Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A quem interessam as mudanças?

No nosso rádio, muitas mudanças vêm ocorrendo e muitas delas não são comunicadas ao público ouvinte nem discutidas com esses usuários, pois achamos que seria fundamental que o povo como público fosse inteirado das transformações e tivesse oportunidades de dizer o que pensa do processo em questão, pois afinal de contas o rádio é uma concessão pública que merece ser gerida pelos seus principais interessados: o público ouvinte. No rol das transformações que ora ocorrem, vemos que alguns programas foram retirados bruscamente do ar sem comunicação alguma aos seus usuários, como se estes não fossem nada diante do poderio de quem manda e tem poder.

A compra de emissoras por grupos religiosos tem sido uma marca forte dos dias atuais e agride consideravelmente a pluralidade cultural de nosso povo e o direito de escolha quanto a programas. No entanto, o que vem ocorrendo no rádio tem uma responsabilidade do poder público, que não fiscaliza as concessões nem as transferências que ocorrem de forma sorrateira e que acabam sendo efetivadas mesmo com protestos de quem realmente quer que o rádio seja fomentador da cidadania e represente os verdadeiros anseios populares. Há várias indagações que devem ser feitas aos personagens do mundo do rádio que se fossem respondidas gerariam um debate forte e que certamente contribuiria para uma transformação que seria benéfica aos que vivem do rádio e ao público que geralmente acompanha os programas e merece ser respeitado na essência de ser massa consciente que sabe a verdadeira finalidade do rádio desde a sua fundação até os dias de hoje.

Grupos que se apoderam do discurso da democracia

No rol das perguntas estão as seguintes: Qual a viabilidade econômica do rádio? Por que o rádio não tem sido transparente para os ouvintes? Proprietários de emissoras ouvem rádio? Qual a participação do público no rádio? Que segmentos da sociedade ouvem rádio? Claramente podemos afirmar que os que querem sucatear o rádio certamente jamais responderão a essas perguntas e o rádio continua sendo uma caixa preta perdida no horizonte da incompreensão e das atitudes que o destroem paulatinamente. É urgente que a sociedade se organize em prol de um rádio que respeite o público e seja rico em conteúdo, eficiente na qualidade de emissão e, sobretudo, transparente.

O rádio precisa rever urgentemente o processo nefasto do arrendamento que precariza as relações de trabalho e promove o seu uso por quem tem dinheiro gerando processos de aproveitamento político e religioso que nada tem a ver com o papel verdadeiro deste meio de comunicação. É preciso que se desenvolvam muitos debates e ações em cima da situação atual do rádio e que haja urgentemente movimentos em defesa do rádio e da democratização da comunicação que não pode ficar restrito a pequenos ensaios que geralmente só existem para promover grupos e segmentos de poder que hoje se apoderam do discurso da democracia nas comunicações e não movem uma palha pela defesa do rádio (vide FNDC, Intervozes, Adital e outros).

Egoísmo não é solução

A luta pelo rádio deve ser uma meta governamental e popular para garantir processos de melhoria deste meio de comunicação que hoje vem chegando às casas com mensagens que geralmente nada tem a ver com a família brasileira agredindo os ouvintes com palavrões, idéias preconceituosas de puxa-saquismo declarado a políticos e empresários desprezando claramente o público ouvinte que deveria ser a razão de ser do meio rádio. Sem ouvintes o que seria do rádio? Essa pergunta deveria ser feita aos personagens do rádio que às vezes desprezam opinião dos ouvintes, caçoam de suas idéias, distorcem suas opiniões e acabam realizam uma espécie de censura que mesmo velada é comum no meio rádio.

Nosso rádio merece respeito, consideração e muita luta para crescer e se fortalecer diante das agressões que estão aí sempre em nome do dinheiro, do poder e dos interesses religiosos que são comuns e acabam destruindo sua magia, seu glamour e seu papel que é histórico e merece ser considerado. Por que não se criam espaços para desenvolver a história do rádio? Nosso grupo que hoje procura representar os ouvintes (www.aouvir.com.br) já lançou a idéia do Museu do Rádio um espaço construído coletivamente para enaltecer o rádio e sua história, mas não conseguiu eco em sua proposta, pois parece que o egoísmo ainda toma conta dos que se dizem guardiões da história do rádio. Egoísmo não é solução para a melhoria deste meio, pois a meta de valorização do rádio deve ser perseguida por todos para o bem das comunicações e para um mundo baseado na justiça e na igualdade que tantos bradam e pouco fazem para acontecer.

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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE