As redes privadas de TV vivem do dinheiro que arrecadam dos anunciantes e patrocinadores. Como estão mais comprometidas com suas sobrevivências, as companhias fazem qualquer coisa para valorizar os intervalos comerciais. Assim, a qualidade da programação vem em segundo lugar.
A disputa entre Record e Globo não vai necessariamente beneficiar os telespectadores. Com ambas se engalfinhando por causa do pote de ouro no final do arco-íris, o resultado pode ser o inverso.
A fórmula do jornalismo 24 horas já é uma velha conhecida. O Ted Turner encantou o mundo ao criar a CNN, triunfou com a Guerra do Golfo, mas algum tempo depois seu império noticioso deixou de ser tão interessante.
É literalmente impossível sustentar uma programação jornalística só com novidades. Então as redes de TV que se dedicam exclusivamente ao jornalismo têm que requentar a mesma notícia várias vezes. E ao fazerem isto elas se tornam mais cansativas do que a internet.
Nem tudo está perdido
A baixa interatividade da TV brasileira e a concentração de poder na mão de duas ou três grandes redes nacionais também provocam distorções. As grandes redes não se interessam por temas locais. De que adianta o cidadão saber o que ocorre no Oriente Médio ou em Mianmar em tempo real se aquelas realidades distantes não reclamam nem possibilitam sua intervenção? Além disto, ao concentrar sua atenção num local distante onde os telespectadores não podem interferir, a mídia televisiva distancia os cidadãos das realidades do seu bairro, da sua cidade, ou seja, dos locais em que eles poderiam atuar em benefício próprio e de suas comunidades.
A competição jornalística entre as grandes redes tende a trazer para nosso cotidiano mais notícias desnecessárias. Se a Record fizer a melhor cobertura política da Ásia, a Rede Globo pode acabar se esforçando para cobrir em detalhes a fauna e flora da Austrália. O resultado será curioso e desastroso. Nós nos tornaremos especialistas em questões políticas chinesas e aprenderemos como alimentar cangurus, mas as ruas de nossos bairros continuarão esburacadas e os prefeitos e vereadores a fazerem o que bem entendem (e muitos entendem apenas de traquinagens, que usam para se apoderar do dinheiro público enquanto ficamos boquiabertos diante da TV).
Mas nem tudo está perdido. A guerra das TVs pode acabar se tornando uma programação tão chata que muitos telespectadores desligarão suas caixinhas luminosas sonorizadas e passarão a cuidar melhor de suas próprias vidas.
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Advogado, Osasco, SP