Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Começou o abafamento

Neste domingo, os jornais começaram o processo de abafamento do caso Waldomiro Diniz. Contra a palavra proferida, a seta lançada e a oportunidade perdida, não há remédio, o estrago está feito. A informação é relativa no Brasil, informa-se o que é possível de ser informado, o cerne da questão fica nas entrelinhas, quando as há.

Não fazendo parte de grupos e não tendo preferências partidárias, procuro observar com isenção e daí tirar conclusões, no melhor estilo do mestre Newton, fazendo as devidas ressalvas, já que o que observo é mutável no tempo. Não há como formular leis, nem como repetir fenômenos.

A Globo tentou mudar os fatos mais de uma vez. Ignorou até não mais poder, o movimento Diretas-Já. Tentou mudar o resultado das eleições que levaram Brizola ao governo do Rio de Janeiro, com o lamentável "Diferencial delta". Tentou, por meio de edição, reforçar a posição de Fernando Collor de Mello quando do debate com Lula na campanha de 1989. A Globo tem tradição governista, qualquer que seja o governo, pode-se mesmo criar o aforismo: se há governo, sou a favor. A exceção é Brizola.

Agora a Globo, imbuída dos mais elevados ideais, buscando servir ao país, faz uma denúncia gravíssima contra o homem forte da República, mais forte até do que o presidente, afirmação baseada na observação, tão científica quanto possível. É sabido que a Globo está quebrada, deve bilhões de dólares, e está com processo de falência tramitando em Nova York. A única possibilidade de salvação é o governo. Vou repetir a frase, não há como sair da situação se não houver ajuda governamental.

É, portanto, estranho que, cutucando a onça com vara curta, parta dela, uma denúncia tão incisiva contra o comissário Dirceu, sabidamente homem de não levar desaforo para casa. É por isso que afirmo: Há algo nos ares além dos aviões de carreira. A Globo tem um trunfo na manga. Ou então enlouqueceu de vez.

Sidney Borges

 

E a transparência?

O poder é algo que realmente muda as pessoas. Fora do governo os petistas exigiam o que chamavam de transparência por parte da imprensa. No poder sequer respondem a qualquer crítica dos eleitores, sobretudo o Sr. José Genoíno. Exemplo: acusam – já ouvi pela CBN – o Estado do Rio de ter péssimas administrações. Esquecem que foi o PT que alavancou a candidatura Garotinho, intrometendo-se no estado em nível nacional e boicotando os candidatos legítimos do partido para beneficiar o grupo Benedita da Silva. Votei no casal Garotinho/Bené por conta de apoiar sempre as orientações petistas. Hoje, no poder, prejudicam o Estado do Rio em nome das desavenças com a governadora que, de certa maneira, ajudaram a eleger.

Eliana Cavalcanti

 

Povo azarado

É este o governo comprometido com as causas democráticas e sociais? A intenção do "Rasputin tupiniquim" de controlar a imprensa e o Ministério Público, os dois maiores amparos com os quais a sociedade brasileira conta, soa como algo irreal, para não dizer ridículo. Faz lembrar uma frase de um ex-governador da Bahia, Otávio Mangabeira, quando queria se referir a algum fato esdrúxulo: "Pense em algo excêntrico, inusitado, em algum absurdo qualquer, ele já aconteceu na Bahia". Êta povo azarado este povo brasileiro, hein?

Luiz Carlos Santos Lopes

 

Casta inatingível

O político brasileiro entende-se uma casta inatingível em função de privilégios que se outorga com a produção de leis absurdas e em causa própria. A autoconvocação do Legislativo, ou a convocação pelo Executivo sempre será uma situação e um procedimento de covardia com o cidadão assalariado e por quê? A nação brasileira acompanha há muito tempo e há muito tempo discorda da gazeta que eles praticam, do tempo que ficam em plenário votando, do tempo que usam em manobras que invariavelmente são contrárias ao interesse do eleitor e privilegiam grupos e siglas, da curta semana de trabalho, em Brasília e também nos parlamentos dos estados da Federação e proporcionalmente a conta-prestação mensal, isto sem contar com os "pianistas".

Um dos exemplos mais absurdos é o projeto de lei do deputado pela Bahia Sr. Jutahy Magalhães, se não me falha a memória, que proibirá a imprensa de criticar a ação desses senhores. Ou seja, eu posso fazer a imoralidade, a indecência ou ilegalidade que for e ninguém poderá me criticar. (…) Por isso o Poder Legislativo é uma das entidades de menor credibilidade do Brasil. (…)

Lúcio Reis

 

A imprensa se investiga

Muito interessante o artigo de Michael Massing na New York Review of Books http://www.nybooks.com/articles/16922 sobre a conivência de parte da imprensa americana (incluindo o NYT) com fontes suspeitas, cover up de dissidências na comunidade de informações que acabaram ajudando a legitimar os planos de Bush para invadir o Iraque. O artigo é todo bom, mas é particularmente patética a desculpa de Judith Miller, do NYT:




Asked about this, Miller said that as an investigative reporter in the intelligence area, "my job isn’t to assess the government’s information and be an independent intelligence analyst myself. My job is to tell readers of The New York Times what the government thought about Iraq’s arsenal." Many journalists would disagree with this; instead, they would consider offering an independent evaluation of official claims one of their chief responsibilities.

Flávio de Carvalho Serpa, editor do Caderno de Informática de O Estado de S. Paulo

 

Sejam úteis

Sou estudante de Jornalismo e moro em Salvador. Verdadeiramente, quem assiste aos telejornais ou se depara com os jornais impressos pensa que o Brasil se resume a corrupção e inúteis tramitações políticas. E ridículo que um cidadão comum, desprovido de informações políticas e sociais suficientes para analisar ou mesmo saber do que se trata determinado assunto seja submetido a uma mídia exclusivista. O Brasil é muito mais do que política ineficiente, que é o conteúdo explícito da maioria dos jornais. O que é realmente necessário à população não é veiculado como deveria. Mergulha-se em burocracia em detrimento das mais básicas necessidades do povo. Que os profissionais de hoje e os vindouros se conscientizem da sua responsabilidade social e sejam úteis à população.

Felipe Blanco Godeiro da Silva

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