Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Clarín x CFK, um duelo de titãs

Quinta-feira [31/10] em Buenos Aires uma cortina de nuvens negras encobre a cidade. A tempestade “Berta” se aproxima. A capital está acostumada a tempestades que tendem a varrer a cidade, deixando vários bairros inundados. No interior do estado, antes do meio dia, já faz sua primeira vítima.

No bairro de Barracas, ao sul da cidade, no entanto, outra tempestade se aproxima. Martín Sabatella, presidente da Autoridade Federal de Serviços de Comunicação Audiovisual (AFSCA), chega ao escritório do Grupo Clarín, onde dezenas de câmeras, repórteres e fotógrafos se acotovelam na entrada do prédio. É o fim de uma querela que já dura muitos anos, uma queda de braços entre dois titãs: o maior grupo de comunicação do País e o Governo de Cristina Kirchner.

Em jornalismo costumamos dizer que quando o cachorro morde o homem, isso não é noticia e sim se o contrário acontece. E, quando o cachorro morde o maior grupo de comunicação da história argentina, é a tempestade do século.

Sabatella chega ao Clarín com ares de triunfo já que, na quarta-feira, a Corte Suprema do país declarou ser constitucional a lei que restringe as concessões de grupos hegemônicos, como o Grupo Clarín, limitando, de maneira inédita, o poder do Grupo e tirando das mãos da organização uma série de licenças. De acordo com a lei, Clarín terá que abrir mão de uma boa parte de seus canais de TV, TV a cabo e rádio.

Tribunais internacionais

O Governo afirma que a lei possibilita maior pluralidade no acesso à informação, redistribuindo a licença entre meios menores. Segundo a administração de Cristina Kirchner, a medida garante que o Grupo perca hegemonia midiática, permitindo, assim, um acesso mais plural às fontes de informação. Um passo histórico, segundo o Governo, rumo à descentralização da notícia.

O detalhe aqui é que o Grupo e a Presidenta têm um longo histórico de desavenças.

Representantes do Clarín argumentam que a lei é uma vingança pessoal de Cristina. Consideram que a medida restringe a liberdade de imprensa e acusam o Governo de perseguição política e de tentar calar vozes dissonantes no País.

Segundo seu Chefe de Gabinete, Abal Medina, a Presidenta recebeu a notícia “com agrado”. Kirchner vem se recuperando de uma intervenção cirúrgica, sem nenhuma aparição pública há semanas, em período crítico já que, na semana passada, o País realizou eleições legislativas, quando o Governo manteve maioria no Congresso, mas perdeu bastante apoio na região de Buenos Aires, a mais populosa da Argentina.

O Clarín promete levar a querela aos tribunais internacionais. Enquanto isso, a tempestade Berta fecha o cerco a Buenos Aires.

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Gabriela Antunes é jornalista e mantém o blog Conexão Buenos Aires