Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Acusado de espionagem pode ser julgado semana que vem

O julgamento de Ching Cheong, correspondente do jornal de Cingapura Straits Times acusado de espionagem e preso na China desde abril de 2005, pode ocorrer na segunda-feira (31/7) da semana que vem, segundo informou sua esposa, Mary Lou. O caso de Cheong vem em um momento em que o premiê chinês Wen Jiabao tenta aliviar as restrições às empresas de mídia locais.


Cheong foi detido quando tentava obter um manuscrito do ex-chefe do Partido Comunista Zhao Ziyang, que fora destituído do cargo e preso por se opor ao massacre da Praça da Paz Celestial. Ziyang estava em prisão domiciliar desde junho de 1989 e morreu em janeiro deste ano. Segundo uma declaração do governo chinês datada de maio de 2005, Cheong, que também possui nacionalidade britânica, admitiu ter trabalhado para ‘agências de inteligência internacionais e ter aceitado grande quantia de dinheiro por espionagem’.


Entretanto, grupos internacionais de defesa da liberdade da imprensa e sua esposa acreditam na sua inocência. Se for considerado culpado, o repórter pode ser condenado à morte. Juliana Chong, porta-voz do grupo Singapore Press Holdings, proprietário do Straits Times, afirmou que a empresa espera que as acusações de Cheong sejam retiradas em breve e que ele ‘seja solto o mais rápido possível’. ‘Nós estamos pedindo informações das autoridades chinesas, mas ainda não fomos informados de nenhum detalhe’, revelou Juliana por e-mail em 21/7.


Casos sem solução


Zhao Yan, pesquisador do New York Times em Pequim, também está detido pela polícia. Em setembro de 2004, ele foi acusado de violar leis de segurança nacional do país após o New York Times publicar a notícia exclusiva da saída do ex-presidente Jiang Zemin de seu cargo de diretor da Comissão Militar Central da China, seis meses antes de ele renunciar ao posto. Joseph Kahn, chefe do escritório de Pequim do NYTimes, afirmou que Zhao não ajudou o jornal a obter a informação de Jiang.


O governo removeu formalmente acusações contra Zhao em março deste ano, antes da visita oficial do presidente Hu Jintao aos EUA em abril. Promotores retomaram o caso contra Zhao sem explicação, afirmou Mo Shaoping, advogado do pesquisador. O veredicto no caso Zhao, marcado para ser entregue um mês após o dia 16/6, atrasou e a corte de Pequim não explicou os motivos do atraso, observou Shaoping. Todos os processos do julgamento ocorreram a portas fechadas. Se condenado, Zhao poderá receber uma sentença de 10 anos de prisão.


Protesto global


Ambos os casos atraíram condenação internacional de grupos de direitos humanos que acusam líderes chineses de manter um estrito controle da informação e de forçar as empresas de internet e de mídia internacionais a cooperarem com as regras de censura do país. Ao mesmo tempo, a China adota a postura de conseguir aceitação como uma nação que age de acordo com regras internacionais.


Mais de 20 grupos de jornalismo internacionais, incluindo a ONG Repórteres Sem Fronteiras, assinaram uma carta no dia 20/7 pedindo a libertação de Cheong. ‘Qualquer movimento legítimo apoiando sua libertação é bem-vindo’, informou em declaração a porta-voz do Singapore Press Holdings, no dia 21/7. O governo chinês estaria fazendo ‘um bem para si próprio se liberasse Cheong’, observou Serenada Woo, porta-voz da Associação de Jornalistas de Hong Kong. Informações de Allen T. Cheng [Bloomberg, 24/7/06] e de Jim Yardley [The New York Times, 26/07/06].