Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Desastres, imprecisões, reflexões

Nas campanhas do referendo de domingo no horário gratuito não há equilíbrio, há excesso de recursos midiáticos, de marketing e propaganda e uso de ‘celebridades’. O que realmente deveria ser estimulado não acontece: o debate. Não há debate de idéias e as pesquisas que são apresentadas falam mais em ‘grande parte’, ‘a maioria’, percentuais, sem mostrar ao cidadão os números para uma análise real de tais pesquisas. Para completar, uma desastrosa (des)contribuição da revista Veja que, desta vez, perdeu feio para CartaCapital, Época e IstoÉ.

Dois artigos que saíram no jornal O Estado de S. Paulo, porém, me fizeram refletir bastante sobre o assunto. Um, do escritor João Ubaldo Ribeiro, intitulado ‘Vou votar contra’ e outro do Dom Cláudio Hummes, ‘O referendo popular sobre desarmamento’, a favor. Dom Cláudio utiliza referências bíblicas, direcionando seu raciocínio na busca da paz. É óbvio que não se é contra a paz. Mas acredito que o conceito de paz esteja longe de ser alcançado apenas com a aprovação popular desta lei.

O início da solução

A questão da violência doméstica, por exemplo, pode não ser resolvida com a proibição do cidadão de ter uma arma em casa. Em primeiro lugar, é preciso pensar se esta arma estava legalizada, e se seu dono tem porte regular. E, na hipótese de o dono da arma deixar de mantê-la em casa, caso a lei prevaleça e ele a obedeça, nada o impede, visto que a violência é pré-existente à arma, do uso de armas brancas, como faca, canivete, marreta etc.

Também não sou a favor de que estejamos armados. O meu ponto de vista é que este direito não deva ser eliminado pelo Estado. João Ubaldo Ribeiro faz a seguinte pergunta: já pensaram no peso de consciência dos bandidos como portadores ilegais de armas?

O mais perturbador é considerar que a violência não será eliminada, independentemente do resultado do referendo do dia 23. A solução, ou melhor, o início da solução está na mudança do ser humano. E isto só é possível com a diminuição da desigualdade econômica, social, cultural e política, ao meu ver, nesta ordem. Enquanto muitos tiverem pouco (dinheiro, acesso gratuito à saúde, à educação, à cultura) e poucos tiverem muito (dinheiro que dá acesso à saúde, à educação, à cultura), não será a legislação a ferramenta capaz de proteger a sociedade.

Educação e bangue-bangue

Finalizo trazendo ao debate uma das idéias apresentadas pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, no programa Roda Viva (TV Cultura) da segunda-feira 10/10. Para Chávez, a educação é um dos pontos principais para o crescimento de seu país. Dados publicados no site Adital afirmam que, ‘em apenas seis meses, o governo da Venezuela conseguiu alfabetizar 1 milhão de pessoas em 2003, através do projeto intitulado Missão Robinson (de Samuel Robinson, o pseudônimo de Simón Rodríguez, professor do libertador Simón Bolívar) (…) Já existem 690 mil pessoas incorporadas à Missão Robinson 2, que pretende levar os estudantes para além da alfabetização, para que alcancem o quarto grau em 10 meses e com 10 meses mais concluam o sexto grau e estudar outro idioma e computação’. O programa cubano implantado na Venezuela utiliza vídeos e trabalha com ‘facilitadores’.

Resta ver e analisar, qual é a prioridade do governo brasileiro e como ela é implantada realisticamente. No quesito educação, por exemplo, vemos escolas sucateadas, professores mal remunerados, alunos sujeitos à violência, às drogas, ao abandono. O resultado do referendo afetará este quadro?

Outro ponto interessante é assistir a uma propaganda pelo Sim e, imediatamente após, no canal de maior audiência no país, ver uma telenovela intitulada Bang Bang