Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

É hora de forjar uma maior conectividade nas Américas

Desde a última Cúpula das Américas, celebrada há quase três anos em Trinidad e Tobago, América Latina surpreendeu o mundo pela sua rápida recuperação após a recessão global. Não apenas crescemos mais que os países industrializados, como também reduzimos a pobreza a níveis mínimos históricos. Hoje somos, junto com a Ásia, um motor de recuperação econômica mundial.

Mas, além dos preços elevados e da demanda sustentada para nossas principais matérias-primas de exportações, o bom desempenho de nossos países também é fruto de duas décadas de difíceis reformas e de uma prudente gestão macroeconômica. Por isso, a América Latina é vista como uma região de extraordinárias perspectivas de progresso.

Para explorar essas oportunidades, e em antecipação da nova Cúpula das Américas neste fim de semana em Cartagena (o artigo foi escrito antes do início da cúpula), ocorrerá a primeira cúpula empresarial hemisférica. Participarão mais de 500 representantes de empresas dos Estados Unidos, Canadá e de 22 países latinoamericanos e caribenhos, em um evento convocado pelo governo da Colômbia, pelo setor privado do país e onde o Banco Interamericano de Desenvolvimento aportou seu apoio técnico. Durante dois dias dialogarão com uma dezena de chefes de Estado e de governo sobre como o setor privado pode ajudar a acelerar o desenvolvimento na América Latina.

Este ano, pela primeira vez na história, as economias em via de desenvolvimento importarão mais bens e serviços que o conjunto de todas as nações industrializadas. Não por acaso cada vez mais profissionais americanos, europeus e asiáticos buscam trabalhar em nossos países. Desde 2006, o Brasil duplicou o número de vistos dados a executivos estrangeiros. Temos multilatinas comprando grandes empresas americanas e canadenses, como nos casos de Bimbo com Sara Lee e da Vale com a Inco.

Dinamizar mercados

Além das matérias-primas, nossas exportações aos Estados Unidos e ao Canadá incluem uma grande variedade de manufaturas e serviços com valor agregado. Por sua vez, sete dos 10 países que mais incrementaram suas exportações aos Estados Unidos em 2011 são latinoamericanos. No ano passado, o comércio entre países das Américas alcançou cerca de US$ 1,6 bilhão. No BID, estimamos que esses fluxos poderiam ser duplicados em apenas uma década.

Para alcançar essa meta, devemos conseguir uma maior conectividade. Devemos ter como foco além de nossas grandes cidades, as indústrias mais rentáveis e os consumidores de maior poder aquisitivo. Uma conectividade mais profunda implica chegar com melhores produtos e serviços à base da pirâmide sócio econômica de nossa região.

Apenas por si própria, essa base forma um gigantesco mercado emergente. Ao manter a nossa média de crescimento econômico, em menos de uma geração teremos uma classe média de 500 milhões de pessoas, o equivalente à população atual da União Europeia.

Aqueles que querem posicionar-se nesse mercado deverão começar hoje a preparar seus planos estratégicos.

Mas as expectativas generalizadas dos latinoamericanos para alcançar uma melhor qualidade de vida já são evidentes. Nossos governos não podem fazer frente por si próprios a tais demandas populares sem pôr em risco a disciplina fiscal. O setor privado deverá ser parte da resposta, em alianças com o setor público.

A habitação é um caso paradigmático. Segundo um estudo que divulgaremos neste mês, a América Latina tem atualmente um déficit habitacional de cerca de 56 milhões de unidades, entre novas construções e moradias que precisam de melhoras substanciais.

Satisfazer essa demanda será um grande desafio, mas também uma grande oportunidade para toda a cadeia de construção. Para aproveitá-la, nossos governos devem ajudar a dinamizar os mercados de habitação, estimulando métodos de construção mais eficientes e alternativas como o arrendamento.

Serviços melhores

Uma maior conectividade também envolve o aproveitamento de novas tecnologias. O Rio de Janeiro, uma das principais sedes da próxima Copa do Mundo de futebol e dos Jogos Olímpicos de 2016, montou um centro de operações que permite monitorar as condições de trânsito e de segurança, entre outros serviços vitais. Medellín, antigamente uma das cidades mais violentas do mundo, utiliza a mais moderna tecnologia da informação para orientar a ação policial no combate ao crime. Essas experiências poderiam repetir-se em muitas outras cidades latinoamericanas, mas poucas têm acesso à infraestrutura da banda larga necessária. Portanto, outro objetivo será construir a “última milha” de redes de fibra ótica para implementar esses sistemas.

A agenda de desenvolvimento da América Latina certamente não se esgota com esses temas. Os desafios – e potenciais negócios – incluem também a necessidade de melhorar serviços públicos como transporte, a saúde e a educação. Mas se conseguimos impulsionar a conectividade, teremos dado um passo a mais até convertermos essa em uma região próspera. Essa é uma ambição para os moradores de todo o hemisfério. Esse é o desafio de Cartagena.

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[Luis Alberto Moreno é presidente do BID]