Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Internet vira parte da rotina de quem tem pelo menos 50 anos

A internet já faz parte da rotina da pensionista Alzira Augusto Araújo, 71. Há dois anos, no entanto, ela mal sabia ligar o computador. Pela rede social, troca mensagens, vê atualizações e mantém o contato com os filhos, netos e irmãos.

Alzira está entre os brasileiros com 50 anos ou mais que passaram a usar a rede recentemente. O total de pessoas que acessam a internet nesse perfil disparou 222% de 2005 para 2011, a maior alta entre as faixas de idade.

No período, o crescimento dos internautas entre toda a população analisada –com dez anos ou mais– ficou em 144%. Apesar dessa elevação, 53,5% dos brasileiros ainda não utilizavam a internet há dois anos.

O estudo, feito com base na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), foi divulgado ontem [quinta-feira, 16/5] pelo IBGE.

Os entrevistados foram questionados se tinham acessado a internet nos três meses que antecederam o levantamento.

“O Brasil ainda não conseguiu resolver a questão do acesso, mas isso está bem encaminhado. Os números são positivos, reflexo do aumento da renda e do barateamento dos equipamentos”, afirma Marcelo Coutinho, professor da EAESP-FGV.

Menos inseridos

A maior inserção dos mais velhos ocorre com o crescimento do uso da tecnologia. “Há cada vez mais a necessidade de se utilizar a internet, seja para fazer a declaração do Imposto de Renda, seja para acessar serviços bancários”, diz Cimar Azeredo, coordenador da pesquisa.

Assim como muitos idosos, Alzira, que mora em São Paulo, vê a internet como uma companhia. O ingresso na rede foi logo após a morte do marido. “Sentia-me solitária. Agora consigo ver o que meus filhos e netos estão fazendo, trocamos mensagens.”

Apesar do forte crescimento, o percentual de pessoas nessa faixa etária que acessaram a internet ainda é de 18,4%. Os mais conectados são os jovens de 15 a 17 anos (74,1%).

Também houve aumento significativo de internautas no grupo com renda de até um quarto de salário mínimo (R$ 169,50). Cresceu de 3,8%, em 2005, para 21,4%, em 2011.

Nessa divisão, estão desde jovens que ainda não têm renda até desempregados, que usam a rede para procurar uma ocupação.

Em relação ao uso de celular, a pesquisa mostra que o total de brasileiros com dez anos ou mais que não tinham aparelho era de 30,9% em 2011. Houve alta de 107% na comparação com 2005.

Por sexo, o percentual de mulheres que tinham celular para uso pessoal passou o de homens pela primeira vez em 2011: 69,5% das mulheres (60 milhões), ante 68,7% dos homens (55 milhões).

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Brasileiro usa menos a web que argentino

Os brasileiros não só acessam menos a internet do que pessoas de países ricos, como Canadá, como ficam atrás também de sul-americanos como argentinos e chilenos.

Segundo levantamento do CETIC.br (Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação), com base em da da ONU, 46,5% dos brasileiros usam a web, ante 83% dos canadenses e 77,9% dos americanos.

No caso dos argentinos, esse índice é de 47,7%, seis pontos percentuais menos do que no Chile.

Para o brasileiro, a pesquisa levou em conta quem usou a web nos últimos três meses. Para os demais, no período de 12 meses.

“O uso da internet no Brasil ainda precisa avançar muito, especialmente entre as famílias das classes de renda mais baixa”, afirma Alexandre Barbosa, gerente do CETIC.br.

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Mariana Sallowicz, da Folha de S.Paulo