Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Vergonhoso empréstimo

Constrói-se mais um vergonhoso empréstimo com o dinheiro do povo, que deveria ser para o povo. O governo orquestra envio de mais de R$ 1 bilhão àquela que sempre me pareceu ser uma ferramenta à disposição de todos os governos que se sucedem – a Rede Globo de Televisão. Não podemos permitir que isso aconteça.

Santiago Couto



Bombeiros da insensatez

O governo vai socorrer a mídia, por intermédio do BNDES. Vai abrir os cofres e distribuir caminhões de dinheiro, saídos dos bolsos dos trabalhadores. O banco, cuja função é fomentar o desenvolvimento econômico e social, funcionará como extintor de incêndio. Vai apagar o fogo ateado pela insensatez.

Em eras tucanas, o Brasil mudou temporariamente de hemisfério, ficou rico e chique. Aventureiros, sem medir riscos, embarcaram na primeira canoa encontrada. Queriam chegar antes. Seriam os únicos a desfrutar os favores das virgens. Logo ali, na outra margem. A canoa estava furada. Súbito, o naufrágio iminente. Quiseram tudo. Arriscaram. Perderam. Nós vamos pagar.

O capitalismo brasileiro é, como tudo o que acontece abaixo da linha do Equador, do avesso. Capitalismo moreno. Capitalismo linholene. ‘Parece linho, mas é Linholene’. Toalhinha de plástico vagabunda. Capitalismo selvagem para a maioria, generoso para os de sempre. Amigos do rei. Muito generoso. O capitalismo, desde que sejam respeitadas certas regras, segue as leis de Darwin, sobrevivem os mais aptos. No Brasil não é bem assim, na verdade o Brasil nem pode ser considerado um país capitalista.

Os grandes detentores de capitais sempre estiveram e sempre estarão atrelados ao governo, dependem dele, são naturalmente incapazes. No Brasil desconhece-se o risco do investimento, só se arrisca dinheiro do governo. Somos na verdade uma nação socialista. Socializamos os prejuízos. Prejuízos de poderosos sem talento. Parasitas que têm um cofre sem fundo à disposição. Quando há lucro, tome iates, jatinhos, Paris, Nova Iorque e todo o vazio presente nas colunas sociais. Em caso de prejuízo, BNDES.

A TV Globo está no centro das discussões. É uma empresa das mais competentes e sérias que há no mercado. Foi construída por profissionais talentosos e emprega gente da melhor qualidade. Infelizmente é uma exceção. Ilha de tranqüilidade em meio ao mar revolto. Merece atenção especial.

O correto seria mudar os controladores e manter a televisão no ar. Na prática, continuarão os mesmos donos, cujas dívidas serão zeradas. Daqui a 10 ou 20 anos começará de novo a história. Uma nova geração de incompetentes à beira da bancarrota, será socorrida pelo governo do momento. Socialista ou não, de esquerda, de direita, de centro, ou de alguma tendência nova, que por acaso venha a surgir. Governos são todos iguais. Governam para poucos, governam contra o Brasil. Um dia a casa vai cair!

Sidney Borges, jornalista



Tarefa divina

‘Há especificidades na relação entre programação e telespectador que são diferentes das que existem, por exemplo, entre pregadores e fiéis em seitas populares (…). Uma Igreja montada pela Globo talvez demorasse bastante para entender o seu rebanho.’

Se deus existisse, uma de suas maiores preocupações seria, certamente, a de proteger os mais incautos contra homens que não entendem as duas assertivas que encerram a matéria.

Sergio dos Santos, São Paulo



Silêncio covarde

Na verdade existe um silêncio covarde a respeito deste tema. As revistas Fale! e Carta Capital foram muito além da Record. Para falar deste tema é preciso ser mais do que um viciado em telenovelas. É preciso ter visão da crise que estamos enfrentando. O BNDES deve correr desta parceria com a mídia, ou ficará sem crédito perante a opinião pública. Vamos melhorar a TV estatal, criar empregos, investir na segurança e na saúde. Financiar a Globo com dinheiro público é fortalecer o monopólio, é retroceder no tempo. É preciso que haja no Brasil concorrência sem favorecimento ilícito.

Edilson Nunes dos Santos, técnico de eletrônica, Belo Horizonte

A Globo, o BNDES e a Record – Nelson Hoineff



GREVES FEDERAIS
O corporativismo é justo

A leitora Carmem Gomes Simioni, do Espírito Santo, indigna-se com o corporativismo da Polícia Federal e mais ainda com o ‘alto salário’ de R$ 4 mil que os policiais ganham, pois a média salarial dos brasileiros é de R$ 800. O que ela queria? Que os funcionários públicos nos contentássemos com, por exemplo, R$ 900 por mês? Se a iniciativa privada (e muitos governos, também) tira o sangue do trabalhador, deve o governo federal fazer o mesmo? Como a categoria (ou qualquer outra) vai enfrentar uma luta desigual sem corporativismo?

Nós, funcionários públicos federais civis (sou da Receita Federal), lutamos, desde 1993, por um reajuste de 28,86% que o então presidente Itamar Franco concedeu, irregularmente, apenas aos militares (os aumentos, naquela época, não podiam ser dados em separado). E até hoje não conseguimos, com corporativismo e tudo.

Ela diz que ‘nem jornalistas, que têm curso superior, ganham o que eles ganham’. Ela acha, por acaso, que a maioria de nós não tem curso superior? Esse, por sinal, é o motivo principal da greve dos policiais, pois, em 1996, uma lei estabeleceu que, para ingressar na Polícia Federal, é necessário ter curso superior. E muitos jornalistas ganham muito mais do que R$ 4 mil por mês. Quem paga nosso salário não é o povo, nem nós mantemos o povo na miséria para ganharmos ‘altos salários’.

Quem paga nosso salário é o governo, com o que arrecada de impostos. E nós, funcionários públicos, pagamos todos os impostos que qualquer outro funcionário paga, quando compramos uma caixa de fósforo ou um carro. Se formos pensar nesses termos, nós somos auto-sustentáveis.

Quem leva o dinheiro do povo é, por exemplo, a imprensa. Agora mesmo, a ‘mídia’ quer levar R$ 10 bilhões de reais do governo, dinheiro que pagaria, por mais de 16 anos, o aumento que os policiais federais pleiteiam. Quem é pago pelo povo são os jornalistas (de rádio, TV, jornal), funcionários públicos indiretos. Se os governos (federal, estadual e municipal) cortarem a verba publicitária, acabam com 99% da imprensa brasileira. Que, de resto, vive deixando de recolher impostos e tributos, inclusive a contribuição previdenciária. E vive mostrando o caos na saúde pública.

Dona Carmem: estar em situação melhor do que a de outros (como é o nosso caso em relação à grande maioria dos brasileiros) não significa estar bem. Quem come uma vez por dia está em situação muito melhor do que quem não come, mas nem por isso está bem.

Rogério Ferraz Alencar, técnico da Receita Federal, Fortaleza