Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Sabatina põe Mendonça e Calil como candidatos

Situação inédita na sucessão à presidência da Fundação Padre Anchieta (FPA), dois candidatos se apresentaram aos membros do Conselho Curador como aspirantes ao cargo ocupado por João Sayad, cujo mandato vence no próximo dia 13/4. Além de Marcos Mendonça, ex-secretário estadual de Cultura e que já presidiu a FPA (de 2003 a 2007), manifestou-se também aspirante ao posto o ex-secretário de Cultura da gestão Gilberto Kassab, Carlos Augusto Calil. Os dois se submeteram na segunda-feira (29/4) a uma sabatina pelos membros do conselho, para debater propostas e soluções para as emissoras de rádio e TV da FPA.

Para formalizar sua candidatura, Calil terá de ser endossado por pelo menos oito conselheiros, até a próxima segunda-feira [6/5] , seis dias antes da eleição, marcada para o dia 13. Para se eleger, o candidato tem de ter ao menos 24 votos.

A dupla candidatura é anormal no âmbito da cultura porque normalmente o governador do Estado faz chegar aos membros do Conselho um nome de sua preferência e nenhum outro candidato se apresenta a partir de então. Desta feita, no entanto, o governador Geraldo Alckmin assegurou que não endossará candidatura alguma e parte do conselho, desconfortável com o retorno de Mendonça à FPA, quis procurar uma candidatura alternativa. “Eu nem sabia que o Calil era candidato”, disse ao Estado o presidente do Sesc, Danilo Santos de Miranda, membro do conselho da FPA, ao deixar a sala de reuniões onde a sabatina ocorreu, ontem pela manhã, na sede da FPA, no bairro da Água Branca. “Foi um debate com perguntas duras, mas elegantemente, tudo muito civilizado, com um citando o outro o tempo todo.”

“Entidade mística”

Além de Miranda, a sabatina contou com mais 21 dos 47 membros do conselho, entre eles, Lygia Fagundes Telles, Jorge da Cunha Lima, João Batista de Andrade, Modesto Carvalhosa, Luís Francisco Carvalho Filho e o presidente do grupo, Belisário dos Santos Jr. “Esta é uma situação inédita, e já valeu só pelo debate, foi de muito bom nível”, confirmou Belisário.

Entre os assuntos mais debatidos, esteve a busca por recursos alternativos à verba recebida do governo estadual, que anualmente deixa de R$ 70 a 80 milhões nos cofres da TV pública, e a independência editorial a ser resguardada, apesar desse repasse de verba. Houve consenso sobre a necessidade de se criar um modelo comercial que alcance identidade com a cultura, como fazia a MTV no passado – lembrou Miranda – e que não mais dê espaço a anúncios de varejo, apenas de caráter institucional. E, claro, há a questão das dívidas, do déficit de R$ 20 milhões a um contingenciamento de R$ 100 milhões. “Fechei três anos com superávit”, orgulha-se Mendonça, ao citar uma razão para voltar ao posto.

Calil, que chegou a negar ser candidato, disse que foi convencido a mudar de ideia porque membros do conselho manifestaram que não queriam retornar a uma situação que já viveram – referência à gestão Mendonça. Entre as defesas de gestão da emissora, ressaltou a necessidade de adequar a TV Cultura a uma geração que vai abandonando os hábitos de TV linear. “Os jovens não vão mais se submeter a uma grade. Existe uma entidade mística que é ‘baixar’. Temos que ver o que se pode baixar da TV Cultura?” E ressaltou a opção por um jornalismo ainda mais reflexivo, em detrimento do factual.

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Cristina Padiglione é colunista do Estado de S.Paulo