Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Internet bate recordes e cresce nas classes C, D e E

A internet no Brasil não é mais a mesma. Recentemente, ultrapassou a marca de 105 milhões de usuários, a metade pertencente às classes C, D e E. O crescimento movimenta uma cadeia bilionária de negócios, com reflexos que vão da ponta do consumo aos investimentos em infraestrutura. Só o e-commerce de bens de consumo deve fechar o ano com faturamento em torno de R$ 28 bilhões, 25% mais do que no ano passado, um volume movimentado por cerca de 50 milhões de consumidores virtuais.

A estimativa da E-bit é de algo próximo dos 70 milhões de pedidos, com ticket médio perto de R$ 360, distribuídos entre 25 mil e 30 mil lojas formalmente estabelecidas. Dois destaques apontados pelo diretor geral Pedro Guasti no estudo Webshoppers são as redes sociais, responsáveis por 5% das compras virtuais, e a mobilidade, com 3,6%. “Há dois anos era menos de 1%”, diz. O presidente da Câmara-e.net, Gerson Rolim, aponta o crescimento da presença da classe C. “A faixa de maior destaque nos últimos cinco anos é a de pessoas com ganhos de até R$ 3 mil por mês”.

Os números da Nielsen Ibope refletem o gosto do brasileiro pelas redes. O alcance da categoria Comunidades, que engloba redes sociais, fóruns, blogs, microblogs, bate-papos e sites de relacionamento, chega a 83% dos usuários, bem à frente do segundo colocado entre os países em que a pesquisa é realizada – a França, com 72,6%. Eles dedicam ao segmento 11h12 mensais, bem mais do que aos portais (2h15) e aos buscadores (1h25). Na Alemanha, segunda no ranking, são 7h29.

Segundo o analista José Calazans, hoje o brasileiro gasta em média 50 horas por mês na internet, contra 40 horas em 2009. Além da classe C, ele destaca o crescimento de segmentos como donas de casa no perfil do usuário nos últimos anos, estimuladas por equipamentos trazidos para o lar por pessoas mais jovens. “São quase 5 milhões de usuárias ativas”, diz.

Dobro do tráfego

A pesquisa TIC Domicílios e Empresas 2012, do Comitê Gestor da Internet (CGI.br), comprova o crescimento no uso da internet. Mas indica algumas barreiras. Embora a penetração nos domicílios tenha passado de 18% em 2008 para 40% no ano passado, nas áreas rurais a presença da rede alcança apenas um em cada dez domicílios e ainda há disparidades regionais, com a cobertura ficando em 21% no Norte e 27% no Nordeste – que, no entanto, apresentou o maior crescimento entre as regiões, 27%.

Entre as classes sociais, enquanto a penetração em domicílios de classe A passou de 91% para 97% em quatro anos, na classe B foi de 58% a 78%, enquanto na C mais que dobrou – de 16% em 2008 para 36% em 2012. “A principal barreira ainda é o custo”, diz Alexandre Barbosa, do NIC.br, responsável pelo estudo.

Segundo ele, 44% dos usuários não possuem o serviço no domicílio por não ter como pagar, enquanto 25% acessam de algum outro local e 11% simplesmente não têm a habilidade necessária.

O estudo mostra que entre as empresas as tecnologias de computadores, internet e banda larga estão praticamente universalizadas, mas principalmente para atividades básicas, como e-mail, busca de informações e uso de serviços de governo eletrônico. Só 55% têm sites, a maioria oferecendo informações institucionais, e 16%, vendas pela internet. Mas 36% têm páginas em redes sociais. “O uso de software para modificar processos e adicionar valor à cadeia ainda é baixo”, aponta Barbosa.

O crescimento da banda larga é outro indicador da vitalidade da internet no país. O estudo Barômetro Banda Larga 2.0, da Cisco, contabilizou 25,8 milhões de conexões de banda larga no país no ano passado, 18,6% mais que em 2011. A velocidade média alcançou 4,68 Mbps, com migração de consumidores para planos de banda larga com velocidade maiores – no final do ano passado, 42% das conexões fixas eram de 10 Mbps ou mais. A estimativa é que em 2017 o número supere 42,6 milhões de conexões no total, com 52% da população conectada, acima da média mundial (48%).

A estimativa é que o tráfego IP dobre em cinco anos, com taxa de crescimento anual composta de 17%. O desempenho se espelha nas receitas das operadoras.

De acordo com Eduardo Tude, dirigente da consultoria Teleco, no primeiro semestre o faturamento das operadoras com banda larga fixa atingiu R$ 13,5 bilhões, mais da metade dos R$ 25,4 bilhões obtidos em 2012. Na banda larga fixa, foram R$ 4,7 bilhões nos primeiros seis meses de 2013, ante R$ 9 bilhões no ano passado.

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Martha Funke, para o Valor Econômico