Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Cobertura de campanha pede cautela

A campanha política americana foi mais uma vez tema de coluna [2/12/07] do ombudsman do New York Times, Clark Hoyt. Na semana passada, o NYTimes divulgou uma acusação do pré-candidato presidencial republicano Rudolph Giuliani contra o rival, também republicano, Mitt Romney, informando que as ocorrências de crimes violentos – incluindo assassinatos – subiram em Massachusetts durante seu governo. O jornal publicou a resposta de Romney, negando a acusação. ‘Quem está contando a verdade? Eu quero fatos e não é a primeira vez que o NYTimes me desaponta’, diz Hoyt.

O jornalista Michael McElroy levou dez minutos para checar as estatísticas do FBI disponíveis na internet. Os índices de assassinatos realmente sofreram um aumento nos quatro anos em que Romney foi governador – de 173 em 2002, ano anterior a sua posse, para 186, em 2006, quando terminou seu mandato. Um acréscimo de 13 assassinatos não parece ser um número alto em um estado com população de 6,4 milhões de pessoas, mas, como ainda assim é um aumento, a afirmação de Giuliani estava correta. Porém, o índice de crimes violentos – categoria que engloba assassinatos, estupros e assaltos – diminuiu na administração de Romney – de 31.137 para 28.775. Neste ponto, Giuliani estava errado.

Checando fatos

Em época de campanha eleitoral, é essencial checar todos os dados que aparecem, aconselha Hoyt. Acusações falsas contra candidatos, divulgadas por empresas de mídia, exercem impacto sobre a campanha daquele candidato, afirma Larry Sabato, cientista político da Universidade da Virgínia. Richard W. Stevenson, editor do NYTimes encarregado da cobertura da campanha presidencial, concorda. ‘Acredito que temos a responsabilidade de filtrar as acusações conflitantes e dar aos leitores uma percepção mais acurada de quem possivelmente está certo e quem está errado nas acusações’, diz.

Na semana passada, após Romney ter acusado Giuliani de administrar uma ‘cidade santuário’ para imigrantes ilegais quando era prefeito de Nova York, e Giuliani, por sua vez, ter acusado Romney de ter uma ‘mansão santuário’, porque empregava imigrantes ilegais em sua casa, o NYTimes tentou esclarecer a base das acusações. Quando era prefeito, Giuliani continuou com a política do governo anterior, que protegia imigrantes ilegais de autoridades federais de imigração quando, por exemplo, denunciassem algum delito. Em relação a Romney, o Boston Globe divulgou no ano passado que ele usava uma empresa de jardinagem que contratava imigrantes ilegais da Guatemala.

Trabalho árduo, mas necessário

O NYTimes publicou 19 avaliações de anúncios políticos na TV desde o Labor Day, em setembro, e alguns repórteres receberam a missão de checar as afirmações dos candidatos nos debates na TV. Em algumas ocasiões, o jornal fez um bom trabalho; em outras, deixou de mostrar que alguns dados eram errôneos.

Hoyt concorda que dá trabalho checar declarações de oito candidatos democratas e oito republicanos, em especial quando os repórteres estão viajando com os políticos e escrevem sob a pressão do deadline. Para resolver este problema, alguns diários americanos – como o Washington Post e o St. Petersburg Times – destinaram repórteres em tempo integral para checar tais afirmações, como o NYTimes fez em 2004. Segundo Stevenson, o jornalão de Nova York fará o mesmo após as eleições primárias, quando forem definidos os candidatos que irão para a disputa final pela Casa Branca.