trinta edições eletrônicas do Tijd, o iLiad permite que se façam anotações sobre os textos. O dispositivo reconhece a escrita feita sobre a tela com uma caneta do tipo stylus, semelhante à dos palms. ‘As pessoas já se acostumaram a andar com celulares, laptops, iPods e câmeras digitais. O jornal eletrônico é mais um item nessa lista’, disse a VEJA Hans Brons, presidente da iRex.
Além de servir como atrativo para leitores mais jovens, habituados a buscar notícias na internet, o jornal eletrônico elimina custos com papel, impressão e distribuição. Diários de grande circulação, como o americano The New York Times, o inglês The Daily Telegraph e o espanhol El País, também estão testando dispositivos eletrônicos semelhantes ao do De Tijd. Em março deste ano, o jornal francês Les Echos apresentou um protótipo de versão eletrônica feito para o e-reader da Sony. ‘É uma evolução inevitável’, disse a VEJA o francês Bruno Rives, presidente da consultoria Tebaldo, que ajudou a desenvolver o protótipo. Outros jornais preferem esperar o aperfeiçoamento das telas flexíveis, que podem ser enroladas ou até mesmo dobradas. A tecnologia foi desenvolvida por várias empresas, entre elas a inglesa Plastic Logic e a holandesa Polymer Vision. Consiste em utilizar altas temperaturas para colar o circuito do papel eletrônico a um filme de plástico bem fino, tornando-o flexível. Esse tipo de tela está em fase de testes em protótipos e deve ser colocado à venda até o fim de 2007. ‘A tela flexível traz inúmeras possibilidades de design para o jornal, coisas que nem sequer poderíamos imaginar antes’, diz Hans Brons, da iRex. Alguns jornais também esperam a chegada de papéis eletrônicos coloridos. O iLiad da iRex trabalha com preto e branco, oferecendo até dezesseis tons de cinza, mas já existem versões de telas coloridas e flexíveis em teste. É improvável que as telas eletrônicas venham a substituir totalmente a versão impressa dos jornais, mas certamente serão uma alternativa atraente.’
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